UM MESSIAS PARA QUÊ?

É difícil encontrar solução para os problemas de uma nação quando a forma de ver o mundo dos indivíduos ainda é tribal!

*Por Antônio F. Bispo

Praticamente todos os povos do passado ou do presente diz possuir ou aguardar a chegada dos seu próprio messias para reinar com justiça e colocar ordem no mundo todo à partir de um ponto geográfico do planeta ou de um segmento político-religioso específico.

Os messias das nações costumam ser descritos como alguém com poderes surreais e autoridade infinita além de habilidades físicas e metafísicas inimagináveis.

Os que assim o esperam julgam estar nas mãos deste e não na soma dos esforços coletivos dos povos, a soluções para os problemas comum a todos. Pouco ou nada fazem para melhorar o mundo ou pelo menos o local onde vivem, mas julgam que esse tal messias venha pôr ordem em tudo num passe de mágica.

Na maioria dos casos, os que propagam a ideia de que a solução de todos os nossos problemas esteja na instauração de um reino messiânico são os mesmos que ajudam a estragar ainda mais o mundo com suas crenças ao invés de melhorá-lo, pois comumente os que veneram ou esperam um messias se acham especiais, escolhidos deste e que serão privilegiados em demasia só por manterem vivo uma ideia ou um culto à imagem desse tal “salvador”.

Enquanto projetam um reino de paz e justiça para um futuro longícuo e improvável, esses grupos criam no presente dissenções e conflitos desnecessários cada um tentando provar ao outro quem confabula ou faz a melhor propaganda desse seu messias imaginário. Os que se acham derrotados, não se cansam de acrescentar cada vez mais “acessórios” ao seu próprio messias para que esse pareça ser mais forte e poderoso que os demais.

Vale tudo nessa guerra tola para provar o absurdo, inclusive a instauração do caos para depois dizer que o diabo estar estragando o mundo mas o seu messias virá concertar, castigar e prender o diabo, bem como todos os seus assistentes, incluindo os que não aceitaram esse tal messias. Quanta bobagem!

Crianças pequenas e ingênuas por exemplo, aguardam o Papai Noel e o coelhinho da páscoa para serem presenteadas todos os anos por acharem que foram boazinhas e cooperaram com os pais naquilo que lhes fora imposto e por isso se dizem dignas de serem agraciadas com as dádivas do bom velhinho. Os que foram rebeldes e acreditam nesse mito também querem ser agraciadas e por isso criam e ensaiam previamente discursos de defesas fazendo justificativas diversas para não ficarem de fora das dádivas quando se aproxima tal festividade.

Adultos infantilizados, egoístas, ludibriados ou que apenas seguem a manada, se comportam do mesmo jeito, só que um pouco pior: eles acreditam que tudo ficará bem para eles (somente para eles), se propagarem o reino do cristo de sua fé, pois esse tal, com sua onisciência e justiça perceberá o envolvimento deste servo na propagação deste reino e lhe retribuirá com funções privilegiadas e proteção especial quando este suposto governo se estabelecer.

Em outros agrupamentos sociais isso seria classificado com um extremo ato de corrupção, conluio ou formação de quadrilha, mas segundo a ótica do “povo de deus”, isso é chamado de recompensa por um serviço prestado. O serviço inutilmente prestado ao qual se referem se trata apenas de bajulação, veneração, puxa-saquismo e tentativas de proselitismo em nome deste suposto ser.

Como esperar então que aconteça um reino justo e duradouro quando as bases desse mesmo reino é montada sob pilares de corrupção? Nada dá pra esperar nada de bom algo quando a base em si é totalmente má.

Se somente os que os adoram, os veneram e bendizem o seu nome serão aceitos nesse reino, o que será de todos os povos do mundo que diariamente morrem sem nunca ter ouvido falar nesse tal de messias? Não tem lógica um negócio desses. Cegos, surdos, mudos e deficientes em gerais teriam uma enorme desvantagem e provavelmente ficariam de fora por que não teriam condições de expressar publicamente tal bajulação. Os que estão abaixo da linha da pobreza nem se fala...

Segregação social, racial, étnica, religiosa, política ou de poder aquisitivo é o que realmente existe por trás de todo movimento messiânico. Um intento maligno disfarçado de bondade e amor há por trás de quase todos os que proclamam a vinda de um messias seja ele qual for. Esse tipo de comportamento assemelha-se aos ocorridos em órgãos públicos cujos funcionários ou poderes supremos utilizam-se dos recursos coletivos para beneficiar a si mesmo ou a um grupelho de puxa-sacos que se veneram ou trocam favores mútuos.

Todos os que proclama um “messias dos céus” por exemplo, se acham escolhidos por ele, por que exaltou o nome daquela figura, lhe rendeu cultos, falou bem dele para outras pessoas e guardou algum suposto mandamento dito ou ensinado por este. Sendo assim essas pessoas acham-se dignas de reinarem sobre todas os demais, não por que foram boas, justas, retas, honestas, sinceras ou santas, mas somente por que “fizeram campanha” para esse messias. Aquilo que na política é chamado de puxa-saquismo, boca de urna, panelinha ou propaganda enganosa, nos círculos religiosos é chamado de obra de deus!

