Vida Limitada

Sentindo a inevitável proximidade do suicídio, em seu desespero rotineiro removeu de sua vida tudo que fazia sentido

Na mais vil das atitudes lançou desdém e indiferença para as pessoas que faziam parte de sua vida

Isolou-se cada vez mais na tentativa de ser esquecido

Sua monótona e inepta vida tornou-se mais negra e insignificante

Outrora rico, hoje vaga pela penumbra, dorme nos bancos, não mais luta por nada, apenas busca manter-se vivo, respirando por mais alguns momentos

Quando iniciou o destrato a si mesmo, apercebeu-se que seus conhecidos, que outrora chamara de amigos, foram sumindo, são amigos da sanidade, sua loucura não os agradava

Seu plano solitário dera certo

Sua loucura fora uma criação de sua mente para afastar essas pessoas de sua vida e o deixar cometer suicídio sem entristecer ninguém

Sua loucura fora uma forma de afastá-los de modo sutil, para que eles não sentissem de forma tão abrupta o baque de sua morte

Como a loucura foi uma criação dele mesmo, será que ele seria capaz de libertar-se dela? Ou precisaria de alguma pessoa para ajudá-lo?

Mas como permitir ser ajudado sem ser aprisionado? Como deixar a pessoa penetrar em sua vida sem aprisioná-la também?

Os limites de sua vida limitariam a vida de quem o ajudasse

Por mais vontade que tenha de aceitar ajuda, de buscar alguém para compartilhar os momentos tristes e quiçá alguns felizes, ele não suportaria limitar a vida de alguém, a morte lhe sorria mais forte do que a ideia de aprisionar uma vida na sua

Realmente não havia saída para ele

A única forma de realmente sobreviver seria aceitar a solidão, mas para viver dessa forma seria necessário gostar de si

Necessário viver consigo mesmo

E ele não gostava, não se sentia capaz de nada, não tinha força, nem inteligência, nenhuma habilidade, nem méritos, impossível gostar de si mesmo, impossível fazer alguém gostar e precisar dele

Toda sua vida lhe passou ante os olhos

Os amigos que ele conseguiu afastar, os amores que nunca conseguiu viver, a família que conseguiu decepcionar

Nesse momento tudo pareceu claro, sua vida nunca foi importante, ninguém nunca precisou, nem ele aguentava sua própria companhia mais, por isso o desejo pelo suicídio

Inevitável

Mas o fim da vida não traria tristeza para ninguém, ao menos nenhum lamento sincero

O alívio que sentiria seria maior do que as dores sentidas por quem ficou

No fim, o suicídio traria mais benefícios

Por isso o fez, por isso quando cometeu o ato, deixou apenas as seguintes palavras:

"Nunca fiz parte do mundo

Nunca quis fazer parte do mundo

Mas queria que uma parte do mundo tivesse feito parte de mim"

Arthur Plath
Enviado por Arthur Plath em 26/01/2020
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