Curso de Filosofia da Vida Prática _ parte 11
Assim é a vida. Penso na vida como um eterno recomeço. Tudo se resume numa impagável oportunidade de crescimento; e pensar por esse ângulo seria não admitir a morte. Se comparado ao animal que vive unicamente pelo instinto o homem passa a nada representar; classificado seria como um animal mais inteligente porque lhe foi dada a capacidade de pensar e raciocinar. Muitos são os homens que agem unicamente pelo instinto como se, para eles os sentimentos representassem mera manifestação de fraqueza. São incapazes de chorar, de se emocionar ou de demonstrar algo além de uma racionalidade matemática. Têm-se aí o diferencial das raças.
Quando examinamos mais detidamente um líder político, por exemplo, representante de um regime teocrata ou ditatorial podemos fazer ideia do que seria superioridade. Se fôssemos avaliar o divino com base nas ações desses homens – embora existam exceções - viveríamos presas do medo e da dominação. A superioridade que um homem deve exercer sobre tudo que lhe é inferior precisa ser ditada pelo amor, exclusivamente.
Não é exagero afirmar que o estado do mundo é um resultado da dominação exercida por uma minoria que retém o poder em detrimento da igualdade de direitos. Os regimes humanos calcados no exagero oprimem de forma inimaginável o todo das populações. Sabemos dos castigos impingidos pela igreja sobre os fieis que não correspondessem à crença de cada época. O céu e o inferno, embora inexistentes, tragaram impiedosamente a religiosidade dos homens das épocas passadas.
E não é muito diferente hoje porque bailam no inconsciente as crenças nos castigos de Deus. Se há um mundo espiritual ele é feito da somatória de todos esses pavores exercidos por crenças falsas. A analogia entre o céu e a Terra nos dá a certeza de um mundo harmonioso tanto aqui quanto lá. Um pai amoroso paciente espera a redenção de seu filho querido. O filho pródigo um dia chegará à casa do pai e será recebido com amor verdadeiro. Não há na Terra um pai que não deseje a felicidade para o seu filho. Igualmente, se acreditamos num Pai celestial e eterno, Este não deve castigar, mas abençoar o Seu filho querido em toda e qualquer situação.
Falando em mundo espiritual esse deve, por força da bondade de Deus, suplantar tudo aquilo que possamos conjeturar a respeito de penitências e sofrimento eterno. O mudo espiritual verdadeiro seria o nirvana da alma purificada pelo esforço em alcançar sua elevação e sua sabedoria. É pesquisado e cada vez mais admitido pela parapsicologia e outras ciências psíquicas que o homem possui diversos corpos que vão constituir o seu ser total. À medida que ele se purifica sua densidade corpórea vai se afinando a nível mental e ele passa a adquirir cada vez maior compreensão sobre si mesmo.
Afirmar, todavia que esse processo de purificação é alcançado em uma só existência é assinar um atestado de ignorância quanto às leis mentais. Nossa constituição material grosseira exerce um poder esmagador, anuviador das verdadeiras sensações etéreas. É preciso uma concentração, um esforço contínuo e denodado a fim de mantermos o foco na evolução constante, o que se torna árduo em razão do tipo de vida que comumente levamos.
Se o homem insistir em pautar sua existência exclusivamente dependente das sensações próprias do corpo material e grosseiro ele será um ser limitado do ponto de vista da evolução. São tantas as provas de algo mais além de nossa vida física e são tantas as fontes de consulta e estudo que chega a ser inadmissível alguém alegar sabedoria sem antes assegurar-se da origem dessa sabedoria. Mesmo que alguém se diga ateu ou mesmo agnóstico fica claro que esta pessoa não pesquisou verdadeiramente a vida. Ela, a vida, é muito mais do que simplesmente dormir, comer e trabalhar. Creio que, se estamos aqui, há uma busca a ser feita ou ao menos um entendimento a ser conquistado.
De que vale vir, usufruir e partir, deixando a casa que nos abrigou como oportunidade de crescimento? Deve haver uma razão para o existir. Se o nascer e morrer fossem de fato uma realidade insofismável poderíamos nos conformar com isso, vivendo a nossa vida sem alternativa a não ser tirar o máximo proveito do tempo em que estivermos por cima da terra já que, por baixo dela, tudo se transformará em ossos e teremos voltado ao nada, pois nada sabíamos ou almejávamos antes que isto se tornasse realidade.
A questão de haver ou não vida após a morte vem de encontro a todos os nossos pensamentos. O homem vive através da convicção. Se esta convicção for positiva ele terá em suas mãos a chave para uma vida feliz antes e depois de morrer. Dependendo do que ele acha que seja viver e morrer será o seu estilo de vida. De nada adianta dizê-lo da boca para fora, querendo aprovação dos outros. Isto precisa ser sentido no íntimo do coração e acredito que a melhor maneira de consegui-lo é a entrega total do espírito a essa busca. Falando assim pode dar a impressão de que seria necessário ausentar-se do cotidiano comum das pessoas e se isolar em uma montanha para viver meditando até encontrar as respostas aos anseios da alma. Não é por aí.
Óbvio que meditar faz parte de um estilo de vida em consonância com a evolução da mente e do espírito. A época atual da humanidade ultrapassa desordenadamente as expectativas dos que viveram antes de nós. Não havia tanto conforto, tantas facilidades. A modernidade tem as suas vantagens, mas é preciso tomar cuidado para que esta avalanche de informações e de conforto não desgaste o espírito e nem bloqueie a sua evolução, que é a razão precípua de existir.
Olhando o mundo vemos como ele está mudado. Se por um lado tudo se tornou mais fácil, por outro, as desgraças em forma de calamidades, matança em escala absurda, originada pela fome de liderança, doenças apavorantes e, acima de tudo, ganância descontrolada por anseios materiais afastam cada vez mais as chances de felicidade.
Ela acaba sendo buscada em coisas vãs, improfícuas, que a nada levam além de uma dependência mórbida. A ciência e a tecnologia que possuem de modo geral uma visão material da vida acabam contribuindo para esse estado de coisas, afastando o homem a cada dia mais da verdadeira paz de espírito. Vemos, nas religiões, líderes investigados por suas ações suspeitas e ficamos alarmados com as proporções de seus feitos. Se são esses feitos maléficos ou positivos cabe a cada um fazer o seu próprio julgamento, embora julgar sem provas evidentes seja visto como erro pecaminoso. Se o entendimento individual é difícil nada melhor do que procurar, na globalização dos fatos, saber por que isto acontece no mundo de hoje.