O reflexo de messianismos desses tipos estamos acostumados a ver sempre que novas eleições se aproximam. A cada dois anos no Brasil, entre campanhas eleitorais para poderes municipais, estaduais e federais vemos o retrato do messianismo religioso se repetindo em massa no movimento político. Assim na terra como nos céus! Já dizia uma máxima atribuída a Hermes Trimegistus.

Nesses casos, não importa se você mora em uma cidade com 5 mil ou 5 milhões de habitantes, você sempre verá isso: pessoas orgulhosas, arrogantes e prepotentes que te trata mal mesmo antes do candidato delas ser eleito, que já se consideram empregas em determinado cargo, que faz picuinha, inferno e todo tipo de fofoca para quem estar contra tal político para que desse modo seu nível de “intimidade” cresça ainda mais com esse suposto futuro eleito.

Quando o candidato perde, choros e lágrimas serão colhidos juntamente com todo o ódio que a pessoa plantou durante a campanha.

Quando o candidato é eleito, se realmente manter a palavra com aquele “servo fiel” e lhe conceder o cargo, aí sim a população terá de lidar 4 anos com um “filhote de demônio” ocupando uma função pública, tentando prejudicar a todo o custo os que torceram contra tal candidato, beneficiando por sua vez os que apoiaram tal político, representação do messias local.

Segundo eles, uma mão lavada lava a outra. Eles apoiaram um messias, o messias ganhou e agora querem ter privilégios, esquecendo que qualquer político eleito é político de todos, para trabalhar por todos, e não somente para quem fez propaganda em seu favor! Os que assim agem, cospem na constituição e despreza todo avanço no campo do direito, da política e da ordem social que a humanidade já alcançou até então. Tudo isso por “um pedaço de osso”, para ficar roendo enquanto esse “messias” estiver no poder.

Quem já estudou um pouquinho a história secular sabe muito bem que essa não é uma receita muito boa e o que o resultado final desse conluio é apenas desgraças em pequenas ou grandes proporções.

Hitler, Mussolini, Stalin, Mao Tse Tung e tantos outros como estes não foram nada mais, nada menos que messias para o seu próprio povo. Esses messias prometeram um reino de paz e prosperidade infinita à todos os que se aliassem a eles e destruição total ou parcial a todos àqueles que por não se submeterem ao seu domínio eram considerados inimigos. Todos sabem no que isso deu... Quase 150 milhões de mortes em menos de 1 século.

E o que dizer dos messias proclamados por muitos religiosos? De acordo com o retrato falado destes, feito pelo seus próprio súditos, esses messias não será nada mais que um deposta, um tirano, um ditador, injusto, covarde e sem escrúpulo algum, que será manipulado por um punhado de gente boba, por meio de uma veneração barata, para que depois de o reino estabelecido este possa usar seus poderes para servir somente aos que lhe rendera cultos. O homem servindo a deus por um período de tempo, para que deus o sirva por toda eternidade. Era só o que faltava!

Os judeus por exemplo, esperam um messias há mais de 4 mil anos. Eles acreditam que este virar julgar o mundo e eles serão os privilegiados por que assim seus antepassados escreveram.

Os cristão dizem o mesmo e vão até mais além: dizem que o messias já veio, os judeus o rejeitaram e por isso serão punidos severamente quando esse tal messias vier, pois ele vai “passar na cara” de todos eles, de sua própria família que o rejeitou, enquanto vai pegar a cristandade toda e colocar junto ao lado dele, para reinar com ele aqui na terra por mil anos castigando todo mundo que não foi fiel a ele, e depois reinando eternamente nos céus verão os infiéis queimar para sempre no inferno....é só amor, puro amor!

Mais do que um messias, precisamos mesmo é que todos desenvolvam a consciência de nação, de povo como civilização organizada, metódica, onde tudo só funciona se todos fizeram suas partes.

Precisamos que esses tais que aguardam a vinda de um messias deixem esses pensamentos tribais e segregacionistas, onde cada tribo perde todo tempo do mundo tentando derrubar a tribo que considera inimiga e esquece de evoluir, ficando parado no tempo e aprisionando a todos que se envolvem nessa “vibe”.

A solução para os problemas da humanidade estar na própria humanidade. No máximo precisamos de um bom gerente, um bom administrador, que faça com que o próprio povo produza mais soluções do que problemas e não que estraguem o mundo tentando provar quem tem o melhor amigo imaginário.

Enquanto a ideia de um deus criador e pai de todos, que ama a todos mas que tem um grupo escolhido for propagado, os que deveriam criar soluções estarão a criar problemas tentando provar um ao outro um quem tem a imaginação mais fértil para criar deuses e qualidades surreais para estes.

Enquanto a corrupção, a veneração e a falsa bajulação for a moeda de troca que faz os deuses agraciar aos homens, nada de bom deveremos esperar de messias algum.

Pensem nisso. Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 23/10/19

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 24/10/2019
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