Inacabado
É um assombro.
Tinha certeza que, dentro de mim, havia dizimado alguns quereres.
Realmente não os dizimei. Estão latentes.
Por que então será que cometi um desatino tão intenso?
Cobrir uma cascata que jorrava com que tipo de vegetação?
Sei que cobri. Eram pinheiros, jatobás, carvalhos...
Cercados por azáleas e visitados por pássaros migratórios.
Nem pousos faziam, porque toda a água estava submersa.
Somente raízes é que saciavam a sede.
E foi por amor. Sempre é por amor.
E o que amamos?
Sem questionamentos, tudo. Céu, terra, mar.
Universo. Seres vivos e inanimados.
Temos um potencial infinito de amor.
E devido a esse potencial, fazemos nossas escolhas.
Vou amar o feio, o bonito, a cor, a falta de cor,
o claro, o escuro, a vida e a morte.
Queremos amar. E muito.
É como se o brilho do olhar, o sorriso cálido, a
voz serena, fossem quesitos de suma importância.
E são.
Dentro de cada um de nós, não há espaços sólidos.
Há espaços movediços.
E quando deslizamos e ficamos presos neles o que poderá acontecer?
Não sabemos se não deslizarmos.
E deslizamos, nos prendemos, fixamos, até sentirmos asfixia.
Muitas vezes não sabemos nos soltar.
E ali mesmo, morremos.
E foi o que pensei quando decidi dizimar quereres.
Só que me enganei.
Meu potencial de amar não é tão restrito.
Abrange uma infinidade de poderes.
Posso, sim, amar a boca da noite.
O grito do dia.
A voz do silêncio.
Posso amar a antítese até o máximo do grau Celsius.
Amar até o meu desamor, quando ele acontece.