FÉRIAS DE MIM
Depois de tanto ver o tempo passar você percebe que precisa de um tempo, um tempo porque a vida não está boa, as coisas não estão saindo como previstas ou sequer estão saindo. Muito infortúnio para uma só alma e chega a querer-se umas férias de si mesmo, querer eximir-se da responsabilidade de existir ou da obrigação de levantar-se da cama e lidar por mais um dia que seja com o ser inumano.
O travesseiro já não consegue presenciar tanta agonia presente em um único ser por tantas noites e até o cuco do relogio recusa-se a sair da casinha de hora em hora por saber que há uma vida em eterna insônia ali do lado de fora.
Martírios e interrogações a castigar a mente como uma penitência por noites a fio, o sono, que outrora fazia companhia, extravia-se pela estrada e tarda a chegar, o nó na garganta e o aperto no peito aliam-se para mais um pouco então judiar.
Nos minutos finais da noite, a vida adormece, a carne estremece e livra-se de toda aflição e por pouco tempo reina um momento que mais parecia uma utopia porque todas as outras vidas põem-se logo de pé, compartilhando o modo piloto automático até cada uma querer suas próprias férias de si.