UM 'QUE DE LIBERDADE', UM 'QUE DE SOLIDÃO'

Nas manhãs dos domingos, enche-me de prazer a velha rotina matinal: chegar à padaria, procurar a cadeira mais alta que permita balançar as pernas sem tocar o pé no chão, sentar em um canto onde o sol mal possa chegar, pedir o café mais quente e forte para então despertar para a vida. Ali, naquele canto, sem celular, sem televisão ou jornal, fujo da vida e dos problemas porque, afinal é domingo e domingo pede paz, mente limpa, leveza na alma.

Os cotovelos apoiam-se na mesa e as mãos seguram o queixo porque ainda há resquícios de sono da noite. Enquanto a moça prepara o café com muito esmero, é possível ver que algumas pessoas passam pela rua ainda despenteadas e caras abarrotadas levando suas solidões nos ombros. O sol vai subindo e mais solidões vão surgindo, uma daqui, outras dali, outras lá, uma infinidade delas; em questão de minutos a rua está infestada. Ninguém olha no espelho pra não ver solidão dobrada e assim todo mundo zela pela sua.

Depois do café, sempre pego a minha solidão e faço soma as já acordadas pelas calçadas. Falo bom dia para cumprimentar um ou outro que gesticula com a cabeça enquanto volto para casa. A manhã se completa na varanda sentado em uma velha poltrona, contando sempre as mesmas histórias para a minha própria solidão.