A renúncia coletiva do EU

E porque não pensar que pudéssemos ser mais? Mais que secretários ou professores, mais que pais e filhos, mais do que ocupantes dos meros papéis sociais aos quais insistimos em nos resumir, sempre minimizando o fato de que há em nós um poder/desejo quase que inevitáveis para sonhar.

Nós nascemos e crescemos simultaneamente, claro, sabemos que no sentido fiel da palavra só se nasce uma única vez, porém sem mencionar as nebulosas fases da vida em que nos é provado o contrário, como as transições do desenvolvimento humano ou as descobertas identitárias que encaramos como perpétuas prisões da introspecção(ela presente em cada despertar da consciência).

O crescimento por si só é contínuo; independe da aceitação que decidimos fantasiar ou simplesmente responsabilizar a tradicional biologia ou mesmo as ciências do comportamento, da psiquê.

Entretanto, não se apropria da própria consciência aquele que raramente assume a veracidade de seus desejos, os sonhos ocultos aos quais silencia no fiel travesseiro todas as noites, a fim de camuflar aquilo que hoje chamamos de "doce ilusão"; 'doce' porque afaga o instinto que clama pela autorrealização e 'ilusão' por constantemente afirmar ser incapaz de concretizar.

Então me questiono por qual razão o homem frequentemente limita tudo aquilo que sente e pensa? À essa hora, onde estão as atípicas causalidades como pessoas, coisas e lugares que nos proporcionam este acesso mútuo reprimido? "Mútuo" pois não se conecta à conteúdo algum de forma íntegra quando individualmente, por mais subjetivo que seja esse conteúdo. Dispersos ou inertes à realidade experimentada por outrem, nós tudo expressamos como forma de entregar, expor aquilo que transborda. Afincamos as memórias de longo prazo à aprendizagem coletiva, aos relacionamentos. A massa é uma constante irreversível e aquele que nega sua inclusão na mesma, só foge e luta incansavelmente contra si mesmo.