UM ESTADO PARASITA ALIMENTANDO-SE DE OUTRO ESTADO
A igreja, o estado e os impostos
Seria o modelo de igreja atual um organismo parasita vivendo às custas de um outro?
*Por Antônio F. Bispo
Por que os membros de uma igreja precisam pagar impostos (dízimos) aos chefes de suas instituições se esses como gestores dos recursos não bancam os custos estatais coletivos como segurança, educação, saúde, transportes, pavimentação de estradas, saneamento básico e tudo que um estado precisa para manter suas principais estruturas funcionando?
Por que deus precisa de dinheiro se ele é dono de tudo? Por que a “sua obra” precisa ser financiada por pessoas falhas e pecadoras sendo que dizem que ele criou todo o universo sem ajuda de ninguém, nem se quer de suas hostes celestiais?
Muitos ainda discordam mas outros já perceberam que abrir uma igreja é abrir uma modelo de negócios rentável, auto sustentável, livre de impostos e que funciona com a proteção do estado sem a obrigatoriedade de paga ao mesmo os devidos tributos comuns à toda casa comercial.
Se jesus é o caminho, a igreja é o pedágio e para cada palmo percorrido ou conquista adquirida por parte dos fiéis, essa grande mãe exige um percentual do que fora produzido ou conquistado para “abençoar” ainda mais os seus súditos ou pelo menos não ameaça-los com mortes e pragas como faz todo bom miliciano em dias de cobrança.
Os modelos de igrejas que usam a bíblia como base principal de suas crenças tem se tornado um imenso organismo parasita onde alguns líderes sugam até o ultimo centavos dos fiéis sem lhes dar nada de útil em troca a não ser a “palavra de deus”, prometendo-lhes um paraíso futuro enquanto os líderes e seus satélites constroem com tais recursos, verdadeiros paraísos terrenos somente para si e para sua “patota”. Acho que nesses casos todos fiéis irão para os céus e somente eles vão ficar na terra administrando as “coisas passageiras” de suas ovelhas.
Dizendo estar cumprindo um dos vários mandamentos divinos, a cobrança dos dízimos tem sido em todos os tempos no mundo ocidental a que “deus” mais se importa, a que ele menos se esquece.
Em todo as agremiações religiosas cristãs onde o deus bíblico é invocado, os membros das agremiações precisam pagar uma taxa ao sistema ou consumir algum ou dezenas de “produtos ungidos” pois os que lideram o grupo dizem que o dinheiro adquirido será para deus ou sua obra.
Deus nunca foi visto por ninguém e não aparece para nada realmente necessário a não ser numa mancha de mofo na parede, numa torrada queimada de um pão, ou até no fio-ó-fó de um cachorro, mas alguns fieis ainda acreditam piamente que ele vem pessoalmente recolher os dízimos e as ofertas todo em final de culto, ou que os pastores de algum modo depositam em alguma conta celestial todo fim do mês os valores arrecadados. A ignorância de uns alimenta a ganancia de outros! E assim a obra de deus permanece e se expande.
Nas igrejas evangélicas as arrecadações dos “impostos de deus” são levadas mais à sério. As cobranças são feitas de modo mais direto, usando métodos persuasivos, de charlatanismo e de humilhações em público, rotulando os que não pagam (ou não pagam em dia) com termos como ladrões e infiéis e que esses perderão suas “coberturas espirituais”, suas moradias nos céus ou que dezenas de pragas e infortúnios lhe sobrevirão como castigo, caso esses se recusem ou esqueçam de pagar seus impostos (dízimos).
Para os mais radicais, o fiel pode até ter passado 50 anos na igreja, sendo um crente obediente, fazendo tudo direitinho, mas se por acaso na ocasião da morte, justamente naquele dia tiver com os dízimos atrasado, sua entrada nos céus será recusada sem que se possa fazer nada para reverter tal castigo, se ao morrer estiver “devendo a deus”!
Coisa dura é ser crente! Quem estar fora acha até bonitinho, fofinho, pensa que todo mundo lá dentro é santo e que todos os líderes se importam mesmo com o bem estar e com o “futuro espiritual” do fiel, mas a grande maioria deles desejam apenas o retorno financeiro o status social que o título lhe proporciona.
Em certos casos, fica bem mais fácil entender o crime organizado quando se estuda a igreja, sua história e sua estrutura atual do que estudando a psique de certos meliantes.
No que diz respeito a “morrer devendo”, os católicos pelo menos tinham o purgatório para liquidar a dívida de quem morrera devendo a deus. Era como se fosse a antessala do inferno, como possibilidade de redução ou anulação total de pena se o familiar do “condenado” tivesse como pagar sua fiança, enchendo os bolsos padres, pagando uma certa quantia na igreja enquanto essa lhe recomendava o que fazer para absorção do condenado. Quanto mais devassa fora o sujeito em vida, mas despesas sua família teria com os “advogados de cristo” para tirar o indivíduo das mãos do diabo (ou seria o contrário?).
