LOUCOS, HIPÓCRITAS OU INSANOS?

Onde a loucura prevalece, manter o equilíbrio se tonar uma ofensa pessoal!

Por Antônio F. Bispo

Quem sabe, alcançar a lucidez e permanecer em um estado constante de sanidade seja uma tarefa difícil para a maioria de nós, principalmente para quem tem de conviver com a loucura consciente ou inconsciente de tantos outros ao seu redor.

Alguns poucos dos que ainda conseguem manter sua mente sã por mais tempo em meio a uma legião de alucinados precisam se fazer de loucos em certos casos para não serem cassados pelos “chefes dos hospícios” e todos que estão sujeitos ao seu comandos. Outros de nós acabam se enturmando tanto com os loucos que não conseguem mais definir que papel ocupam e se tornam loucos também, tendo pequenos lapsos de sanidades ocasionais e sofrendo bastante ao perceber o que se tornara.

A opinião pública em geral enaltece a loucura e persegue a lucidez! Os que conseguem se manter em um estado consciente podem ser tachados como hereges e antiquados em uma época, para quem sabe serem idolatrados em uma outra depois de mortos, onde os loucos irão idolatrar a imagem que se foi feito desse e não de suas ideias e ensinamentos, pois ao enaltecer um ídolo consagrado por muitos, o idólatra sente-se como se fosse este ao falar dele para outras pessoas e toda honra e veneração que atribui ao ser venerado indiretamente estar atribuindo a si mesmo ao se fazer mensageiro dessa divindade humana ou metafísica.

A loucura é tipo uma amiga, irmã, mãe e companheira da espécie humana mas poucos se dão conta disso. Quem sabe outras espécies estejam livres desse tipo de mal.

Não é à toa que temos na mistificação e demonização das coisas e pessoas nossa principal bengala que funciona também como válvula de escape emocional.

A religião existe justamente para isso: para que por meio dela possamos fazer de forma legal e coletiva tudo aquilo que em outra situação poderia ser considerado imoral e ainda assim sermos chamados de santos e escolhidos de alguma divindade qualquer.

Infelizmente muitos sistemas judiciais estão do mesmo modo contaminado fazendo com que pessoas que agem de modo criminoso sejam chamados de “seu doutor” enquanto que o que sofrera o dano seja considerado o criminoso. Um título ou a riqueza de alguém faz com que a lei em certos casos vire apenas um conceito que favorece a quem paga mais e não a quem realmente deveria.

Como exemplo disso temos os que acabam machucando alguém defendendo a sua própria vida de um ataque traiçoeiro e covarde e são tidos como se fossem assassinos enquanto quem tira milhares de vida em nome de uma “causa santa” será visto como um herói nacional uma pessoa a quem se deve prestar reverencias. O mesmo acontece com grandes personagens da política cuja história pode ser escrita e reescrita quantas vezes for necessária de modo que um vilão tenha sempre a aparência de um mocinho ou vice-versa.

A vida tem dessas coisas e compramos sempre a versão que mais nos agrada ou a versão consumida no atacado mesmo que isso venha ser insalubre. Isso é loucura, e os que se opõe a isso é que são considerados loucos.

A loucura na maioria dos casos é uma escolha, a menos que pelo cabrestão da religião e de outros mecanismos de controle social o indivíduo não saiba que existe outra escolha.

Não me refiro nesse texto àquela loucura clinicamente comprovada, causada por um grave trauma ou degeneração dos neurônios em certos indivíduos. Me refiro àquele tipo de loucura que estar mais ao estilo consciente, cara de pau de ser, de falta de caráter e irresponsabilidade coletiva socialmente tolerável para determinado fim.

Aquele tipo de loucura em que uma pessoa planta sementes de milho e espera colher macaxeira ou que tenta pescar tubarões em uma mar agitado usando na ponta da vara de pescar uma simples linha caseira de algodão mesmo sabendo que vai dar errado, para depois sentir-se vítima de algum infortúnio.

Me refiro ainda àquele tipo de loucura em que a pessoa nada faz para melhorar a própria vida, espera que ela melhore do nada, sem esforço algum, e como isso não vai acontecer, ela irá pôr a culpa em alguma divindade metafísica, na política ou em alguma teoria conspiratória. O tipo de loucura em que diariamente no modo individual ou coletivo as pessoas saem a espalhar sementes das discórdias e da destruição e esperam que a paz e a harmonia se estabeleçam de modo milagroso entre os povos e como isso jamais ocorrerá, irão dizer então que tudo isso faz parte de algum plano divino e que algum dia um cristo qualquer irá surgir e por ordem em tudo!

