O ser-no-mundo faz suas escolhas: sofrer é uma opção.

O ser-no-mundo faz suas escolhas: sofrer é uma opção.

Desde muito cedo eu fui exposto a diversas situações que me me mostraram o quanto a vida pode ser espinhosa para o nosso existir, para a trajetória cheia de contradições de nossa presença neste mundo de representações que nos rodeia e envolve.

Pra quem ainda não está habituado(a) a me ler ou ouvir, e mesmo para os(as) demais, informo, en passant, que antes dos cinco anos de vida, este escriba oriundo dos confins do sertão, um seringueiro de quatro costados, já havia sido atingido por um puerpério, assolado pela calamidade de uma doença como o fogo selvagem, e um sarampo e espinhela caída servidos como aperitivo, já que miséria pequena é bobagem.

Fiz este breve introito para adentrar num assunto, (aliás, assunto este que se estrela a uma penca de outros) que causa muito incômodo.

(...)

Vamos então tratar do dito cujo, o tal assunto que torra os picuás.

Seja em meus atendimentos terapêuticos, seja na vida familiar, pessoal e profissional, observei, e observo, com muita frequência, personagens que criam para si uma couraça de sofrimento, dentro das quais se escondem, sabotando eficientemente qualquer ameaça que possa lhes oferecer alguma forma de se integrar com plenitude na vida que foi dada, degustando-a com seus altos e baixos. A qualquer momento momento em que se sentem desafiados, esses personagens correm pressupõe para aquele cantinho conhecido e se ajoelham, contritos e fervorosos, no milho que os espera.

Vou citar aqui dois personagens históricos marcantes, tidos e havidos como apologistas do sofrimento: o dinamarquês Soren Aabye Kierkgarde e o germânico Arthur Schopenhauer, ambos filósofos e que viveram suas vidas no século XIX. Ambos, ainda carregam em comum o fato de terem dado início ao Existencialismo, corrente que coloca o homem como ser-no-mundo, responsável por suas escolhas.

Além desse perfil filosófico próximo, os dois optaram por uma vida de reclusão voluntária, dedicando -se ao aprofundamento da percepção daquilo que incluíam sobre o mundo.

Confesso que minha predileção maior é por Schopenhauer, pois sempre esbarrei na formação luterana de Kierkgarde...

(...)

Trouxe esses dois ícones da filosofia existencialista para me alicerçar no entendimento de nossa opção ambivalente, dicotômica, por uma vida em que o sofrimento prevaleça, se faça presente a maior parte do tempo.

Kierkgarde abriu mão de um casamento pois não se sentia capaz de conviver com uma esposa, e Schopenhauer, além de celibatário, cunhou a frase mor do pessimismo, dizendo que "A felicidade é um intervalo entre dois momentos infelizes."

Vou partir da frase do último, Schopenhauer, pois recolhi dele um conceito que transforme em Estrela Polar da minha jornada de vida: "Tudo só se mantém de pé mediante a Vontade."

Esta frase essencial nos torna senhores e arquitetos do edifício de nossas vidas, e nos faz, ao assimilar esse conceito em toda sua inteireza, superar qualquer obstáculo que nos apareça a frente.

Guardo em minha memória os frades capuchinhos brandindo o cajado e alterando a voz, do alto do púlpito da igreja de minha cidade natal, dizendo que este nosso mundo é um centro de pecados, e que o destino do pecador é queimar eternamente nas labaredas do inferno.

(...)

Não, não, Gedeão!

Eu me recuso terminantemente a beber dessa taça de fel envelhecido. Não foi atoa que peitei tantos espinhos em meu caminhar, para agora, nesta altura da vida, me prostrar diante uma adversidade qualquer.

E garanto sem titubear: mesmo hoje, com muitos anos de vivência aqui na Terra, darei sempre o melhor de mim para que cada dia se único, para que cada hora seja eterna, pois a única certeza que carrego dentro de mim é que o minuto seguinte é incerto.

Um brinde à Vida! Carpe Diem.

Terras de Olivença, manhã de terça-feira, dois dias antes da Lua Cheia de Dezembro de 2019.

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 10/12/2019
Código do texto: T6815407
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