No modelo evangélico de ser, deus é mais duro e morrer devendo é imperdoável, principalmente se for devendo o dízimo! Melhor não morrer devendo! Com deus não se brinca!
“CUIDADO, ATRASE TUDO, MAS NÃO ATRAZE OS DÍZIMOS”! Se fosse já esteve inserido numa igreja evangélica por mais de uma ano, já deve ter ouvido essa fala no mínimo 600 vezes. Uma média de 50 vezes por mês de forma direta ou indireta. Se contarmos os “hinos de louvores”, os chavões e as frases de efeito, esse número pode chegar a 2 mil vezes em um mês. Se duvidas, passe apenas meia hora em frente a um programa de TV dos vendedores de bugigangas celestiais ou de uma igreja da prosperidade e veja por isso mesmo o quanto isso é enfatizado. Lavagem cerebral seria uma termo infantil mediante o que eles fazem para conseguir dinheiro do povo. “Assalto à fé armada” seria o termo mais apropriado.
Existem centenas de “mandamentos divinos” segundo alguns religiosos. Para os judeus são precisamente 613 incluindo mandamentos e proibições. Para os cristãos esses mandamentos mudam de acordo com o grau de instrução dos indivíduos. Quanto mais ignorantes esses forem, mais altas e mais diversas serão as taxas cobradas para não serem “condenados por deus” e perseguidos pelos seus representantes.
No sistema cristão de “servir a deus”, fora a lei do dízimo, todas as outras centenas de leis e proibições existentes na bíblia são escolhidas à dedo para que sustentem a falácia daquele que foi “orientado por deus” a agir assim e as demais eles apenas dizem: “isso é coisa do passado”; “isso foi escrito apenas para àquele povo e não para nós”; “isso é fruto da velha aliança e nós estamos na nova”; “é apenas um erro de interpretação”. Deus muda em tudo, de igreja para a igreja, mas quanto ao dízimo...
Se analisarmos o contexto histórico e cultural bíblico do que supostamente ocorrera entre a saída do povo hebreu no Egito por meio de Moisés até a queda final da última das 12 tribos de Israel e retorno do cativeiro babilônio no século VI A.C, podemos ver claramente nesse contexto que a função dos dízimos e das ofertas era o de manter o funcionamento do estado ou seja, de toda uma estrutura social organizada e não o de proporcionar o luxo e a luxuria dos que se dizem ser representantes divinos.
O dízimo não era usado para uso pessoal e restrito do chefe religioso do grupo, muito menos para enriquecê-lo acima dos demais, tornando-o um carrasco do próprio povo.
O dizimo (que não era dinheiro), em primeira mão era usado para suprir as necessidade dos órfãos e das viúvas que diariamente iam surgindo, bem como a manutenção dos soldados em suas conquistas que espalhavam terror enquanto anunciavam o “reino de deus” ao modo de sua época.
Nas conquistas de terras que logo depois seriam abandonadas, a força masculina era utilizada o tempo todo e muitos órfãos e viúvas de ambos os lados iam ficando pelo caminho cada vez que uma nova conquista era feita. Defender um território já conquistado era tão caro quanto conquistar outros. Quanto maior o estado, mais inflado esse seria e maior seria o preço para sustenta-lo. O preço era pago com vidas, com recursos do povo, ou com a perca do próprio território conquistado.
Ao ganhar uma guerra os sacerdotes atribuía essa vitória ao comando divino. Ao perdê-la culpava o povo de algum pecado, procurando sempre um bode expiatório para disfarçar sua incapacidade de liderança ou de estratégia militar.
Ao ganhar a guerra, tributos como animais e colheitas eram queimados de forma inútil acreditando que o cheiro da fumaça agradaria a deus e esse lhe daria outras vitórias. Ao perdê-las, queimava-se do mesmo modo tais oferendas, no intuito de aplacar a ira de divina e trazê-lo de volta ao lado do “povo santo” caso ele por acaso estivesse pensando em mudar de lado. As oferendas sempre foram um modo disfarçado de corromper àquele que dizem ser incorruptível. Sem sido assim há séculos!
Ainda nesse contexto, além dos saques constantes e dos despojos de guerra adquiridos, a “obra de deus” era mantida com um percentual que cada cidadão maior e dono de família deveria contribuir para manter tal estrutura funcionando.
Geralmente isso era feito apenas na época das colheitas ou em um dia especifico comemorado até hoje no calendário de alguns povos que se dizem descentes dos povos bíblicos. A igreja era o estado o estado era a igreja! O que era arrecadado do povo voltava para o próprio povo e não para beneficiar uma pessoa, uma família ou um grupo particular específico.
