Curso de Filosofia da Vida Prática - Parte 6
O homem não conhece a si mesmo; esta é uma verdade incontestável. Se há alguma proposição dentro do conjunto das afirmações filosóficas que podemos afirmar sem o receio de estarmos incorrendo em erro é a de que o homem pode conhecer tudo melhor e mais completamente do que a si próprio. Isto porque esta busca não faz parte das prioridades humanas. As ciências que remetem ao estudo da mente com alguma profundidade e aceitas academicamente não chegam a um século de existência. Isto não vem a ser nada se comparado ao tempo de vida do homem na terra.
A psicanálise, a psicologia e outros estudos correlatos existiam unicamente na mente de homens como Platão, Sócrates, Confúcio, entre outros, que viveram muito à frente do seu tempo e foi graças as suas ideias que surgiram os estudos que conhecemos hoje.
Ser filosofo, portanto é querer conhecer a vida. Sendo assim, todos são filósofos em potencial mesmo que não tenham passado pela cátedra escolar. Esta afirmação despretensiosa parte de uma inquietação. Todo ser humano, algum dia, se perguntou a razão da própria existência e, para a maioria, esta pergunta permanece no fundo da alma, sem uma resposta que seja satisfatória para que a vida passe a conter algum sentido.
A explicação para isto seria que, não há filosofia, por mais abrangente e elucidativa, que vá conseguir preencher a ânsia de alguém em conhecer a razão da existência. A própria vida em si representa uma procura. O que há são formas de se viver a vida que conseguirão preencher o estado d’alma inquieto do ser humano. Busco, nesse tratado, encaminhar o leitor a uma possibilidade de vida que lhe dê satisfação, mesmo que não tenham sido respondidas todas as questão que lhe assaltam a alma.
O que faz a ciência dar prioridade aos assuntos mais correlacionados ao bem estar do homem? É por serem eles os que cobram maior atenção. Não se pode tratar de filosofia se o estômago está vazio ou se há uma doença que precisa ser curada. É por isso que filosofia fica em segundo plano e assuntos, digamos, materiais, em primeiro. Todavia, negligenciando os fatores invisíveis ou transcendentais da existência, considerados secundários, é que faz com que, à medida que o tempo passa, aumente o vazio da alma em se tratando de felicidade verdadeira.
Olhamos demais para as dimensões ao alcance de nossas percepções sensoriais. Mesmo que satisfeitos em todos os campos materiais não conseguimos atinar com a razão de estarmos aqui e isso às vezes nos traz certa sensação de vazio dificilmente preenchido. Quero dizer que, tenhamos ou não uma relação satisfatória com o mundo exterior, conquistemos ou não nosso espaço físico e social, a maior interação, a mais importante e vital comunicação, é aquela que fazemos com nós mesmos; durante as vinte e quatro horas do dia. Não importa onde ou com quem estejamos.
Se partirmos do princípio de que o homem é um animal social, parte de nossa felicidade precisa advir dessa interação com o meio ambiente. Quantas pessoas, de fato, somos? Quantos serem habitam o nosso mundo interior? É preciso partirmos dessa inquirição pessoal se quisermos nos sentir bem a todo instante e em qualquer lugar. Há um objetivo primordial na vida de qualquer cidadão; pelo menos deve acontecer assim para que a vida tenha algum sentido. Levando em conta que vivemos em um ambiente materializado, tudo que permeia nossos sentidos exteriores tende a nos levar e aos nossos sonhos para essa funcionalidade externa; assim é a vida. Assim tem que ser a vida física. Querendo ou não, somos forçados a interagir com este meio carregado de imposição.
Quando acordamos pela manhã, submergimos de um universo ainda desconhecido pela ciência como tudo aquilo que é invisível tem permanecido desconhecido pelas razões já citadas. É nessa hora que temos nossos sentidos mais apurados, a mente fresca de ideias e o corpo revigorado para as tarefas de um novo dia. A intromissão imediata de pensamentos mundanos vai nos jogar de volta ao turbilhão da vida de sempre. É lógico que não podemos fugir a isto. Mas, felizmente, temos ao nosso alcance um momento apenas nosso, dentro do nosso mundo silencioso.
Podemos, nessa hora, optar por uma comunicação invisível, que podemos denominar de meditação, ou deixar soltos os pensamentos para que, pela força do hábito, sejamos novamente lançados ao mundo que denominamos real. Este mundo é o resultado de uma interação perfeita com o mundo invisível, interior, o que realmente existe, nossa verdadeira essência; a qual estamos constantemente conectados, embora pouca ou nenhuma atenção demos a isto.
Essa meditação matutina tornada um hábito já deixa o individuo inserido em outra espécie de universo que foge aos padrões comuns de entendimento. Isto porque a visão do mundo começa a se aclarar e ele passa a sentir mais profundamente o que antes apenas cogitava: a possibilidade de se viver num mundo de luz, paz espiritual e serenidade mental. Tudo isto unicamente por estar dedicando a si próprio, ao seu interior, uma chance de autoconhecimento. Mencionar técnicas e estipular métodos de entrar-se em contato com o mundo interior pode ser deixado a cargo de instituições que se dedicam a isto. Não há um método especial nem específico.
Quem desejar aprimorar esta técnica pode buscar orientações e se beneficiar. O que conta é o silêncio, a quietude e a sublimidade do momento. Conectar a mente ao mundo interior de si mesmo num horário pré-determinado e fazer disto parte do ritual diário deveria ser tão rotineiro e sagrado como o ato de lavar o rosto e escovar os dentes pela manhã, isto fará a diferença na vida daquele que a isto se dedicar.
Por que um ato tão simples pode ser tão benéfico? Porque é disso que o homem precisa efetivamente. Anda tão conturbada a mente humana que corremos o perigo de encurtarmos nossa própria existência sobre o planeta caso uma reviravolta nos valores humanos não se processe imediatamente.
Se analisarmos a discrepância entre o avanço científico e tecnológico e a evolução espiritual do planeta notamos aí uma falha tão alarmante quanto as convulsões de um vulcão prestes a entrar em erupção. Como vítimas, nos vemos nas cercanias desta enorme cratera de movimentos alucinados e incontroláveis, na iminência de sermos arrastados e destruídos pela lava incandescente e impiedosa que se aproxima.