NA FALTA DE CARÁTER DIGA: “DEUS PERDOA...”

Tragam um óleo de peroba para alguns “cara de pau da fé”!

*Por Antônio F. Bispo

Para muitos, fazer parte de uma massa que acredita em uma divindade metafísica como patrono pessoal tem lá os seus “benefícios”: você poderá usá-lo para ameaçar seus inimigos quando eles estiverem te aborrecendo de algum modo ou você poderá também contratar esse seu patrono para te defender toda vez que tu quebrares importantes acordos sociais, provocando diversos males à vida alheia.

Estar escrito que jesus mandou lançar sobre ele todos os seus pecados e alguns crentes levam isso muito a sério, pecando contra todos para depois ir pedir perdão ao seu deus construindo uma macabra relação de cumplicidade.

Pisar, humilhar, maltratar, ludibriar ou tornar a vida de outrem um verdadeiro inferno e depois ir pedir perdão a deus e não a pessoa cujo mal você provocara tem sido parte da “didática do filho da puta” que parece ser ensinado de modo não verbal na maioria das igrejas. Alguns se tornam verdadeiros atores nessa arte que mal percebem o péssimo papel que estão fazendo “cuspindo” em tudo aquilo que chamam de santo.

Nesse conceito subtende-se que a tudo deus perdoa se souberes interagir com ele. Basta só ter fé e estar filiado a um grupo religioso para que eles te digam o preço que deus vai cobrar para te perdoar e passar o sangue dele em sua vida, zerar o “contador de pecados” e expulsar os demônios que te acusam sem que você precise se corrigir com quem realmente deveria.

Depois que tu pagas os 10% do seus rendimentos ou a meta que eles estipulam, eles mesmos “atestem” a validade do seu perdão e pronto! Você pode aprontar de novo todos os dias, ferrar com a vida de muita gente, quebrar todos os conceitos daquilo que tua própria fé afirma ser um padrão de santidade e mesmo assim deus te perdoará se souberes o que fazer para aquebrantar o coração dele e trazer ele para o seu lado.

Uma vela, uma oração, uma oferenda de comidas, de bebidas, de esforços físicos inúteis, de martírios e automutilações, de sacrifícios de inocentes animais ou até mesmo de pessoas...Toda divindade tem seu preço!

É provável que nenhuma delas tenham valor algum para quem já se libertou desse sistema em que corrupto e corruptor trocam favores entre si. Cada divindade tem um custo para ativá-las e pô-las para trabalhar em favor de quem paga mais ou contra quem nem se quer sabe que estar sendo vítima de maus intentos por parte de algum devoto “cheio de deus”.

Todos eles quando buscam tais divindades como arma de ataque ou defesa dizem sempre: “estou apenas exercendo minha fé”! Ou ainda dizem: “é assim que exerço a minha espiritualidade”! Ou pior ainda: “quando clamo a deus eu só faço o bem...”

Esse tipo de bem ou exercício de fé incluem campanhas de orações ou sacrifícios de animais para deus ou determinado guia ajudar a conquistar o marido ou mulher de outros, para arruinar negócios e casamentos ou fazer com que determinada pessoa padeça com muito sofrimento de uma doença grave. O campo da fé é um terreno macabro onde com o aval dos deus vale tudo para conquistar o que se quer não importa quais sejam os métodos utilizados.

Coisa mais linda é servir a deus desse modo! Tragam um Oscar para esses atores, que encarnam tão bem o personagem que encarnaram que aos seus próprio olhos chega ser algo digno de louvor!

Plac, plac, plac...Palmas para todos eles que conseguem fundir a mentira, a psicose, a paranoia e a falta de caráter em um só personagem em suas vidas e vivendo com suas máscaras como se fossem seus próprios rostos!

Àqueles que mesmo praticando um mau à vista de todos conseguem convencer a si mesmo e a todos os outros personagens do enredo de que estão servindo a deus e fazendo o bem!

Um brinde a todos aqueles atores, que mesmo depois de passarem um dia inteiro planejando ou executando como se apossar dos bens alheios conseguem chegar na igreja à noite, pegar o microfone e dizer diante de todos: “senhor, sou teu servo, continua me usando como tu queres”!

Um brinde também àqueles que mesmo depois de matar ou encomendar a morte de alguém próximo ou da própria família ainda vai ao velório orar pela alma do morto para que deus o receba. Coisa mais fofa! É deus puro!

Não existe um “ato de fé” e de conforto maior para alguns “servos de deus” do que ferrar o tempo inteiro com a vida dos outros por meio de fofocas, calúnias, trapaças, má fé e todo tipo de maus intentos e depois de tudo dizer: “senhor, tu me conheces, tu me sondas, tu sabes quem eu sou, em como sou falho e fraco(a) mais o senhor a tudo perdoa...”

A igreja vai ao delírio mediante uma confissão dessas. Se for num ambiente pentecostal tem até línguas estranhas, sapateado, aviãozinho e ré-té-té! E se uma confissão pública dessa vier do “anjo da igreja” depois de ter sido pego em flagra em algum delito grave, a igreja tem até visão, revelação e tudo mais.

Quanto maior for a “cagada santa” de alguém com esse perfil e quanto mais esse “se humilhar na presença de deus” maior êxtase causará aos ouvintes, e mais elevar-se-á o padrão de santidade daquele indivíduo que cometeu os delitos e se “arrependeu diante de deus” segundo o próprio grupo.

Parceria com deus é tudo! Ande em dias com seus dízimos e sua obediência cega aos líderes religiosos no mais tudo se resolve! De um ser homicida, estuprador, e causador de todos os tipos de males a tudo e a todos, você pula para a categoria de santo, ungido, ou canonizado em questão de segundos basta o líder te declarar santo ou derramar um óleo barato em sua cabeça.

