A dor é a fração do amor ou "Como eu rasguei o meu embrulho"
Eu não sou o mesmo, nunca fui, acontece que cada experiência moldou meu caráter até aqui, seja ela qual for, um emprego, uma formatura acadêmica e inclusive um relacionamento amoroso. Beijos, carinhos, um toque da ponta dos dedos no rosto dela, o contato dos seus lábios no pescoço dela, um olhar de ternura e um semblante apaixonado, tudo isso embrulhado no que se convenciona a chamar de amor.
A verdade que não se convém a noticiar é: o amor "embrulhado" é vazio, ele se apresenta em um papel presente lindo e com uma adorável fita colorida, você pondera o que pode existir ali dentro, quais as possibilidades? É o que você deseja? Será que é frágil? A visão encantadora do embrulho nos leva a hesitar em abrir aquele presente e encarar essas dúvidas. Mas por que embrulhamos presentes? O fazemos para tornar coisas comuns em algo absolutamente extraordinário e com o amor não seria diferente.
Como todo presente ele perde o encanto quando se abre, ele perde aquele toque especial que despertou o nosso interesse em primeiro lugar, ao "desembrulhamos" o amor, percebemos a dor que existe lá dentro, no fundo, diante de todas as dúvidas. Temos as inseguranças, o medo, a vaidade e a arrogância em achar que aquilo seria especial para sempre, não é, torna-se comum, amar é condição e não uma façanha prodigiosa.
É custoso encarar a dor, mas extremamente necessário. Minha experiência com o amor foi pouco ortodoxa, como tudo na minha vida, diga-se de passagem, foi também atrapalhado, confuso e superficial. Eu tive várias experiências frustrantes, já me magoei e já magoei outras pessoas, esse texto é sobre isso, sobre a importância de encarar as mágoas dentro de um relacionamento e sobre quando entender se é construtivo ou destrutivo. O construtivo é aquele que leva a um novo entendimento, uma nova interpretação sobre aquele amor depois de rasgado o pacote, é sobre melhorar o que pode ser melhorado e aceitar enfim o que não se consegue melhorar. O outro, o destrutivo, esse eu posso falar com mais propriedade, eu o vivi, é quando você termina tudo o que construiu com uma pessoa, não porque deixou de gostar, mas porque já se tornou extremamente doloroso carregar um processo de mudança que não traz melhoria e não cumpre as expectativas de ambos. Ele é o mais ressentido, não apenas pelo fato de se encerrar tudo mas por evidenciar que vamos aprender da pior maneira possível a como passar por essa dor novamente em um relacionamento futuro, de maneira construtiva, é sobre aceitar o fracasso e os erros do atual para melhorar em um futuro e quando olhar para trás, entender o que poderia ter feito de diferente, é aquela frustração que você vai carregar pelo resto da vida como um fardo até encontrar alguém que faça essa dor fazer algum sentido.
Acredite, estou cheio desses fardos. O que me resta é tirar uma nova lição de cada um deles e seguir tentando de experiência por experiência, até que tudo faça algum sentido. Se não rasgou o seu embrulho ainda, talvez seja hora de considerar, afinal, a dor é a fração do amor.