Groselha
Vigorosas braçadas numa piscina de groselha. Vermelha e fresca e doce. Eu me sinto assim... Groselhas são aquelas coisas que a gente diz e pensa e faz e que aparentemente não tem sentido. Elas são o próprio sentido. Na minha piscina de groselha nadam palavras, peças de roupa e de teatro, pensamentos obsessivos, corpos nus, rupturas, diálogos, ausência, um jogo de vôlei, o prato do dia, incêndios, maxilares quebrados. Papéis. Gente incrível. Gente medíocre. Um adeus que eu não sei dar. Um velhinho fumando. Desencanto. Desalento. Cuidado. Amor. Fúria. Morte. Desejo. Medo. Eu nado. Sozinha, me afogo. Fica comigo, me trás a tona. Aquela brincadeira de afundar o outro na piscina e trazer de volta. Pular nos ombros. Pelo amor de deus me trás a boia. Eu vou morrer. O mundo fica aí acontecendo.... Quem está na borda, tomando banho de sol não percebe? Ou está tudo bem mesmo? Fica de pé, Patrícia. A piscina só é funda porque você não se levanta. Ela não tem sua altura e sua altivez. Levanta Patrícia. Patrícia é nome e estalo cósmico. Ouvir meu nome me faz acordar. Foi nisso, pai, que você pensou ao me dar esse nome? Respira. Não sei boiar. Eu não sou leve. Eu sou levável. Nem tão leve que boie, nem tão pesada que afunde. Não posso boiar. Mas posso nadar. Nadar bota a água groselha em movimento. Quando eu for grande, saio da piscina pra nadar no mar. Nada Patrícia. Não é nada. É tudo. Mas vai passar.