DEUS, UM CONCEITO!

E se a verdade que você prega for apenas uma ilusão coletiva?

Por Antônio F. Bispo

É muito comum entre os que se autodenominam salvos ou escolhidos por deus, perguntarem aos “perdidos” se eles acreditam nele. Porém esse tipo de pergunta é muito vaga e sem sentido, pois seria o mesmo que perguntar atualmente se alguém acredita se existem automóveis.

A resposta mais conveniente para ambas as perguntas seria: “Qual deles”? Vale lembrar que os carros existem, são palpáveis e apesar de também serem um produto feito para suprir algumas necessidades humanas, o automóvel tem efetiva funcionalidade, estendendo-se para os mais diversos segmentos incluindo a indústria, o comércio, o lazer e tantas outras áreas e que trouxe evolução e progresso para nossa espécie.

Num passado distante quando as interações humanas virtuais e físicas entre diferentes povos ainda era algo remoto, esse tipo de pergunta, apesar de tola vinha mais a calhar, pois praticamente a maioria das pessoas nasciam, cresciam, viviam e morriam debaixo de uma mesma bandeira, sob um mesmo dogma religioso do início ao fim de suas vidas.

Nesses tempos obscuros, o conhecimento humano era limitado pela igreja e permitido sua difusão à conta gotas, na maioria dos casos para fins de controle das massas ou para sustentar de modo tosco sua suposta autoridade episcopal. Os maiorais do clero viviam dizendo em que as pessoas deveriam ou não acreditar, e punindo severamente aos que resolviam se aventurar além das fronteiras estabelecidas pelo por eles.

Muita coisa mudou e nos dias atuais, perguntar se alguém acredita em deus, a depender do contexto da conversa, esse tipo de pergunta não faz mais sentido algum, pois o acesso ao conhecimento assumiu formas nunca antes vistas e muitos podem constatar por conta própria que há um panteão de deuses diferentes do passado e do presente e (com suas inutilidades) são venerados pelos mais diversos tipos de pessoa, cada uma com interesses diferentes quase sempre tentando fazer proselitismo para o deus qual dizem servir.

Hoje em dia ao perguntar do nada se alguém acredita ou não nele, pode deixar transparecer um certo nível de arrogância, prepotência fanatismo ou ignorância. Deuses existem aos milhares e todos os dias surgem tantos outros, pois diante dos mais diversos fatores externos ou internos do homem para como o homem, do homem para com o universo ou como forma de escapismo, as pessoas sempre procuram nos entorpecentes uma forma de “viajar”, de fugir dos seus problemas ou de tentar esquecê-los.

Assim como o álcool, ervas e diferentes misturas com efeitos alucinógenos, a constituição de seres imaginários para soluções de problemas reais não deixa de ser uma forma de entorpecer, fazendo com que a pessoa se torne mais confiante ou irresponsáveis diante das situações da vida que enfrentam.

Para estes, quando algo dar certo, foi deus quem ajudou. Quando não, foi por que deus o quis ou o diabo atrapalhou! Desse modo, o (louco) que vive “guiado por deus”, quando comete crimes conscientes e friamente planejados contra outros, sempre terá o apoio e perdão social pois “deus estava no controle de sua vida”.

Diferente do ateu, cuja responsabilidade pessoal é sempre assumida por ele mesmo, o que se esconde “atrás de deus”, terá sempre um álibi para se esquivar quando “pecar” e quando descumprir de modo proposital tudo o que a “santa palavra” o instrui, a comunidade (dos loucos) ali estará para orar junto a ele para que deus o receba e o perdoe por algo que este fez quando estava justamente sendo guiado por deus. Dá pra entender?

Se alguém estar sendo guiado por deus e comete delitos “contra deus” e contra os homens, o erro é de quem? De deus quem o guia o de quem estar sendo guiado? Se o erro é de deus, orar para que deus corrija um erro cometido por ele mesmo é chamá-lo de burro. Se o erro é do humano, orar para que deu perdoe um erro cometido pelo homem que ele guiava é chama-lo de incapaz...Melhor então dizer que os mistérios de deus são insondáveis e que não cai uma folha de um árvore se assim ele não o permitir. Parece mais inteligente e encerra a discursão para quer demonstrar um certo nível de intelectualidade teológica.

