Pesares modernos: firmando uma nova antropologia do sujeito?
A hipermodernidade em sua ambivalência tem sido a força motriz para a tendência de muitos de buscar um distanciamento de um Eu empobrecido. Precariedade que se faz visível pela tentativa constante de procura descompromissada de relações de socialização muitas, e, portanto, efêmeras. Precisa-se estar perto , mas sem a formação de vínculos, pois o compromisso é barrado no processo que rege o cotidiano dessa modernidade permissiva . Eis então o dilema contemporâneo: viver o mal estar gerado pela emancipação do sujeito desvinculado de tudo que é comunitário, mas , como não se pode aniquilar o caráter filogenético da espécie, que em si precisa do outro, vive-se uma busca por semelhantes, mas mantendo certo distanciamentom Distanciamento este que tem causado tamanho sofrimento e insatisfação crônica, que o humano também anseia por distanciar-se de si mesmo. Ora , o homem em sua aspiração delirante por liberdade conseguiu psiquicamente instalar uma dicotomia , um paradoxo : aproximar-se do outro mantendo uma distância significativa; afirmar a si mesmo e negar-se , mesmo que por um período curto de tempo. Eis a vitória do mundo liberal, democrático e sem limites: deixar morrer , em largos passos, a essência humana que um dia constituiu o sujeito.
Este texto foi construído tomando como base a obra de Le Breton (2018): desaparecer de si. Pretende-se desenvolvê-lo melhor a partir da articulações com outros autores que se debruçam sobre o indivíduo contemporâneo e suas vicissitudes.