etimologia da língua portuguesa nº201

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº201.

Investigar veio do Latim investigare, a partir de vestigium, vestígio, rastro, designando inicialmente a planta do pé, de animais ou de pessoas. Orar tem origem no Latim orare, fazer oração, do Latim oratione, duas das primeiras palavras a entrar para o Português escrito.

Bilionário: de bilhão, do Francês billon, registrado no século XIV, palavra formada de bille, lingote de ouro e mais tarde moeda, por influência do Latim medieval billia, tronco de madeira com o qual se assemelhava, mesclado ao Francês alteração de billion, alteração de million, tendo sido tomada por prefixo indevido a partícula mi, substituído por bi, duas vezes. Mas bilhão não se consolidou como 2 milhões e, sim, como 1 000 milhões.

Casimira: designando roupa encorpada de lã, provém do indu ka, agua, e shimeera, secar, consolidado como terra sem água, em cuja região eram criadas cabras de pelo macio, utilizado na fabricação do tecido que levou o nome da região. Mas não veio diretamente dali para o Português. Veio do Francês casimir para adaptar o Inglês Cashmire, nome daquela província nesta língua. Como nome de pessoa, é feminino de Casimiro, do Polonês kazac, mandar, impor, e mir, paz, aquele que impõe a paz. Este nome de pessoa foi da Áustria para os países lusófonos, por influência de São Casimiro (1458-1484), príncipe nascido na Polônia e falecido na Bielorússia, filho do rei Casimiro IV (1427-1492), neto de Ladislau II (1348-1434).Mir é também o nome da estação espacial que mais ficou no espaço, de 1986 a 2001, mas neste caso a origem é o Russo mir, paz no mundo.

Investigar: do Latim investigare, a partir de vestigium, vestígio, rastro, designando de início a planta do pé, de animais ou pessoas. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1900-1938), chamado Rei do Cangaço, enganou os volantes, como eram chamados os policiais que o seguiam, por deslocar-se por toda caatinga, ao ordenar aos companheiros que calçassem de trás para frente as sandálias de couro. Modernamente, é mais usado na investigação do neologismo follow the money, siga o dinheiro, pois as organizações criminosas que roubam mais são as que operam desviando gigantescas quantias de obras públicas. Follow the money é mais compatível como os criminosos de white collar, colarinho branco, pois eles não usam arma de fogo, usam bancos, senhas, cartões, internet etc.

Leniência: de lenidade, do Latim, lenitate, brandura, suavidade, favorecimento. É do mesmo étimo de lenimento, remédio para aliviar a dor. O Latim clássico usava lenitas, declinação de lenitate, lenidade, e lenire, lenir, em contextos que iam de alterar uma subida, tornando-a mais suave, passando por outros contextos, como o de diminuir o sofrimento de uma dor física e moral, mediante afrouxamento das pressões exercidas. No sentido jurídico, a palavra leniência designa situação de tolerância da autoridade judiciária, consistindo em diminuir, suavizar ou mesmo extinguir as penas por considerar que o réu, arrependido, colaborou com a investigação, sobretudo por fazer delações premiadas, ensejando que fosse praticada a justiça em defesa da sociedade.

Orar: do Latim orare, fazer uma oração, do Latim oratione, duas das primeiras palavras a entrar para o Português escrito por força da predominância da Religião e do Direito desde os primórdios da língua, quando padres, letrados, notários e juízes faziam uso quase exclusivo da norma culta. Orar ganhou o sentido preferencial de rezar, fazer súplicas a Deus e aos santos, mas pouco a pouco ganhou o sentido jurídico de fazer um discurso, falar em público. No português medieval era escrito horar ,à semelhança de horador, em vez de orador , e “horaço”, “horaçom”, “horaçam”, em vez de oração.

Ribanceira: de ribança e esta de riba, do Latim ripa, dando ideia de margem alta de rio, donde “em riba” e “por riba” , isto é, por cima, em cima, e “arriba”, adiante, mas com sentido de elevar,subir. Designa margem alta do rio, às vezes um penedo ou barranco, uma cavidade natural profunda, mostrando grande depressão do terreno, com paredes íngremes. Do mesmo étimo são o sobrenome Ribeiro, evoluído do arcaico “ Rybeyro”, de gente de beira de rio, e ribeira, escrita “rybeyra” no Português medieval, designando localidade próxima de rio, ou terra baixa próxima a cursos d’água maiores do que regatos e riachos, menores do que um rio.

Deonísio da Silva da Academia Brasileira de Filologia, recebeu o Prêmio Internacional Casa de las Américas, em júri presidido pelo escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura. Escritor professor e doutorem Letras pela USP e professor ( aposentado ) da UFSCar, curador da Língua Portuguesa, da Universidade Estácio de Sá (RJ), onde ministra videoaulas, diretor-adjunto da Editora Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Livros de sua autoria estão publicados também no exterior. É autor de De Onde Vêm as Palavras (17ª edição) www.lexicon.com.br

Revista Caras

2015

deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 10/11/2019
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