Dá um nó na cabeça tentar entender coisas como essas. Na verdade quase tudo no universo dos seres mistificados é uma tremenda loucura que só pode ser explicado com uma palavra: FÉ! Toda igreja que se preza põe a fé acima da razão e desse modo não se faz necessário dar nenhum tipo de explicação. Quem não entende ou não crer, basta colocar rótulos pejorativos que a pessoa se redime ou se retira, silenciando-se as vezes para não entrar em conflitos inúteis com seres em estado de pura irracionalidade.

A fé, considerada como sendo um tipo de dom, uma habilidade diferenciada concedida pelo próprio deus (Hebreus cap.11), para uma pessoa de mente sã, esta poderá ser considerada como uma licença para o autoemburrecimento com o consentimento do estado com possibilidade de diversas condecorações públicas a depender do nível de insanidade empregada.

Os que já amadureceram um pouco ou se libertaram das amarras dos que usam a tirania no controle de pensamento para se manterem em suas posições de poder e influência, estando de fora desses locais chamados de apriscos, são capazes de conceber deus como sendo apenas um conceito. Um conceito que pode ser moldado de acordo com as intenções de quem vende ou da necessidade de quem compra.

Quando perguntarmos por exemplo para as pessoas comuns sobre quem ou o que é deus, as respostas mais prováveis sempre serão: “deus é amor”, “deus é justiça”, “deus é luz”, “deus é bondade”, “deus é o salvador”, “deus é o pai de todos”, etc.

Os que possuem uma maior escolaridade ou se permitem conhecer um pouco mais sobre outras linhas de pensamento sobre esse assunto certamente dirão: “deus é energia”, “deus é tudo o que existe”, “deus é consciência”, “deus é a força primordial do universo”, etc.

Não importa qual seja a resposta, nunca duas ou mais pessoas farão as mesmas descrições acerca do que seria deus, pelo menos sobre o deus bíblico.

A menos que os tais façam parte de um grupo cuja mente fora previamente programada para respostas curtas e “objetivas” ou que estejam em posse de um roteiro, elas farão descrições diferentes sobre esse tal suposto ser de acordo com os próprios conceitos enraizados.

É impossível alguém em sã consciência, descrever algo que nunca fora visto, que ninguém sabe como de fato é e nem de onde veio. Quando deus, segunda a própria bíblia, “ele mesmo” se diz ser único, subtende-se automaticamente que não há nada com o que possa ser comparado e nem tão pouco nada que possa ser usado como referência.

A paranoia é o elemento recorrente comumente mais usado quando querem descrevê-lo “com perfeita exatidão”. Quanto mais paranoico alguém for ao tentar descrevê-lo, mais apreciado será este e seu nome poderá ser imortalizado seja para o ódio ou “amor” dos seguidores atuais e posteriores à sua geração.

Todo movimento religioso é uma tentativa (fracassada) de descrever deus. Há centenas desses conceitos no Cristianismo, judaísmo e islamismo sem falar em outras religiões, todas elas tentando explicar ao seu próprio modo, algumas de forma bem bizarra um conceito comum, diferente a todos.

A exemplo dos conceitos cristão, quantos movimentos religiosos você conhece? Á grosso modo, considerando ordens de cavalaria, ordens monástica, conceitos filosóficos dos primeiros 3 séculos do surgimento da igreja, passando pela reforma e contra reforma até os dias de hoje, poderíamos citar mais de 200 movimentos diferentes, todos eles tentando explicar uma única coisa: A EXISTENCIA DE DEUS E SUA INTERAÇÃO COM OS HOMENS.

Todo movimento religioso se de divide, se ramifica, se expande ou se contrai de acordo com a época e local, e toda igreja nova que surge é sempre o resultado de alguém tentando trazer a existência o inexistente e de explicar o inexplicável. A fantasia é a força motriz de todos esses movimentos, porém a força bruta, a influência política e a força econômica ou militar de um povo é quem decide quem ou qual destas será maior ou menor nesse “reino do faz de contas”.

