O baio

Estava lá o velhito. Na varanda de sua casa, a repetir o costume dos entardeceres. Esquadrejando o horizonte, conferindo o ângulo em que o sol se derretia no rio grong. Durante vários momentos do seu dia ele imaginara este instantes. Agora, por exemplo era o momento em que gastaria a ultima palha boa guardada par este ritual. Ele até imaginara a velocidade do vento ameno balançando suas melenas, e o faísco preparado para a tarefa de acender o baio. Ele só teria tempo de repor seu estoque de palhas no outro dia, à hora da parada para o almoço. Era o ultimo baio, das ultimas 6 horas e considerando que o próximo seria ao meio dia de amanhã, o único em 24 horas.

Mas eis que surge seu filho, que ombreou com ele na roça o dia todo, já homem feito na alvura dos dezoito anos e certamente desconhecendo os pensamentos do pai, pede-lhe, confiante:

- meu pai, o senhor não tem uma palha para me emprestar para um cigarro?

E eis que o velho repete a tarefa de um pai e sorrindo e feliz, não só empresta sua ultima palha, mas enrrolando ele mesmo o cigarro, entrega para o filho e o observa faceiro sua felicidade ao fumacear as tragadas.

O jeito foi mergulhar no mate amargo, e nas conversas com a companheira, que o inverno se aproximava e carecia de encher o paiol de milho. Matar um porco gordo e renovar o estoque de banha.

A matéria prima com que foi construída essa leva de homens, parece estar em extinção.

Era abril de 1920.