UMA CONFISSÃO SOBRE O MOMENTO...

Nós sabíamos que não seria fácil e que não seria como nada do que já havíamos visto, ouvido ou passado. Éramos jovens. Ainda não conhecíamos as tragédias de perto, só tínhamos ouvido falar. Nada, porém, como sentir na pele: o desespero, a dor da perca, a incerteza e o suspense.

Não estávamos preparados para isso. Para as mudanças que se seguiram e que afetaram nossa forma de viver e se relacionar. Havia algo no ar, um clima diferente, uma sensação de que tudo estava em suspensão segurando a respiração. Tudo o que se podia sentir era a sensação do estranho e da paranoia rondando nossa mente e nossa razão, nos testando e tentando.

Algo de muito errado pairava pelas ruas; não eram as pessoas que faltavam, nem os carros, motos, ônibus ou qualquer outra coisa. Era o silêncio, que incomodava a todos e trazia uma sensação de vazio.

Mas, como o cérebro humano é brilhante sob pressão e perigo e quando corremos riscos nos transformamos, surgiu de tudo isso um milagre fabuloso: as pessoas davam mais valor ao seu tempo, a si mesmas e aos seus familiares e próximos. Paravam para ler, meditar e refletir, ouvir música, tocar e produzir música, escrever, sentar-se debaixo de uma árvore e olhar o céu ou deitar-se numa rede.

Sabe, até de um mal pode vir um bem, não significando, porém, que este mal fosse preciso ou inevitável. Somente aconteceu; e como aconteceu, nos despertou para essas coisas. O bom seria se nos déssemos conta de que para darmos valor a algo não precisamos perder.

Hugo Morais (josé urias)
Enviado por Hugo Morais (josé urias) em 27/03/2020
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