PIB - Duas Críticas
O PIB é a sigla de “Produto Interno Bruto”, o indicador mais usado por políticos e pela mídia para avaliar as políticas econômicas de um país. Quanto mais um país produz em um determinado período maior seu PIB. Um país com um PIB mais alto que outro produz mais do que outro. Em geral se considera que os habitantes do país são ricos se o PIB por pessoa é alto. Ou seja, a Suíça tem um PIB bem menor do que a China, ainda assim o PIB per capta é bem maior do que o chinês, de maneira que esperamos que em geral os habitantes suíços sejam mais ricos que os chineses. É um índice importante e informativo, entretanto apresenta uma série de problemas. Elencarei apenas dois que costumam ser esquecidos pela mídia, pelos formuladores de políticas públicas…
A primeira e mais contundente crítica é a de que o PIB só contabiliza o que é comercializado. Se eu faço um bolo e o como com o maior prazer do mundo só o preço dos ingredientes entra no PIB (pois os comprei). Mas o bolo, por mais que seja gostoso, ficará fora do PIB. Da mesma maneira se eu alugo uma quadra para jogar futebol o aluguel entra no PIB, se eu jogar na rua ou em uma quadra pública esta partida ficará fora do PIB. Se eu e uma outra pessoa tivermos uma transa maravilhosa isto ficará fora do PIB, caso eu contrate outra pessoa para transar comigo (prostituição) o sexo entrará no PIB.E por aí vai: o ar puro que eu respiro está fora do PIB, uma boa conversa com um amigo, uma caminhada em um parque… Esta consideração é muito importante pois se todos estes serviços e produtos fossem cobrados o PIB estaria bem maior, mas a riqueza pessoal seria menor.
A segunda crítica é a de que o PIB é não uma medida estocástica. O PIB mede o que foi produzido no período, não o que foi acumulado. Então se o Estado se endivida, a população se endivida, as empresas se endividam e todos gastam muito, então o PIB será alto. Como o PIB só considera o que foi produzido o endividamento não entra na conta. Ou seja, naquele período o PIB estará algo (indicando riqueza), mesmo que as pessoas tenham se endividado comprando bens perecíveis. Ou seja, nesta circunstância hipotética (e pela qual o Brasil passou diversas vezes) o crescimento do PIB indicará que o país enriqueceu quando sua população empobreceu.
Ainda em relação à segunda crítica (de que o PIB não é uma medida estocástica). Podemos imaginar uma circunstância oposta. Um país que passa anos com o PIB estagnado passa a imagem de pobreza. Entretanto sua população pode ter uma gorda poupança, talvez até em outros países. Ou mesmo ter um grande patrimônio construído dentro do próprio país. Por exemplo, as famílias talvez não ganhem bem. Mas cada pessoa tem uma casa própria excelente com excelentes móveis, água abundante de graça, móveis excelentes, excelente roupa de cama, ferramentas (a casa própria o PIB tenta capturar ao estimar um aluguel que você paga a você mesmo, mas isto é impossível com o patrimônio em geral que as famílias acumulam ao longo de gerações).
Ou seja, o PIB é um indicador útil, mas usá-lo cegamente incentiva a monetizar tudo (uma maneira liberal de inflar o PIB) ou ao endividamento (uma maneira keynesiana de inflar o PIB). Em ambos os casos o PIB é inflado com um empobrecimento inicial da população. Os liberais dirão que haverá um efeito de segunda ordem que enriquecerá a população caso tudo seja privado, os keynesianos dizem que haverá um efeito de segunda ordem que fará a população enriquecer com o endividamento geral. Mas os efeitos de segunda ordem destas políticas ficam fora do escopo deste ensaio.
Você o que acha? Já pensou a respeito destas duas críticas ao PIB? Concorda que estas críticas costumam passar despercebidas pelos políticos e pela mídia?