DE VOLTA À ALEGRIA “VINTAGE”

...num rápido ensaio dos nosso tempos...

Vira e mexe observamos um certo retorno melancólico ao "modus operandis" da nossa vida em sociedade.

Todo mundo sabe que estamos numa rápida e impressionante transformação social, atualmente não apenas amparada pela revolução digital mas principalmente pela transformação dos “usos e costumes” que dela provêm, o que denota uma nítida revolução “antropológica” no planeta.

Todavia, um fato me chama a atenção: estamos constantemente ressuscitando conceitos óbvios de vida algo vintage, desde a sustentabilidade ambiental até tudo que dela influi inegavelmente na qualidade da longevidade das atuais gerações.

Também temos uma certa necessidade de comparar o ”que era” com o “que é” e chegamos à conclusão que nem tudo que é inegável progresso tecnológico necessariamente significa progresso civilizatório e felicidade individual e ou coletiva.

Curioso que mesmo os bem jovens já comparam os "tempos" que se aceleram na passagem e nas transformações.

Exemplo disso, e a despeito das faces humanas de todas as idades (quase full -time!) estarem grudadas nas telas digitais, é que as pessoas cada vez mais procuram pelo óbvio da sua essência com se estivessem meio perdidas de si mesmas: redutos de natureza virgem, onde se relembra com entusiasmo- como se fosse a tal lembrança um ato nunca visto de profunda manifestação da inteligência humana- a necessidade óbvia e vital que temos dum ar puro, duma água limpa, duma comida saudável, duma plantação limpa, dum saneamento básico planejado, dum lixo no lixo, duma reciclagem programada, duma arte que comunica verdadeiros sentimentos, dum compromisso social com o outro, .

Nas relações sócio-pessoais, então, observo que a "coisa" está surreal: tenho ouvido e sentido que a dificuldade de convivência e entendimentos está na casa das crescentes impossibilidades.

Ouço as tais queixas em todas as idades, todos os dias.

Talvez tal explique a onda de Pets que passam progressivamente a fazer parte das famílias em transformação, inclusive a substituir pessoas... São eles que fazem comunicações plenas e telepáticas com os seres humanos da modernidade.

Vejo pessoas bem situadas, bem conectadas, num mundo em que aparentemente nada lhes falta mas que sentem falta dum tudo que não sabem explicar.

Um estado social de vazio endêmico, é o que vejo.

Assim, assistimos ondas de “movimentos vintage”, de retorno a alguma coisa ou fato, que nos faça o link com o que certa vez na vida nos fez mais plenos, verdadeiramente humanos.

A Humanidade parece um iô-iô, lembram dele? Vai e volta de si mesmo, em círculo contínuo do e para o mesmo lugar de partida; e a despeito de toda evolução quiçá ilusória, parece não sair do lugar comum: a constante procura por um sentido existencial.

Em tempos de comandos por aplicativos, o marketing, esse das propagandas ao público, mostra bem esse movimento de contraste e de retorno ao passado recente ou longínquo: uma reminiscência em disco em vinil aqui, o relançamento dum bichinho virtual da moda passada, um modelo de rádio retrô mas em “high tech” ali, um objeto de decoração que nos transporta a algo de acolá, uma arte que remonta a moda e os cenários de amanhã nos moldes de antigamente.

Às vezes voltamos ao vintage do surreal na marra da vontade dos “homens”: aos lampiões a gás, aos fogões a lenha, à folha de bananeira no buraquinho da terra feito para os dejetos fisiológicos…um certo cenário vintage que nos provoca um choro fundamentado…por todos os cantos.

Mas se o foco é o mercantilismo do consumo, o vintage hoje tem seu espaço garantido...porque tal mexe com o emocional coletivo.

Até aquele refrigerante mais famoso do mundo pensa, num ato “super inovador” à quem ainda não viu certos filmes, em retornar suas embalagens de vidro, como o era na devolução dos frascos dos líquidos consumidos nem tão antigamente assim.

Talvez, como já foi escrito pelo poeta, nos sejam “os entediantes museus das grandes novidades” a grande saga humana a ser vencida, os que pontuam nossas reflexões sobre parte da nossa existência e da nossa primordial passagem por aqui…

Descobrir o novo que nos realiza...em plenitude.

Para terminar, nessa época que caminha para o domínio da robótica, da mecatrônica, em que tudo quer nos convencer que as máquinas ocuparão o nosso lugar, numa flagrante tentativa assustadora de nos separar de nós mesmos, conto que foi um incrível comercial de carro “ultra tech” que me trouxe a essa reflexão que compartilho com quem me lê.

Trata-se duma cena em que um bebê a bordo é transportado, momento em que também o computador de bordo, pela PRIMEIRA VEZ, fala algumas palavras concomitantemente às primeiras palavras proferidas pelo bebê. Aquele momento que quem é pai e mãe jamais esquece...

A mãe, então, exclama extasiada :”ele falou!” referindo-se ao bebê, provavelmente.

E o pai comemora o desempenho da fala…seria a do computador? :

” sim, ele falou!”, nos levando à confusão e à reflexão de quais primeiras palavras seriam as mais importantes de serem ouvidas naquele novo contexto de mundo: as da criança…ou as da máquina?

Parabéns ao idealizador da tal propaganda…achei simplesmente genial.

Assim concluo que meu sonho de consumo vintage é o de que um dia possamos retornar ao primordial das nossas relações humanas e que consigamos, ao nos diferenciar das máquinas, discernir as nossas próprias e mais profunda vozes inaudíveis.

E que na superficialidade da nossa era de vida tão digital possamos clicar um botão único real, checar com segurança vital o propósito de alcançar o íntimo do nosso coração e prontamente nos identificar a nós mesmos:

“DESCULPEM, EU NÃO SOU UM ROBÔ”.

E se sentir pleno e legitimamente aliviado por isso…