Curso de Filosofia da Vida Prática - parte 8
Este privilégio da capacidade mental superior surgiu a partir de um princípio, de uma lei inexorável: tudo o que tem vida cresce; é assim em tudo que permeia o nosso universo. A adaptação ao meio de vida que conquistou por direito foi lenta, sofrida, mas obediente a uma vontade pré-determinada. O homem teria finalmente que chegar ao ponto em que se encontra atualmente. As lutas pela sobrevivência, pela não extinção não deixaram nunca de existir. O enfrentamento de condições adversas de clima, de meio ambiente; o choque com outras espécies; o combate à fome, nada disso impediu sua evolução. Mas nada disso o tornaria imune à extinção por um choque de meteoro contra o planeta, como ocorreu, por exemplo, com todas as espécies de dinossauro em épocas passadas.
Isto é mais do que suficiente para provar a grande necessidade da permanência da espécie humana sobre o planeta. E isto tem a ver mais com a vontade de um criador do que com a capacidade do ser criado.
Se tudo tem por objetivo a evolução podemos, a partir desse objetivo, contar com o advento de um futuro paradisíaco para o nosso planeta. Isto será uma realidade por ser a ordem natural das coisas.
Toda evolução é compatível com o nível mental das criaturas presentes em cada fase do processo. A intenção primordial pode passar de materialista para espiritualista se o ambiente universal assim o exigir. As influências religiosas e a força mental dos homens sinceramente voltados ao bem estar planetário impedem um desgoverno de atitudes porque estão aliadas umas às outras. As divergências entre seitas, as diferentes doutrinas, o modo como são professadas, as interpretações dos grandes livros proféticos; tudo isso somado representa um porto seguro, protetor contra a extinção da raça.
Cada criatura armazena, no fundo da alma, uma essência, até certo ponto, adormecida. Despertar a conscientização dessa essência é o objetivo primordial de todo ser. Mas, entre despertar e fazê-la atuar de verdade há uma fundamental diferença. Os que levam a sério esta atitude evoluem mais rapidamente. Daí vem o questionamento quanto às verdadeiras origens do ser. Deve haver níveis que levam uns a conseguir e outros não. Porém o ponto mais importante está em reconhecer que esta essência é comum a todos, do menos ao mais evoluído. A interferência de fatores materiais diversos dificulta a tomada de iniciativa ao autoconhecimento.
É possível ao ser humano, qualquer que seja ele e onde quer que se encontre ser um contribuinte para a evolução do planeta. Questionar sobre a vida, sobre a morte, qual a missão de cada homem no conjunto da raça é de vital importância para a implantação de um mundo melhor e mais confortável. Se todos seguirem pelo caminho medíocre do exclusivo progresso da matéria em detrimento da evolução espiritual, esse grande desequilíbrio acabará levando a um fim trágico.
Se analisarmos em grande escala é iminente uma destruição da raça humana. E o que impede que isso ocorra é a grandiosa corrente espiritual protetora emanada dos seres evoluídos. Os lucros, as vantagens econômicas permeiam as mentes dos homens; mas entre eles destacam-se os equilibrados, que aplicam a sabedoria nas questões sociais. Por trás de toda essa confusão há ainda a vontade universal invisível, que não se restringe à terra exclusivamente. É esta incógnita o objeto de estudo da ciência filosófica.
A ciência responde e a filosofia pergunta. Nenhuma resposta tende a ser conclusiva. Perdemos a conta ao enumerarmos o que no passado era um fato e depois caiu por terra para dar lugar a outro fato também incerto. Já com as perguntas não há esse risco. Quem deseja seguir com a própria vida, satisfeito com o que já está aí, dado como certo e verdadeiro, que o faça, como o animal que come e dorme.
As perguntas que geraram respostas; que colocaram o homem no nível de progresso material em que hoje se encontra podem ser agora revertidas para a sua condição espiritual e colocá-lo num outro nível de evolução essencial para o planeta. Se houvesse uma satisfação com o que já foi conseguido e parte dos recursos fosse aplicada em áreas que realmente importam seria muito mais rápida a mudança. A prioridade é sempre o crescimento industrial e financeiro. A real preocupação com o estado do ar, das florestas, dos mares tem ficado em segundo plano.
Como a melhora global é um resultado da evolução individual cabe a cada indivíduo se conscientizar e procurar evoluir-se equilibradamente. Quando o número de homens bons superar o de homens maus o mundo se verá livre da extinção. Acontece que as prioridades da vida andam invertidas, fazendo do homem um joguete das circunstâncias. É de fundamental importância que se viva tendo como base os valores reais. Sabemos que tudo é efêmero, mas não conseguimos sofrear os nossos desejosos.
É válido ter um conforto material para uma vivência satisfatória. Afinal, todo progresso humano adveio do domínio pelo homem do seu meio ambiente e isso lhe trouxe mais bem estar e felicidade; o estímulo fê-lo ir adiante, pois se sentiu fortalecido. Dominado o próprio meio revelou-se egoísta; achou que podia ir mais longe. A posse do egoísmo e a cegueira da ilusão o impediram de reconhecer que o vizinho era também um irmão e que, como ele, tinha igual desejo de bem estar e felicidade.
Assim desenvolveu-se o homem. A cultura, o progresso científico, o desenvolvimento tecnológico, tudo teve como ponto de partida o horror da guerra. O medo da destruição por uma potência superior desenvolveu a inteligência do acuado aproximando-a do ameaçador, fazendo este, por sua vez, desenvolver a sua ainda mais, o que fez o mundo alcançar o patamar atual.
A brecha existente entre o grande avanço material e o atraso espiritual é enorme, a ponto de por em perigo a humanidade. Se levarmos em conta que já houve extinção de raças e o surgimento de outras é de esperar que aconteça a mesma coisa com a civilização atual. Mas, daí a saber quando isso ocorrerá, e de que forma, há um mundo de oportunidades. Viver é evoluir; então por que há a destruição?
Se levarmos em conta a efemeridade da vida humana, esta indagação não tem a mínima razão de ser. Achar que o homem vive uma única vez é concluir, precipitadamente, que ele é constituído de matéria, unicamente. Que se desgasta. Que morre a partir do momento em que nasce. A cada segundo. A cada dia. A cada ano. Até a extinção. Sendo assim, a vida passa a não ter sentido algum além de se usufrui-la da melhor forma, não importa o outro.
É exatamente nesse ponto que reside a urgência de se desenvolver a sabedoria. Ela é a chave para o entendimento dessas questões cruciais. Os grandes homens que a desenvolveram deixaram pistas de como alcançá-la; não há dúvida de que ela seja a base para a felicidade. Defender o sectarismo, privilegiar doutrinas não está de acordo com o correto modo de vida porque não deixa de gerar dúvida e desconfiança.
Todavia, não deixam de fazer parte da evolução os movimentos empenhados na melhoria do homem. Tudo possui uma base e a religião pode proporcionar ao sedento de sabedoria a visão inicial e o estímulo à verdadeira busca do autoconhecimento.
Viver sem efetuar uma busca não traz vantagem alguma. Se ao homem não fosse dado o livre arbítrio ele seria um escravo. Imagina não escolher o que ser, o que fazer, a que lado se dirigir; é esta diversidade de opções o que dá sabor e alegria de viver. Por outro lado a imensa gama de opções que se apresentam confunde o objetivo. É do controle dos desejos que nasce o discernimento, que impede a queda no ambiente feérico da ilusão