Curso de Filosofia da Vida Prática _ Parte 10
Está aí a grande diferença. Mas, não se trata apenas de crer ou deixar de fazê-lo. O que remete a uma certeza de vida ilimitada e indestrutível é a vivência; é um olhar um pouco mais profundo nas coisas da vida. Somos seres completamente adaptáveis a novas situações. Não custa nada penetrar no mundo verdadeiro, onde morte, infelicidades, dúvidas e sofrimento deixam de existir. Falando assim pode parecer uma utopia, uma perrice para com a realidade da vida. Mas se dissermos que irreal é tudo que não traz paz de espírito podemos ser mais bem compreendidos. Por outro lado, achar que felicidade é impossível nesse mundo, que ele é só feito de sofrimentos, é aceitar o que vemos e sentimos enquanto matéria. Ninguém é dono da verdade. A questão resume-se apenas em não aceitar o convencional. Não é difícil penetrar neste mundo tão pouco explorado.
A morte passa a ser uma seara totalmente desconhecida quando passamos ao longe do seu estudo. Pesquisar o mundo espiritual, se ele realmente existe, saber o que está por trás da vida, ter a curiosidade de conhecer experiências que nos aproximem de uma convicção da existência de algo que transcende aquilo que já se tornou rotina no mundo dos vivos. Nascer, crescer, passar por inúmeras experiências, envelhecer e morrer, esta vem a ser a sina humana. Por que descartar, todavia, uma vivência ampla, infinita, inesgotável, em que viver não se resume apenas em respirar oxigênio mantenedor da matéria física? Para adquirir a convicção da pluralidade das existências é preciso mudar completamente a visão de vida que se vem praticando até então. Meditar, essa seria a prática essencial a uma abertura da nossa mente. Porque meditar significa prover a mente de novas capacidades. Um estado mental equilibrado entre matéria e espírito facilita enormemente a aquisição de novo conhecimentos.
Se continuarmos seguindo o mesmo padrão de procedimento, no que concerne a viver não haverá avanço mental, tampouco espiritual. As respostas àqueles anseios que nos perturbam a alma encontram-se no que se chama busca. É bem provável que gastemos toda uma vida envoltos na aquisição de conhecimentos quanto à origem e o destino do homem; que consigamos captar, através da entrega meditativa, o que a mediocridade deixa passar despercebido e, ainda assim, seremos bebês esquecidos e desorientados. Deve haver uma razão para que tenhamos que enfrentar tantas dificuldades na vida. Apenas esse fato já deve despertar na alma a certeza de que ela é eterna. São mais do que diversificadas as capacidades e a sabedoria verificadas em todos os seres; não há duas pessoas iguais no mundo e mesmo os gêmeos diferem em aspectos que nos deixam simplesmente abismados.
Isto mostra que existe alma velha e alma nova. Que, da mesma forma que o corpo físico possui distinção de idade, não é diferente com a alma. O conceito filosófico que tento passar nesse ensaio despretensioso é, antes de tudo, uma opinião, resultado da uma observação do que me parece lógico ao observar a vida. Se é impossível afirmar categoricamente a existência de Deus e a imortalidade da alma, torna-se fácil e prático concluir essa verdade. Isto pode representar egoísmo ao se querer perpetuar uma existência que em todos os aspectos presentes na visão física projetada pelos cinco sentidos tem tudo para ser limitada, totalmente mortal. Mas não deve ser esse o caso. Analisando o nosso próprio dia a dia, o que vai ao mais profundo do nosso subconsciente, intuímos a existência de um criador, de uma vida que começou lá atrás, há muitos e muitos milênios, antes de o mundo ser mundo e ainda antes de o universo ser universo; isto nos dá o sentido da eternidade.
É certo que vamos passar muito mais tempo mortos do que vivos. Mas, o que seria estarmos mortos? Acaso representa isto a extinção total de tudo que diz respeito ao nosso próprio Eu? Se é o Eu imortal isto deve significar algo relativo à individualidade de cada um. Ser atirado no mar de Deus, retornando para Ele depois de termos nos esforçado para evoluir a cada dia, a cada ano em busca de uma purificação, de conhecimento, superando sofrimentos de toda espécie seria igualar tudo, voltando talvez ao zero, o que não seria sequer ponto de partida, visto que não teríamos mais a individualidade. Existem religiões que tocam no assunto imortalidade da alma, mas descartam a possibilidade de o espírito continuar existindo, eu como eu, você como você mesmo, a fim de alcançar a escala máxima da evolução. Para eles é como se a morte fosse o aniquilamento total da vida e a alma, digamos, um símbolo representativo daquilo que um dia viveu e que agora habita o mundo dos mortos.
Penso na morte como a extinção de tudo que é material, grosseiro, transformação de um estado ao outro, assim como a água sai do estado líquido e, após passar por outras formas de vida, retorna ao estado em que pode se manifestar livremente. Assim seria o homem. Temos a nossa disposição toda uma gama de oportunidades para crescermos ilimitadamente. Mas, por mais que nos esforcemos, o que significa uma centena de anos na aquisição dos conhecimentos necessários a uma vida plena? A vida passa por nós como um meteoro e, quando pensamos que adquirimos o auge da sabedoria, eis que nos vemos de retorno aos nossos anseios comuns, as nossas tremendas dúvidas existenciais; é como se tudo que pensávamos ter compreendido e assimilado se dissipasse ao vento e nos vemos impelidos a recomeçar, a reestudar nossos conceitos e avaliar nossas atitudes. Chegamos a uma idade avançada sedentos de sabedoria, mas o corpo, por ser limitado, nos limita as iniciativas e desejamos recomeçar para aprendermos de novo o que pensávamos conhecer.