Um povo tribal, vivendo de acordo com os costumes das civilizações ao redor, fazendo o que praticamente todo povo fazia, conquistando territórios em nome de um deus qualquer, consumindo uns aos outros, destruindo uns aos outros para provar quem tinha o melhor deus! Insanidade pura!
Nessas conquistas malucas muitos povos do passado foram totalmente extintos bem como sua história, suas ciências e tecnologias. Tudo em nome da fé, da burra e cega fé! Como a história sempre é contada pelos vencedores, esses por sua vez ao reconta-la, aumenta ou inventa como melhor lhe for.
No contexto histórico bíblico onde o dízimo era exigido, não havia aposentadorias, pensões, bolsa-escola, bolsa-família, bolsa-universitário, bolsa-crack ou qualquer outro tipo de benefício para ajudar os menos favorecidos, os velhos e os inválidos.
Havia leis que ditavam o comportamento das pessoas em relação aos que menos tinham e se isso fosse seguido, toda estrutura social era mantida sem risco de colapso. O afrouxamento das leis trazia os caos. A usurpação do patrimônio coletivo em detrimento social também. Há citações no livro de Ezequiel, Jeremias, Isaías Habacuque e outros profetas, onde relatam o que ocorrera quando os pastores começaram a fazer uso próprio dos bens coletivos. De toda bíblia essa é a parte menos lida pelos líderes e crentes e a mais manipulada quando alguém a questiona.
Nos dias atuais, em países subdesenvolvidos como o nosso Brasil, devido aos altos índices de corrupção e má gestão pública, os indivíduos chegam a pagar no geral mais de 60% do que ganham para o estado por meio de impostos variados para que as principais estruturas não entrem em colapso.
Como se não bastasse, um montão de pessoas que agem como verdadeiros FDPs diariamente expandem o número de igrejas evangélicas para acrescentarem a dívidas dos individuos outros 10% de tributos que não terá retorno algum, além do consumo quase que obrigatório de um montão de bugigangas ungidas, tão imprestáveis quanto quem as comercializam.
Por mais errada ou corrupta que seja nossa estrutura social à partir de cima, pelo menos estas fornecem aos indivíduos os serviços básicos que estes precisam. E a igreja oferece o que? A palavra de deus? Um montão de mentiras e contradições deslavadas misturada com falácias de piedade e boas intenções?
Igrejas que vivem apenas da prática da explanação da “palavra de deus” sem nenhum serviço social prestado são como verdadeiros lixões, onde ratos e todos os tipos de parasitas sociais disfarçados de coisa boa nascem e se reproduzem aos montões.
Em outros países esse tipo de gente não consegue extorquir tanto o povo. De acordo com os noticiários recentes, países como a China e a Rússia por exemplo tem tomado medidas drásticas contra algumas igrejas e isso é bom! É preciso que isso aconteça, caso contrário a “santa igreja” por meio da ganancia e disputa territorial por parte de seus representantes irá solapar o estado, valendo-se de sua própria estrutura. Quando os gestores públicos agem com mão firme contra os abusos da igreja, eles não estão combatendo o suposto reino de deus, antes sim o estariam implantando por meio da justiça a todos.
Vale lembrar que nenhum fiel estar preocupado com o estado e sua estrutura. Eles acreditam que o mundo jaz no maligno e o diabo é quem governa o mundo além da igreja sem nem perceberem que vivem no mundo onde a igreja estar inserida.
Eles acreditam que é por meio da oração, jejuns, louvores e oferendas que todos os problemas sociais se resolvem e que basta darem o dízimos ao seus líderes que toda ordem social será mantida, mesmo sendo visível que esse líder não repassa tais recursos para o estado pagar as contas necessárias para sua manutenção.
Se não fosse um ato de pura malvadeza e sadismo, seria muito bom dar uma lição nos que assim acreditam cortando todos os recursos fornecidos pelo estado, suas leis e sistemas que nos estabilizam, colocando-os todos em um único país e vendo como os “santos”, o “povo escolhido” se sairiam longe dos “pecadores”, dos “sistemas mundanos” e “sua estrutura do mal”.
Não durariam sequer um mês, pois imbuídos do pensamento tribal que lhes é peculiar, mesmo se fossem em milhões, seriam reduzidos à algumas centenas de indivíduos depois de tantos lutarem entre si para provar quem tem o melhor deus.
Se a igreja é o estado, que pague pela sua própria estrutura e que viva dos seus próprios recursos! Caso contrário os membros das agremiações religiosas devem ficar livre das cobranças dos impostos já que estas não financiam os custos do estado e sim o império particular de cada líder religioso. Exigir que a igreja pague imposto é pouco! Que ela devolva ao estado todo imposto cobrado indevidamente dos cidadãos ou que torne isento a estadia dos fiéis em seus recintos!
Pensem nisso!
Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 14/7/19
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.