A PESTE E SUAS REFLEXÕES

A PESTE E SUAS REFLEXÕES

O mundo está vivendo mais uma assombrosa pandemia. Afetando, incontrolavelmente, rotinas, comportamentos e perspectivas. Diante de um cenário de destruição e morte, muitos questionamentos vêem atona numa espécie de confrontamento espiritual. Enquanto as autoridades governamentais estão adotando medidas (muitas delas sob o desespero) para conter a peste que avança absurdamente, profundas reflexões costumam emergir em meio à crise que ameaça nosso mundo. Mundo este "pragramado" pelo homem para que repousássemos sobre o conforto de suas próprias mãos. Que vivêssemos dias mais seguros; e eis que tudo lhes escapam entre os dedos. Diante de um mundo idealizado e globalizado, acordamos em meio a decretos, vetos, isolamentos, confinamentos, abalos econômicos e etc. Um auto-exilamento em meio a iminência da morte. No romance de Saramago, "As intermitências da morte", o caos se instala porque a morte é suspensa, desencadeando assim, uma série de efeitos catastróficos no âmbito socioeconômico. Na vida ultra-globalizada, a morte nunca fora tão temida e evitada com o advento do novo Covid-19. Talvez nossa condição de vida seja reduzida ao básico ou quiçá, ao mínimo. Nosso apego exarcebado ao material seja a oportunidade de confrontarmos aquele egoísmo que nos controla. Que a dessocialização imposta por um microorganismo que não conhece fronteiras, amplie nossa visão do humano e das relações como um todo. Esperamos que antes de chegarmos ao nível do afloramento dos instintos básicos de sobrevivência - onde a barbárie geralmente impera - crie-se uma noção de nação-pátria/coletivismo para fortalecer os meros mortais da peste que nos assolam. As diferenças políticas, ideológicas, de gênero, religiosas e afins, são searas que nos arrastam às reflexões profundas sobre o mundo que estamos cultivando e trilhando. Porque se a peste tem o poder de nos apartar fisicamente, que no plano espiritual, ético e humanístico, nos unam num sentido único pela sobrevivência de um planeta que há décadas está em declínio. Em dias de desgraça e desolação, nossa interioridade passa ser o campo mais visitado e analisado. Pois, a perspectiva do mundo externo foram estreitadas, onde fronteiras e liberdades estão em xeque. Restou-nos a reflexão de um mundo que experimenta seus dias mais apocalípticos.

Juliano Siqueira
Enviado por Juliano Siqueira em 22/03/2020
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