Colapso da informação

Sou professor universitário e sinto-me alheio à tanta informação disponível para acesso virtual. Sofro de uma síndrome ainda rara: isolamento social virtual. Não uso boa parte das redes sociais virtuais: Instagram, Facebook, Twitter e, acredite, nem mesmo WhatsApp. Mas, não estou completamente sem redes sociais virtuais. Se você ainda não sabe, existe a possibilidade de trocas de mensagens por “SMS” (não sei se esse é o nome correto!). Sou do tempo em que ligava para falar com as pessoas e depois evolui (?) para a mensagem de texto. Enfim, não pretendo catequizar ninguém, nem romper com dogmas e paradigmas. Afinal, não ter redes sociais virtuais não me eleva a condição de herói ou revolucionário, pelo contrário, mais fácil ganhar um diagnóstico ou rótulo. Por isso, já poupei essa reflexão e já nomeia a minha síndrome.

Bem, agora me cabe dividir com você alguns pontos que, para mim, ainda estão e são obscuros neste momento de isolamento social coletivo. Aviso: não se trata de repudiar a medida preventiva frente ao coronavírus. Coloco luz sobre o obscuro.

Hoje recebi uma mensagem de texto (sim, não é somente eu que uso, as empresas também usam) falando sobre a oscilação do mercado e sugerindo um investimento financeiro. Fiquei chocado, não pela possibilidade de ganhar dinheiro, mas caiu minha ficha do óbvio: fazer viver e deixar morrer. Não vou teorizar, quem quiser procure por Michel Foucault, ele é o cara. Resumo, entre mensagens do banco, de empresa de investimento financeiro e de amigos (sim, alguns poucos se correspondem comigo!) falando do coronavírus, pensei, vivemos um tempo de um grande desafio: a comunicação. Sim, eu sei, estou chovendo no molhado. Mas, espere, a minha síndrome aguço os meus sentidos, afinal, se uso pouco as redes sociais virtuais me resta interagir e observar aqueles que estão ao meu redor. Percebi que muitas pessoas estão com dificuldades de se olharem. Sim, a tela do celular captura muito o olhar. Há algumas boas esquetes do grupo do YouTube “porta dos dos fundos” mostrando isso (sim, eu olho YouTube!). Pessoas que estão com dificuldades até mesmo para falar. O que pensam os/as fonoaudiólogos/as sobre isso?

A comunicação coletiva melhorou no século XXI? Depende! Temos melhor e mais sofisticados instrumentos tecnológicos, o que levar a crer que sim, que houve uma melhoria. Contudo, já reparou que estamos interagindo menos em encontros “presencias”. Não deve ser por acaso que a educação a distância é um mercado promissor. A presença do outro salienta uma coisa que no virtual tenho uma falsa sensação: o controle sobre mim.

No contato com alguém preciso mediar um diálogo, enquanto, no contato virtual posso “escolher” o momento de dar retorno, esse “tempo” de responda cria um outro tipo de diálogo com uma mediação controlada, talvez até menos espontânea. A presença exige ato e ação, o virtual exige espera e suposição.

Reitero, não se trata de defender o abandono dos celulares e redes sociais virtuais (aí sim, já teria uma internação compulsória para mim), mas abrir, a partir desta “oportunidade” de isolamento social que uma pandemia cria, para problematizar como vivemos sem a presença do outro. Imagine nós, por exemplo, sem internet. Dá medo? Bem, não sei o que você pensa sobre isso, mas gostaria de saber. Uso e-mail para comunicar (contraditório? Antiquado?). Manda um e-mail para mim (carlosgarciajunior@hotmail.com) e “curte” e “compartilha” esse texto para seus amigos e familiares. Afinal, nestas horas pode ser interessante ter um indivíduo com síndrome do isolamento social virtual. Namastê!