Não há uma malignidade maior do que está: a de recorrer as “forças divinas” para desejar ou fazer o mau a outrem e ainda continuar pagando de pessoa de bem só por que tem fé em deus ou acredita em divindades metafísicas!

Essa quem sabe seja a razão maior pela qual é bem mais fácil arrancar dinheiros e favores da plateia crédula oferecendo um paliativo baseado no imaginário coletivo, do que convencê-las de que são elas mesmas as causadoras de todo o bem e mal ao redor destes. Pagar para ser convencido das próprias mentiras é uma arte rara e secular que só o ambiente político e religioso é capaz de fazer com perfeição.

Sai mais barato para muita gente “devolver” 10% dos seus rendimentos “para deus” e continuar mentindo para os outros ou para si mesmo dizendo ser uma coisa que não é, esperando uma recompensa ou paraíso futuro que sabe que nunca vai acontecer, do que encarar certas consequências reais e imediatas, comuns a todos os cidadãos que decidem viver em sociedade de modo civilizado.

Por esse motivo muita gente não ver incômodo algum em continuar contribuindo para a “obra do senhor” ou vivendo “debaixo das leis de deus”.

Viver sob as leis de deus é fantástico, principalmente se você mora em um país subdesenvolvido de maioria cristã. Quando estiver fazendo algo visivelmente maligno e ardilosamente planejado basta dizer: “só deus conhece o meu coração”! E se ao disser isso a pessoa fizer carinha de choro dá até pra arranjar até um fã clube de apoio, abrir uma igreja ou coisa do tipo.

Ahhhhh...é uma delícia servir a deus! Ele perdoa tudo! Não importa o que você faça, se no final do dia, antes da refeições ou durante as liturgias de um culto religioso em honra ao nome do ser invocado, basta falar qualquer bobagem envolvendo o nome dele e tudo se resolve, fica tudo bem, o espírito do opressor fica aliviado enquanto que a vida do oprimido ou de quem sofrera o prejuízo que se exploda!

Afinal, jesus mandou perdoar 70x7 e se quem sofrera o prejuízo não perdoar o que intencionalmente provocara o dano, o erro do oprimido será maior que o opressor!

Dá pra você? Viu como as leis de deus são perfeitas? Quanto mais errado for o sujeito, mas deus o ama! Por isso alguns não param de crescer suas listas de pecados intencionais.

A culpa maior é de quem não foi capaz de perdoar segundo esse conceito. Isso vale para a menina de 7 anos que foi estuprada pelo crente mais fervoroso da igreja ou pelo marido traído que acreditava que sua esposa estava prestando serviços relevantes na “casa de deus”, quando na verdade estava apenas prestando serviços sexuais particulares ao anjo da igreja e rei da hipocrisia. O que cometera o dano será perdoado pois pediu perdão a deus enquanto o que sofrera os malefícios arderá não inferno por que não foi bom o bastante para perdoar o ofensor? Tem jeito uma coisa dessas? Além de cometer o dano ainda querem presentear o ofendido com um diploma de retardado!

Desse modo, errado sempre é quem não perdoa! Com cristo é assim: “lavou, enxugou tá nova”! Afinal o seu sangue de jesus purifica o homem de todo pecado, não é? E o seu santo espirito derrama o óleo sobre o seu povo. Sobre alguns é óleo de peroba, para aprontar todas e continuar de cara lisa! Deus não é maravilho? Em sua “onisciência” ele já havia pensado em tudo isso e inclusive mandou alguns homens reclusos em seus concílios, escreverem aquilo que seria interpretado como sendo dito pelo seu filho, o cristo, o improvável na sua concepção virginal, o que não se encaixa no perfil cultural e “racial” de seu povo, cujas referencias em pinturas sobre si não condiz com o perfil apropriado e cuja falha no lapso temporal não confere com a de outros grandes homens vividos em sua época.

Tudo foi pensado “por deus”, pois ele sabia que os mais poderosos é quem mais iria precisar dos seus favores para continuar oprimindo, extorquindo ou enganando o povo em seu nome.

Deus protegeria os líderes e em troca eles arrematariam um número maior de adoradores para que seu ego infantil fosse inflado, para que assim ele mesmo acreditasse ter virtudes que nunca teve.

Nada mais justo não acham? Uma mão lavada lava a outra! O deus bíblico que os líderes religiosos invocam para te guiar e te proteger quando tu paga seu dízimos em dias e mantém a cega obediência, será o mesmo deus usado contra ti quando não puderes mais fazer suas oferendas ou manter seu nível cego de obediência a um charlatão qualquer!

Que sina triste! A arma que usastes para perseguir os outros será a mesma que irá te matar e te encaminhar para o inferno se não andares na linha até o fim de tua vida, como ovelhas conduzidas ao matadouro. O melhor de servir a deus e obedecer aos seus mandamentos segundo o que pensa o senso religioso comum, é que professar a fé é mais importante do que viver a própria fé!

Nesse imenso país de maioria cristã, é na crença desse perdão divino que líderes religiosos e políticos bem como oportunistas de todos os tipos, faz com que violência, falta de honestidade e criminalidade estejam em posições sempre elevadas se comparadas com outros povos “sem deus”.

Na prática nada significa ter deus, ser servo de deus ou crer em deus se importar-se com os danos causados a outros nada significa. Para quem já estudou um pouco da história da igreja, sabe muito bem que foi e ainda é em nome dos deuses que as maiores maldades são cometidas.

Pensem nisso. Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 21/7/19

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.