Pedacinhos de Felicidade
Pra mim, felicidade é quando bem no meio do dia eu recebo flores do meu pai que mora em São Paulo, ainda que sejam em forma de imagem via whatsapp. É quando eu chego em casa muito cansada e minha irmã pula no meu colo e me enche de beijos recarregando toda minha energia – só consigo concluir que isso funciona melhor que cafeína. É quando eu acordo e simplesmente um café com torradas feito exclusivamente pela minha vozinha de 70 anos de idade me espera na mesa. É a surpresa de um abraço mais demorado que o normal. E felicidade não é só questão de afeto. Felicidade é ter ânimo ao acordar cedo e sentir-se bem por ver o nascer do sol, ir a pé pra casa tarde e ter o deleite de poder fazê-lo olhando as estrelas. Pra mim, é quando eu saio de casa trocando “bom dias” entre os vizinhos. É elogiar o padeiro, entrar no ônibus e receber o sorriso do motorista. Trabalhar com alguns pais grosseiros, crianças birrentas me chamando de tia, para em alguma parte do dia receber milhares de beijos de uma das minhas sobrinhas, e ver um dos meus supostos sobrinhos me desenhando num pedaço de rascunho. É poder gargalhar vendo como é simples fazer a felicidade dos meus birrentinhos. Felicidade é minha mãe dizendo que tem saudades, um amigo antigo passando pra dar oi, um professor que passa e pede sobre a minha nova vida. É um “boa sorte com o seu livro”. É quando o espelho sorri pra mim e eu sorrio pros meus problemas. Aliás, felicidade está longe de ser a ausência de problemas. Posso não achar a definição final pra o estado (se é que é um estado) de felicidade, mas posso dizer que ela está diretamente ligada aos problemas porque ser feliz é apreciar uma boa conquista. E conquista boa mesmo é aquela que chegou a ser quase impossível por estar repleta deles – os nossos problemas. Felicidade é quando meu não namorado é um cara não importante. É ter feito um amigo parar de chorar, é presentear alguém que eu gosto.
E assim como eu não acredito que felicidade é a ausência de problemas, eu não acredito que felicidade é a ausência de sentimentos ruins. Só quem já teve a sensação de culpa sabe o quão bom é deitar-se no travesseiro e não ter ela por perto. Acredito é que a maior parte dos sentimentos, por pior que sejam são uma espécie de impulso para se chegar lá. Você já parou pra pensar que não fossem as decepções de uma nota baixa você nunca teria chegado ao 10? Se não fosse a dor de um coração partido, talvez você não soubesse o que é apreciar a própria companhia. Não fosse o desapontamento com certas pessoas, não correríamos o risco de permanecer junto a quem não nos faz o bem que merecemos? Felicidade é conseguir afastar as agonias ainda que temporariamente e olhar na cara dos medos. Correr descalço, dançar no meio do salão, rir da própria piada sem graça e não ter vergonha se te fez sorrir. Porque sorrir do simples, ou até do nada pode parecer loucura e se realmente for é a loucura mais saudável de se cometer afinal essa é a mais autêntica e genuína forma de riso. Felicidade é uma pausa no meio do dia, é ler um livro, é ouvir os pássaros. A felicidade não está concentrada em um só fato, ela nos é dada em porçõezinhas durante o dia a dia. Ser feliz é saber que cada detalhe da vida é maravilhosamente grandioso.