RETRÔ-EXPECTATIVAS(2019)
Por onde começo por onde caminho
Assim se faz uva quem se fermenta pro vinho...
Teu olhar é meu mirante
Olhos hipnotizantes como a chuva que vira amante
Do orvalho quando a sede as exsuda diamante
Rolando pelo chão... E que deixa que se moldem
Tudo mais cristalino e puro como uma lembrança
Que a nuvem chorou... E nossas pupilas as dissolvem
O vento acaricia as árvores carentes
Só pra roubar-lhe as folhas que dançam frementes
Mais a natureza sabiamente
No lugar das folhas roubadas
Outras tantas renascem
Para mostrar que as escolhas
São muitas a serem tomadas...
Quando você passa tempo demais
Na frente do espelho se arrumando
E se admirando... Tome muito cuidado
Que é a vaidade do espelho que pode
Estar te observando como um abismo sem fim...
Escolhas são estas folhas desplumadas das árvores
Sem pouso certo... Que o vento quanta mais arruma
Mais perdidas ficam espalhadas pelo chão...
Como se todo vira lata fosse um cão!!!
Todo cidadão de bem fosse um ladrão...
Todo lugar que eu vou você está grudada em mim
E todo lugar que me falta
Você está grudada nele... Qual bolha e sabão
Viajam tão pouco e logo explodem e somem no chão..
O amigo invisível deixou um presente
Ao amigo... Mais infelizmente ele já estava de fato
Invisível literalmente falando quando ele o recebeu...
Nos dias de hoje os dedos viraram boca
E os olhos viraram ouvidos...
Tudo o que é fácil não damos valor
Amor é investimento
Tudo tem seus juros ciumentos
Há muitas cobranças
Tempo, liquidez, sensatez dos sentimentos.
E é preciso estar atento nos lucros em longo prazo
Tudo que se elastece demais cobra demais também...
Muitas almas, muitos ninhos.
Cruzados tantos caminhos
Onde estivemos antes
Quantos pais já tivemos?
Quantos pais já fomos?
Quanto mais filhos seremos...
Infâncias perdidas nesta colmeias...
Vielas do mesmo alojamento
Da mesma trincheira do ventre da mãe...
Somos elos e paralelos que deixamos pra trás
E que nada separa e mesmo assim
Separamo-nos da árvore raiz
E como barcos humanos sem porto
Ancorando nos cais mareados nem rastros deixamos...
A terra é uma escola...Alguns vem pra aprender
Outros pra atalhar e usar a cola
Somos réus do destino... Ele como uma rede
Semelhante à teia aracnídea
Reina imperceptivelmente sobre nossos corpos
E nos apanha como uma aranha
Prontinha pra nos devorar a vida...
Amor (amor-te) (amo ter-te) e (temo-te...)
O espelho é o pai da vaidade
É na escuridão que nos agarramos a vela
A vaidade é a mãe de Narciso
E por não conhecê-la profundamente
Morreu não parido por ela
Em suas águas ruidosamente paradas...
A sepultura é apenas outra prisão
Que não mais pagamos os Royalties
Por estarmos vivos...
Tem gente que viaja pra todos os lugares
Mais não consegue mesmo
É chegar a nenhum lugar...
As estradas de quem escrevem
Está nos olhos de quem os lê
Silencio é a cicatriz do escritor
Suas feridas estão nas palavras não lidas...
Deus dá Deus tira
Assim são os seres
Há quem que te cure
E há quem mais te fira...
A vida é leve o que pesa mesmo
São os anos tão breves...
Teus olhos as cortinas do tempo fecharam
Tristes são os meus
Que se perderam dos teus
Que não mais nos meus se olharam...
Não há no mundo balança
Alguma pra pesar quantas toneladas tira de nós
Uma lágrima...E olha que a lágrima nunca está vazia
Ou é a dor estampada no rosto
Na sua preciosa terceira dimensão
Ou é o Habeas corpus da alegria...
Teu olhar é sombra sob um sol escaldante
Sutil como uma carícia de brisa em dia quente
Sem você não há nada no meu peito
Sou ar rarefeito
Amar é sentir-se mais leve que o ar
É como um pássaro arquejante
Descansando sob o ninho do teu peito...
E deste jeito vamos seguindo em frente
Não nos enganemos jamais
Que atrás de nós tem muita gente
E na nossa frente tem muito mais...