Como? De que modo isso seria possível?

Para que essa paz ocorresse, a única solução seria justamente eliminando esse tipo de gente que pensa assim, e que vive alheio da relação causa e efeito de tudo o que fazemos ou dizemos, mas são justamente esses que se declaram eleitos de um deus qualquer e que irão reinar com ele para sempre ao seu lado e que os demais (principalmente os lúcidos) vão todos ser ferrar... Vai entender!

Os que vivem imersos na loucura acreditam que a solução tem de vir de fora e não do próprio esforço em procurar ou fazer mudanças. Fantasiam então mentalmente um mundo perfeito mas nada fazem para que isso aconteçam e de modo arrogante e deliberado cavalgam a burrice, galopam a idiotice e ajoelham-se diante da babaquice e dizem: “somos puros, somos santos, somos especiais, somo a elite, somos os escolhidos...”

Criar uma ou várias realidade paralelas é sem dúvida uma das habilidades preferida dos que sofrem desse tipo de mal. Quem sabe no futuro um dos maiores problemas que poderemos ter com a I.A (inteligência artificial) seja justamente esse, o nosso defeito de viver um estado dubio de pensamento de forma consciente, que para alguns se orgulham como se isso fosse uma qualidade, um mérito. A vida é uma equação e a ordem de alguns fatores irão sempre alterar o resultado do produto. Como as máquinas usam a lógica para resolver tais equações, em um futuro próximo poderemos ser destruídos por elas mesmas, quando estas passarem a conviver conosco pois não saberão lidar com isso que quase todos temos.

Dizer ao mesmo tempo que deus estar no controle de tudo e o diabo estragou os planos do deus invencível e onisciente é moda entre a maioria dos cristão por exemplo. Uma pessoa que use pelo menos dois dos dentre bilhões de neurônios que existe no próprio cérebro, de modo consciente jamais diria uma coisa dessas, mas para alguns é um charme falar besteira. É prova viva de fé. É um mérito dos “escolhidos”.

O discurso religioso cai como uma luva quando queremos nos esquivar de nossas ações para não ter de arcar com os seus resultados de tanta insanidade.

Depois da “merda feita”, de arrasarmos com a vida, a moral ou a honra de alguém (ou a nossa mesma) ou de destruirmos um ecossistema inteiro, basta fazer uma oferenda, pagar uma penitencia, cantar um louvor, sacrificar um animal ou simplesmente fechar os olhos e dizer que deus perdoa a todos e que tudo vai ficar bem e isso basta!

Se isso não for o bastante basta dizer que a culpa é do diabo que “possuiu” o indivíduo para fazer o mau enquanto deus “dormia”. Ser cheio de deus e do demônio ao mesmo tempo é tão comum hoje em dia na maioria das igrejas que eles nem se preocupam mais em se deixar filmar, antes sim fazem espetáculo em cima disso, anulando por si mesmo a própria crença com tanta maluquice.

Nas relações sociais do dia-a-dia e principalmente nos conceitos de certos ramos de profissões é que vemos se agigantar o quanto somos loucos e o quanto aceitamos coletivamente a loucura como se fosse algo normal.

Alguns “profissionais da justiça” por exemplo, celebram ao conseguir fazer com que seu cliente, um estuprador, um grande corrupto ou um serial killer seja posto em liberdade mesmo sabendo da capacidade destrutiva do seu cliente, que inclusive ele mesmo e sua família podem ser vítimas das ações deste que ele acabara de alegar inocência.

Ao “provar nos termos da lei a inocência do seu cliente”, o mesmo comemora em alguns casos até com a “oposição” pela “genialidade” que tivera, pela destreza em manipular as leis ao seu favor e mostrar o quanto é “inteligente”. Quando perguntado de modo particular por alguns lúcidos do seu círculo de amizade sobre o que acabara de fazer o mesmo diz: “estava apenas fazendo o meu trabalho, não tenho nada a ver com isso e se eu não o fizesse outro o faria...”

Se isso não for um tipo de loucura o que será? Fantasia? Barbárie?

Estando presos em um mesmo planeta, todos poderemos ser afetados por uma mesma causa de forma direta ou indireta. As vezes penso que alguns profissionais desse tipo vivem em outro mundo e ao encerrar o expediente, entram em algum tipo de tele porte mágico e vão para outra dimensão totalmente pacífica sem sofrer as consequências das próprias ações. Por outro lado entendo que há tipos de gente acha que dinheiro compra tudo, inclusive a própria vida depois de jogá-la fora por alguns trocados ganhos por meio de “acordos infernais”.

