Ao Jovem Pesquisador
O crescimento da pesquisa científica em todo o mundo fez com que surgisse a necessidade de se desenvolver métodos de avaliação capazes de embasar o financiamento dos diferentes projetos de pesquisa e, nesse contexto, o número de artigos publicados passou a ter um grande peso.
O jovem cientista, ao ingressar na carreira, passou a ter como meta a publicação de artigos, o que acarretou um grande problema: pessoas que fazem artigos, enquanto deveriam estar fazendo ciência.
A ciência é desafiadora. É o que se faz pelo prazer de se fazer. A hipótese, o questionamento e a dedicação na obtenção das respostas são aspectos inerentes à atividade do pesquisador. Nem sempre a pesquisa gera um produto, mas tem por dever gerar conhecimento...e, o conjunto desses vários “saberes” contribui para o desenvolvimento de nossa sociedade. Fazer ciência é querer ir sempre além! Quando você coloca o artigo como meta, a ciência fica em segundo plano, o que é um perigo. A qualidade do que se faz não é prioridade.
O que se observa são cientistas com um elevado número de publicações que pouco contribuem para o avanço científico, muitas vezes fazendo o mais do mesmo. Mas, por sorte, há os que produzem racionalmente artigos de elevado impacto em suas áreas, com boa repercussão.
A verdade é que, como tudo na vida, o jovem pesquisador deve buscar o equilíbrio. Não permitir que a pressão pelo artigo publicado tire a empolgação pela descoberta. Que cada novo achado não seja o fim, mas uma porta a novas descobertas. A pesquisa exige do pesquisador criatividade e originalidade. Tenho ido a congressos e me espanta o fato de que muitas vezes o que diferentes grupos fazem é “reproduzir” linhas de outros grupos mudando apenas o modelo. Há uma espécie de modismo em ciência...mas pouco risco, pouca inovação. O meu conselho aos jovens é...OUSEM! Ao cientista cabe a ousadia.
Os grandes avanços científicos vieram de pessoas que não necessariamente eram extraordinárias, mas de pessoas que tiveram coragem de se desafiar e não permitiram que a sua ciência fosse mais do mesmo. Coragem e determinação...curiosidade e inquietação...seriedade e dedicação...boas perguntas... isso deve mover o jovem cientista...o resto vem em consequência do trabalho bem feito.
O jovem cientista não deve buscar o brilho pessoal. O interesse deve ser pelo resultado do estudo e não pelo autor do mesmo. Só o conhecimento nos livra da ignorância e é importante! Vive-se numa geração conhecida por elevado egocentrismo, muita necessidade de visibilidade...mas a boa ciência fala por si mesmo, independente de quem a esteja conduzindo.
Foque em sua pesquisa. Concentre-se no que realmente importa. Tenha foco! Um bom cientista precisa de foco...ainda que nem sempre isso seja algo fácil de se conseguir.
Não tenha tanta pressa...as coisas só acontecem no momento certo...e, como diria um grande escritor brasileiro, se ainda não alcançamos os resultados esperados, é porque ainda não chegamos ao fim.