Curso de Filosofia da Vida Prática - Parte 14
Não é fácil ter-se a concepção correta do que vem a ser evolução. A princípio ela quer dizer desenvolvimento. Mas existe desenvolvimento também para o mal. Hitler, por exemplo, queria um desenvolvimento fantástico para a Alemanha e achava que, para conseguir isto, tinha que exterminar tudo que estivesse no caminho dos seus objetivos, nem que para esse fim fosse preciso ceifar milhões de vidas e foi o que ele fez, realmente. E o pior de tudo é que muitos o têm como um herói, um grande homem. Por aí se tem a ideia de como varia o pensamento das pessoas; de como é praticamente impossível distinguir o bem do mal.
Partindo-se do conceito de que o bem gera bem estar e felicidade e o mal gera sofrimento seria lógico admitir que a busca do bem deva ser o caminho. Acontece que quase todos os conceitos, enquanto sempre dualizados nunca responderão satisfatoriamente as dúvidas existenciais do homem. Quando se passa a afigurar a existência da vida com os olhos voltados para o bem, exclusivamente, ela toma outro sentido. O mal não seria mais uma existência verdadeira porque ele é criado pelo próprio homem.
Há várias formas de crescimento, mas aquela que engloba a totalidade do ser, mesmo sem visar busca escatológica como prioridade, mas simplesmente um estado feliz de consciência enquanto homem matéria, já representa um avanço significativo, um alicerce para a evolução plena. Isto porque o homem vive pelo pensamento, da mesma forma que, pelo pensamento, foi criada a vida. O que os religiosos dignos desse nome tentam passar ao homem em ilusão resume-se, em última análise, na grande ânsia de externar o amor e a sabedoria que adquiriram ao longo de sua entrega. Paira aí a questão de esses dons da sabedoria e do amor já fazerem parte da essência original desses homens iluminados. Não há outra forma de administrar essa dúvida a não ser transcendendo o visível, o material e o crível. Transcender significa ir além.
Não podemos ter ideia do que existe para além do conhecimento ordinário se não dermos um passo a mais. Os líderes de religiões, em sua maioria, deram esse passo a mais e procuram passar às carradas de seguidores que acreditam em suas palavras, o verdadeiro sentido da vida. Note-se a diferença entre a religião e a filosofia. Uma mostra um caminho, a outra emite opiniões, conceitos, mostra as possibilidades de o homem encontrar uma resposta aos seus profundos questionamentos. A primeira mostra que existe uma saída, a outra aponta alternativas, mas não dá uma garantia de segurança. A religião procura apontar um caminho para a solução das angústias do homem. Já a filosofia não aponta caminhos; ela simplesmente dá ao homem o veículo para a sua viagem e um mapa para orientação sem, no entanto indicar-lhe o destino; ele terá que encontrá-lo por seu próprio e único esforço.
Todavia o homem não deve ser um fantoche que se deixa manipular totalmente. O grande valor da busca pela sabedoria através da filosofia está exatamente em dar ao homem a opção de avaliar as forças que atuam por trás de toda iniciativa de mexer com a mente humana. Aí se encontra o ponto crucial do problema. Todos, sem exceção são mais ou menos sugestionáveis a estímulos, quer internos ou externos. Crer é uma opção. Ninguém pode impor a crença em um princípio, uma verdade ou no que quer que seja; ela é individual. Como explicar que um simples mortal possa levar consigo uma multiplicidade de seguidores que pensam e agem consoante as suas ideias a não ser considerando a força da sugestão? O magnetismo é um poder inquestionável; ele está presente nas ações dos grandes homens. Então, estudar esses homens, suas verdadeiras intenções, o grau do seu amor pelo mundo é a chave para se adquirir algum discernimento entre o bem e o mal.
Sempre existiu e continuarão existindo seres excepcionais que desafiam toda racionalidade científica, toda lógica médica. São humanos em todos os aspectos exceto na sua comparação com os demais humanos. Se tentarmos, através de todos os recursos disponíveis, definir o que os tornam diferentes e incomuns, não encontraremos respostas que satisfaçam. Só há então, um meio; transcender a lógica, ir além da matéria. Aí começam a surgir os questionamentos que levam a descobertas e estas por sua vez induzem a novos questionamentos que levam a novas descobertas; e assim o homem evolui.
Em termos de planeta Terra, tem sido por demais lenta essa evolução por culpa do próprio homem. A ciência sempre pautou seus estudos e suas pesquisas no visível, no imponderável, procurando e fornecendo respostas dentro de um critério extremamente coeso. Isto é prejudicial ao desenvolvimento que transcende o usual. Prova disso é o nascimento tardio de ciências como a psicanálise e a parapsicologia. É inegável o avanço cientifico no que se relaciona ao bem estar físico social do ser humano, mas isto é inevitável em função da própria natureza cientifica. No entanto, persistem as dúvidas, a insatisfação e principalmente, o conflito entre nações, lugar comum na trajetória do homem sobre o planeta desde que aqui chegou.
Numa análise rápida verifica-se que, se tudo estivesse satisfatório, de um ponto de vista global, de direito do próprio homem, como um ser desfrutador da felicidade que lhe é inerente, não precisaríamos de religiões de espécie alguma. No entanto, é o que mais há no mundo; e elas crescem de forma impressionante. A opção de uma pessoa por determinada religião é, invariavelmente, a busca de sua felicidade. Por mais que suas ações focalizem o outro, distribua o amor, acalente e conforte; o impulso primário que a levou a essa atitude foi o vazio interior da alma, o desejo de reconciliação com sua missão transcendental e isto vem a ser o reencontro com a felicidade.
Aprofundando esse conceito, na essência da busca religiosa o que deve permear o esforço e a concentração do adepto, muito mais do que sua intenção de fazer o bem precisa ser o desejo de conhecer a verdade. Esta é uma questão difícil de se abordar e ainda mais difícil de entender, simplesmente porque cada um, individualmente, tem ou acha que tem noção do que seja a verdade. Ela é tão abstrata como o ar que respiramos; tão intangível como o pensamento que deu origem a tudo. Contudo, tão real e presente como esse mesmo ar e esse mesmo pensamento.
Infiltrado no pensamento habitual do homem comum está o desejo e a necessidade de viver da melhor forma a vida que corre; os dias que se aceleram. Não há que se perder tempo com coisas como busca da verdade ou esclarecimento espiritual. O tempo é curto, a vida não para; tudo que remete às verdades eternas passa para segundo plano, as questões transcendentais são vistas como excentricidades ou passatempo para os filósofos. Este é um comportamento equivocado porque são as coisas que pensamos não existir aquelas que realmente existem.
O invisível move o mundo visível; o homem não é corpo físico, ele é um ser espiritual por natureza. Logo, o amor, a sabedoria, a vida eterna, o bem, Deus, Que abrange todas essas qualidades infinitas, essas são as coisas que existem de fato. Despertar para esse entendimento é começar a entender a verdade. Penetrar nas entrelinhas de um ensinamento religioso; interpretá-lo com a visão livre de vendas encobridoras da verdade faz toda uma diferença na busca da evolução espiritual. Esta disciplina não é ganho difícil de adquirir se houver sinceridade para consigo mesmo. Não tem que ser, todavia, uma disciplina extenuante nem deturpadora dos meios ordinários de vida. Precisa ser consciente, livre e, sobretudo, persistente.