Ao tentar explicar o conceito de deus, nenhum desses movimentos jamais conseguiu fazê-lo em sua totalidade (e nem o fará) e todos eles ao se digladiarem entre si, absorvem partes dos conceitos uns dos outros nesses combates e ora estão fundindo, ora estão são extremamente opostos e ora podem se fazem de aliados para combater inimigos em comuns (outras religiões), mas estão sempre mantendo como base principal a crença de que deus existe, e que eles, o tal grupo (no individual) é o eleito de deus e que os tais cumpre sua vontade nessa terra e por isso devem converter todos os demais povos ao seu modo de ser e pensar.

Quem insistir em sã consciência tentar conciliar os conceitos cristãos que definem a “existência” deus com a lógica, a ciência e a razão poderá acabar em um hospício, pois é praticamente impossível em uma mente sã conceber tanta discrepância na tentativa de descrever um único ser e suas funcionalidades.

De forma geral, invisível, imaterial, invencível e imensurável, são os termos técnicos que seus servos usam para descrevê-lo ou para enfeitá-lo fazendo-o parecer cada vez maior.

Os termos mais corretos seriam: inoperante, insensível, incapaz e irresponsável se tal ser descrito pudesse tomar uma forma real. Porém irreal ou inexistente pouparia qualquer outro tipo de descrição ou discurso contra ou a favor dele e muito se lucraria com isso (ou se deixaria de lucrar).

No mundo dos homens, todos os puxa-sacos acreditam que quanto mais bajular, endeusar e enfeitar seus superiores com qualidades surreais, mais serão recompensados por esses com recompensas que podem ir de um aumento de salário ou um tratamento diferenciado entre os demais, chegando até mesmo a uma relação afetiva ou de conjunção carnal com o ser bajulado. Por isso os puxa sacos do mundo dos homens são o que são e fazem o que fazem, pisando uns, dando rasteira em outros, tapeando tantos outros...não medindo esforço algum para ser o primeiro entre os bajuladores.

Com os crentes de modo geral não é diferente: eles pensam que quando mais criarem adjetivos surreais para o deus qual dizem servir, esse o retribuirá com honrarias e o fará ter mais saúde, amor, e prosperidade entre todos, sem falar da promessa de reinar eternamente ao lado dele como principado, mandando em tudo e castigando a todos quando em vida tivera qualquer tipo de desafeto. Lembrem-se sempre de que Caim matou Abel pelo fato de deus, entre os dois irmão, deu mais atenção a um dos bajuladores, deixando o outro enciumado, fazendo que por esse caminho o primeiro homicídio viesse ocorrer na face da terra (segundo o livro “sagrado”) justamente pela falsa bajulação comumente chamada de adoração ou louvor pelos praticante dessa doentio “arte”.

Apesar de tudo, fingir que algo é real não o faz ser real! Dizer que deus existe e que possui qualidades incompreensíveis aos mortais, não o faz em nada ele ser real, antes sim o faz parecer uma piada se comparado o que dele dizem com o que dele fazem. O fato de a igreja propagar uma mentira a níveis quase mundiais por 17 séculos seguidos também não fará que o inexistente passe a existir, a não ser na cabeça de quem o venera ou pela força quando alguém é coagido a venerá-lo.

Sendo deus um conceito, pior que descrever os aspectos de sua aparência, é descrever o que realmente ele quer ou espera do “seu povo”, já que ele muda totalmente de opinião, de desejos e de vontades de igreja para igreja, de época para época e de pessoa para pessoa.

É bem mais provável que ele ponha duas pessoas ou duas nações inteiras em conflito tentando definir o que ele quer do que promover benefícios individuais ou coletivos para a nossa espécie. Destruições desnecessárias, carnificinas e genocídios sempre precederam ou sucederam a expressão dos seus desejos no antigo testamento, nas cruzadas e nos dias atuais pelos extremistas.

