etimlogia da lingua portuguesa nº199

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº199.

Palavra com mais de 20 acepções, entrada formou-se de entrado, do Latim intratus, particípio passado do verbo entrare, entrar. Vulgata veio da expressão do Latim Vulgata Editio, edição popular, designando a versão medieval mais conhecida da Bíblia para o Latim.

Antropófago: do Grego anthropophágos, pelo Latim anthtropophagus, e daí ao Francês anthropophage, cujo primeiro registro é de 1265, de onde chegou ao Português, designando o adepto do canibalismo. Esta palavra está presente em célebre documento do Modernismo, o Manifesto do Antropofágico, do escritor paulista Oswald de Andrade (1890-1954), falecido num 22 de outubro, aos 64 anos, cujo prenome em vida foi pronunciado “oswáld” por todos e por ele mesmo, mas que em escolas e universidades mudou para “óswald”, deslocando-se a tonicidade para a primeira sílaba. Publicado em 1928, trata com ironia o calendário gregoriano, datando o documento com o Ano 374 da deglutição do bispo sardinha. A referência é ao primeiro prelado do Brasil, o português dom Pedro Fernando Sardinha (1496-1556), devorado pelos índios caetés, só duas semanas depois de renunciar ao episcopado em Salvador (BA), quando naufragou a nau que o levava de volta a Portugal.

Entrada: de entrado, do Latim intratus, particípio passado de entrare , entrar. Apesar demais de 20 acepções para esta palavra nos dicionários, indo de ingresso no recinto, passando por prato inicial da refeição e chegando a um plural famoso, as entradas e bandeiras rumo ao sertão brasileiro, a entrada mais conhecida é o bilhete para um espetáculo cultural, esportivo etc. está presente em meia-entrada, preço reduzido “para diversão e locomoção”, conquistado pelos estudantes em 1935.

Miguel: do Hebraico Mikha’el, quem como Deus, mas como pergunta, visando negar, reiterando que ninguém poder ter tal condição. Antes de chegar ao Português, esteve no Grego, no Latim e no Árabe, pois dá nome ao Arcanjo São Miguel, que venceu Lúcifer e expulsou Adão e Eva do Paraíso. Nome próprio em várias línguas, no Português uma de suas principais referências é Miguel I (1802-1866), terceiro rei de Portugal, deposto pelo o irmão, dom Pedro I (1798-1834), o herdeiro legítimo, que abdicou em favor da filha, dona Maria II (1819-1853), sob a alegação de que o trono tinha sido usurpado. Por isso o nome próprio tornou-se substantivo e adjetivode dois gêneros. Está presente na gíria, em “dar uma de miguel”, ou “migué”, significando fraudar trapacear. Pode ter havido influência de moeda em cunhada com sua efígie em seu contestado reinado, de 1828 1834, que passou a não valer nada depois de seu exilio e banimento.

Prenhe: do Latim vulgar pregne, de praegnans, derivado de prae gignere, já alteração de prae generare, designando o estado da fêmea antes de gerar, já grávida, feminino de gravidus, cheio, pesado, carregado. A juíza Patrícia Pires, em crônica agraciada com o Prêmio de Literatura para Juízes, prefere a variante prenha, também correta, em Entre Porquinhos, Padre e Almoço no Júri, em que duas amigas e sócias litigam por uma ninhada de nove leitõezinhos, cuja mãe, quando leitoa, havia sido sorteada em quermesse da paróquia. O número ímpar parece ter sido o impasse da discórdia, resolvido pela juíza em sentença salomônica : em vez de um porquinho ser cortado ao meio, cada uma das litigantes recebeu quatro. O que sobrou foi doado à Igreja pra nova quermesse. O processo de parceria agrícola foi extinto e arquivado por Providência Divina. Com exame do mérito. Se meu, eu ainda não sei “, conclui a cronista . A comissão julgadora foi de alto nível: os escritores Anna Maria Martins, Joaquim Maria Botelho e Mafra Carbonieri.

Septuaginta: do Latim septuaginta, setenta, designando os livros do Antigo Testamento traduzido do Hebraico para o Grego e apresentados em assembleia composta por seis delegados de cada uma das 12 tribos de Judá, totalizando então 72 arredondando para 70, como indica o número por extenso em Latim. Os trabalhos foram coordenados pelo bibliotecário e linguista Demétrio de Faleros (350-280), diretor da Biblioteca de Alexandria.

Vulgata: da expressão do Latim Vulgata Editio, edição o popular, a versão medieval mais conhecida da Bíblia para o Latim, feita por São Jerônimo (347-420). Embora meticulosa a tradução dos Septuaginta, escaparam impressões. Por isso, em 1908 o papa Pio X (1835-1914) determinou que a Ordem dos Beneditinos eliminasse os defeitos . Um exemplo: o Hebraico mem’ra virou logos em Grego e verbum em Latim, mas cada uma dessas palavras tem sutis complexidade em cada uma das três línguas, sem que a tradução as abarque completamente.

Deonísio da Silva, da Academia brasileira de Filologia, escritor, doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar (SP), curador da Língua Portuguesa na Universidade Estácio de Sá (RJ), dirige projetos editorias na Unisul (SC) e e colunista na Rádio Bandnews, com Ricardo Boechat. É autor de Avante, Soldados: Para Tráz e de Lotte & Zweig (www.leya.com.br), publicados também no exterior e de De Onde Vêm as Palavras www.lexikon.com.br

Revista Caras

2015

deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 27/10/2019
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