"Era uma vez..."
Não há como evitar certas fases.
Hoje, por exemplo, queria escrever
uma história de trás para frente.
“E viveram felizes para sempre”.
O sempre não existe. E a felicidade
não é assim tão extensa.
Então, o início de minha história
já teria alguma alteração.
“E morreram buscando a felicidade”.
Será que conseguiram? Aí é que está.
A felicidade é feita de momentos.
E os momentos são esféricos.
E por serem bem redondos, quando
entram no jogo, rolam. Quicam.
Encontram obstáculos quando
rolam soltos. Não acredito que
conseguiram essa felicidade.
Nem muitos momentos esféricos.
O contexto de uma história
com esse início, seria também uma
chuva de orvalhos, com o ácido
da ebulição. De repente, os personagens
não teriam uma identidade. Tanto podiam
ser você, eles, eu... Mas todos estariam nela.
Com nossas buscas. Entre as fases poderia
inverter inclusive a genética. Nasci de uma
árvore. Sou o ramo. Ou a folha. E o que seriam
os outros? Ele veio da luz. Ela da fornalha.
Eles vieram da rua. Das esquinas inteiriças.
Das cinzas. Do ouro. Da pedra. E ficam ali
sem se saberem, debruçados na sacada.
Esperam o quê? O roliço momento.
Nada muda. Então sem muita história
copio o início.
“Era uma vez...”