Processo de florescer.

Devagarzinho fui sabendo de mim... Não nascemos sabendo quem somos, a cada dia, a cada situação vamos conhecendo nossas manhas e entranhas de mulher... Conhecer cada gosto, cada desejo, cada limite. Enfrentar a solidão, fazer-se forte, dar- lhe o próprio apoio e seguir em frente, firme. O respeito mora dentro da gente e demoramos muito para aprender isso. Queremos ser boas, queremos agradar, queremos que dê certo, e nos ensinaram que ' dar certo' dependia apenas de nós, do nosso esforço e boa vontade. Uma mulher que se conhece de verdade trilhou um longo caminho de dores e desamores, fazer-se mulher num mundo machista dá muito trabalho. Largar o que te fere, tirar a espada do machismo do teu peito, libertar-se das amarras que dizem que tudo é natural, que você aguenta e suporta, porque afinal é uma mulher, e assim sempre bondosa. Não! Não podes ser boa com que te mata aos poucos, com o desrespeito, com que te fere, com a dor. Devagarinho tudo vai ficando nítido e você se torna lúcida, aos poucos vai percebendo que tudo foi necessário, a vida foi passando rápido. Mas você amadureceu o bastante para aprender a ficar sempre do seu lado e assim se fez forte e assim se tornou uma mulher de verdade, dona de si, sofrida sim, mas lúcida, livre e feliz. Porque a dor de ser mulher te ensinou a dignidade de ser quem se é, sem mais medo de recomeçar, todas as vezes que for necessário. E assim floresceu...

Ane Barros