INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO (Parte II). Dedico ao amigo, jornalista Ribeiro Filho
O título deste texto evidencia o termo investimento. Falamos disto? Sim. Não seria preciso haver, logo de início, utilizado a palavra, ela está implícita, implícita a todas as coisas da vida material e até à preparação para a vida espiritual. Não é por esse motivo que as religiões precisam e pedem ou cobram participações financeiras? Até mesmo a Bíblia cita o dízimo, mas não necessariamente referindo-se a dinheiro em espécie: “Todos os dízimos da terra - seja dos cereais, seja das frutas - pertencem ao Senhor; são consagrados ao Senhor. Se um homem desejar resgatar parte do seu dízimo, terá que acrescentar um quinto ao seu valor. O dízimo dos seus rebanhos, um de cada dez animais que passem debaixo da vara do pastor, será consagrado ao Senhor”. (Levítico 27:30-32).
No caso da Educação, o dízimo do cidadão é o imposto, a cada dia mais alto e menos visível sua aplicação em obras sociais. Claro que nem é preciso refletir muito para se haver observado ao longo da vida que o comum, o corriqueiro é que as famílias se preocupassem e continuem se preocupando em dar escola para os filhos. Sobre a temática, o que não falta é cientista da Educação produzindo suas pesquisas e tirando suas conclusões, todas transitórias como a existência. Os pais são os primeiros pedagogos em nossas vidas, entendendo ou não do métier. São eles, quer pobres ou ricos, que pensam logo sobre qual profissão exerceremos na idade adulta e se seremos bem-sucedidos pessoal e profissionalmente. Isto é, se ficaremos bem de vida. Há chances, sim, mas não sei se eu saberia estimar em que patamar e para quais crianças existem as sonhadas portas abertas para a segurança do futuro. Um porvir sem patrão. Isto sim, que povoa o imaginário de quase todos nós. Almas escravas existem, entretanto, como levantou o filósofo grego Aristóteles. Ou por outra, uma sociedade precisa de quem comande, de quem seja comandado, e até da guerra para ter a paz: “Se vis pacem, para bellum”.
Quanto aos itens qualidade e quantidade, a Professora Maria Lima apregoou e fez da qualidade a sua ladainha; e da quantidade o empecilho para o alcance do que se considerava uma boa formação educacional. Até hoje os seus ensinamentos ecoam no meu cérebro, mas, em contrapartida, passei a entender que mais crianças, jovens e adultos deveriam ter chances de entrar para o mundo dos estudos. Alguns caminhos de boa qualidade e outros de questionáveis propósitos foram sendo desenhados até por gente que nada entende de educação, que menospreza seus legítimos representantes. Dessa forma, foram se alargando as portas do ensino e da aprendizagem sem que os cuidados técnicos e intelectuais fossem preservados, levados em conta. Algo como se tantos se tornassem médicos desautorizados a cuidar da saúde educacional dos alunos. E se fosse com a saúde física ou a psicológica, brincariam tanto? Por falta de respeito às áreas do conhecimento humano e aos profissionais preparados é que a educação não se concretiza a contento, pacientes não se recuperam de seus males físicos, a depressão ceifa vidas e edifícios desmoronam.
Não é recomendável esbanjar o dinheiro público sem planejamento consciente em Educação, menos ainda usar verbas com objetivos voltados à política eleitoreira. Para ilustrar a questão da convivência qualidade e quantidade, rememoro que a turma do Curso de Letras no qual me graduei tinha apenas vinte universitários, sendo dez de Português/Inglês e outros dez de Português/Francês. Era, portanto, além de protegido por verbas, burguês, altivo, seletivo e excludente. Não investiguei em busca de conferir se a inclusão melhorou o nível do Curso de Letras, mas sei bem que o corte de disciplinas importantes trouxe prejuízos aos acadêmicos e aos que seguem a trilha do magistério. As estatísticas demonstram o empobrecimento da juventude na leitura, na escrita e na interpretação de textos. Mas uma fábula em dinheiro tem sido investida na aquisição de livros didáticos e outros materiais. Falta algo para além da precariedade da formação para o magistério, mas o mal maior é a sede de vender livros e mais livros, livros que são lançados ao lixo, incinerados e otras cositas más. Na disputa pelo mercado poderoso alimentado pela coisa pública, além do universo do papel, ingressa o universo das tecnologias modernas. Mais investimento em material e menos na valorização da carreira do professorado e dos técnicos em educação, isto é, mais falta de planejamento, plano e supervisão didático-pedagógica.
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