Além de tantos atributos a ele dirigido, ele parece também ser cego, surdo e mudo pois tem uma imensa dificuldade de comunicação, deixando que os seus servos interpretem ao bel prazer a sua vontade quando ele “fala”, para quem fala e de quem se fala.

Ele sempre escolheu desertos, cavernas, montanhas, vales e locais onde as pessoas possam estar a sós e totalmente isoladas quando a epifania acontece. Se tivesse os “escolhidos” estivessem acompanhado quem sabe a comunicação seria mais fácil em caso de não entendimento por parte do receptor principal.

Ele nunca foi visto dando instruções coletivas para os seus servos. Nunca falou de modo claro e aberto a ninguém, usando um conjunto de signos acessível a todos. Sonhos e revelações são os seus preferidos. A confusão e o embaraço o diverte principalmente quando seus servos tentando agradá-lo, fazem justamente o oposto que deveria ser feito.

Ele sempre falava em segredo a uma pessoa “escolhida” e esse mesmo servia de porta-voz, falando o que quisesse em nome dele e todos deviam acreditar e obedecer aquilo que supostamente fora dito. Um que ser que se preza jamais faria isso. A comunicação clara é a base de toda ordem social.

Na versão mais moderna e confusa de sua manifestação para redenção da humanidade, conta-se que ele era um carpinteiro, filho de uma pomba com uma virgem judia, e que fora visto durante 3 anos dando instruções a cerca de um reino vindouro e que depois morrera de forma precoce por anunciar esse suposto reino paralelo aos dos grandes imperadores da época.

Mas essa versão de sua existência é tão verdadeira quanto todas as outras versões semelhantes nas culturas de outros povos, também nascidos de virgens engravidadas por animais, seres mágicos ou deuses metamórficos.

Sonhos, revelações e “profecias” são os métodos mais comuns utilizado por este mesmo deus ultimamente para exprimir o que sente, principalmente nas igrejas evangélicas. Pedir dinheiro aos fiéis e exigir obediência cega dos súditos para com os que dizem lhes representar, é o único ponto de consenso de sua vontade nos atos de sua epifania nas igrejas, entre tantas divergências que todas elas nutrem a respeito da vontade desse ser supremo. Tudo o mais é contraditório, duvidoso ou inútil.

Os deuses de outros povos tem formas e limitações. Podem se parecer com elefantes, gatos, chacais ou criaturas bizarras. Todos eles tem funções especificas no roteiros de suas operações.

Com o deus bíblico não! Quem “dar a corda” aos seus poderes é sempre a ganancia e soberba de quem o administra (os líderes religiosos), ou da carência, ignorância e desespero dos seus “consumidores”.

Será que já não estar na hora refletimos um pouco sobre certos costumes e tradições milenarmente enraizados em nossa cultura, cujo proveito é de efeito nulo ou negativo se levarmos em conta todas as variáveis?

Todo mito tem o seu papel social e período de ascendência e declínio. Porém quando os que manipulam a ideia de um mito fazendo o parecer real a ponto de toda verdade universal estar ligadas ou dirigidas por meio desse mito, tal sociedade poderá estar fadada a estagnação fracasso.

Todos “deuses reais e verdadeiros” dos últimos 7 mil anos que a humanidade já produziu, foram substituídos ou estão obsoletos. Eles morreram ou perderam força quando seus adoradores morreram e uma nova geração surgiu.

Todos eles eram tão reais, verdadeiros e poderosos quanto os que atualmente parte do mundo clamam. Todos eles terão em breve o mesmo fim. Porém, nós podemos antecipar esse fato. Se não o fizermos no mundo, somos capaz de fazê-lo em nós mesmos, saindo do estado de infantilização eterna para sermos de modo consciente o responsáveis pela condução de nossas vidas, de nossos fracassos e sucessos, construindo assim uma sociedade mais justa, pois onde houver um “fiel a deus” ou um adorador, defendendo de unhas e dentes ao seu ídolo, a loucura, a paranoia e todos os derivados destas ali também estarão presente.

Pensem nisso!

Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 1/1/2020

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 01/01/2020
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