Sendo assim, na maioria dos casos, de forma explicita, as pessoas que “combatem a violência” são as mesmas que chamam de otário, besta e retardado aqueles que mediante situações de reação instantânea movida por forte emoção, decidem não fazer nada e desse modo passam a desprezar o que não reagira como previamente esperado e a chamar de esperto o que cometera o dano. Dá pra entender?

Se você reage de modo violento a uma traição conjugal por exemplo você é um monstro, uma bárbaro, merece ser punido com todo tipo leis possíveis e que de preferência pague com a própria vida.

Se você não reage você um corno, é conivente, gosta de ser traído e merece que vários outras pessoas se aproveitem da tua “ingenuidade” pois você nada fez, não honrou a “sua classe” e merece mesmo apanhar muito. Dá pra imaginar? O que a sociedade realmente espera que façamos? Manter a lucidez é que não é! A lucidez fere, humilha e diminui o louco sem que o lúcido nada precise fazer para isso, apenas se mantenha com a cabeça no lugar, no controle das próprias emoções sem se deixar levar pela manada enfurecida ou que se dobra diante do chicote do fazendeiro. Por isso o motivo de tanto incomodo com os que são “diferentes”.

Do mesmo modo, as pessoas que geralmente vivem a defender abertamente as democracias e o direito à liberdade de expressão a todos, geralmente são as primeiras a se ofenderem e a perderam a linha quando estão diante de uma opinião contrária a sua própria.

Nas redes sociais esse tipo de comportamento é mais comum e gera todo tipo de adeptos da idiotice, pois com xingamentos, palavras que ofendam a honra ou a moral das pessoas esse tipo de gente achar estar expressando “democraticamente” tudo aquilo que pensa e ao invés de combaterem o ideal exposto atacam diretamente e de modo desrespeitoso o emissor da ideia.

Ainda assim o conceito de bom ou mau e de certo ou errado seguem padrões de interesses pessoais e não exatamente o do sentido que essas palavras possuem.

Nesses termos uma pessoa má por exemplo segundo essa ótica, não é uma pessoa que comete maldades, maltrata alguém ou alguns, mas uma pessoa que deixou de ser trouxa, que cortou relacionamentos abusivos, que não se permite mais se capacho de gente aproveitadora e que acordou pra vida. Do mesmo modo, a maioria considera como gente boa, pessoas que concordam com seus pontos de vista sobre algo, que acenem para as ideologias, que defendemos ou que tenham os mesmo inimigos em comum que temos mesmo que essa pessoa venha ser a pior de todas as criaturas existentes. O mau não é exatamente quem faz o mal e o bom não é o que faz o bem. É apenas questão de simpatia e antipatia confundidos com benesses e malefícios de interesses próprios.

Muitas pessoas que levantam a bandeira da honestidade em tudo geralmente são as mesmas que não podem ver algo fácil, “dando bobeira” que já toma para si como se fosse seu, e que ainda faz discurso de ódio quando houve dizer que alguém achou objetos de valores ou uma grande soma em dinheiro e devolveu ao dono. Chama de besta, otário e trouxa ao que agira de modo honesto enquanto prega aos 4 cantos do mundo a questão da retidão.

Poderíamos enumerar dezenas de outros fatores que se podem denotar insanidade coletiva e o quanto somos envolvidos nela mesmo sem perceber. Em outras ocasiões somos os autores dela.

Parar e pensar e se perguntar: o que estou fazendo? Por que estou fazendo isso? Para quem estou fazendo isso? Que resultado terei fazendo isso? E ainda se existe outro meio de se fazer o que estar sendo feito pode fazer com que saímos do estado robótico de letargia e assumamos o controlo do nosso ser. Assim deixamos de ser manada e passamos a ser indivíduos.

Um homem só é realmente livre quando consegue identificar o porquê e para quê de suas ações. Um homem só será realmente lúcido quando entender que o resultado de suas ações, suas palavras, seus sentimentos e emoções é que farão construir a sua realidade do presente e do futuro. Quando deixarmos de terceirizarmos nossas responsabilidade e aprendermos a olhar os fatos por vários ângulos diferentes, calculando com precaução infinitas possibilidade de uma mesma tomada de decisão, então poderemos dizer que alcançamos um pouco de lucidez. De outro modo poderemos estar apenas seguindo a manada.

Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 25/8/19

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 25/08/2019
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