Considerações sobre a Arte

I

03/08/18

Com o advento da dita Arte Conceitual, o que pode ou não ser considerado arte tornou-se ambíguo, antes havia um consenso sobre o que é um objeto artístico, mas a extra-expressividade e a relatividade do conceito artístico levaram o rumo da arte para outros questionamentos. Hoje perguntam: O que é a Arte?

“Arte” é um conceito extramamente subjetivo, a caracterização desse conceito ficaria a bel-prazer do indivíduo significante; esse computador no qual escrevo, pré-projetado para seu uso, com um design confortável e uma engenharia útil, eu poderia dizer que ele é uma obra de arte! Vê? Se considerarmos a arte por nossa expressividade e relatividade subjetivas então tudo pode ser considerado arte, e se assim fosse, o nada poderia ser considerado arte, pois o nada está inclusive na conceitualidade de tudo. E se nada fosse arte, simplesmente não existiria arte. Devido a esse e outros questionamentos, um método de julgamento artístico se faz necessário, deve haver a distinção de objetos artísticos e objetos não-artísticos!

Os objetos artísticos são o que chamarei de Artefatos, isso é, objetos que segundo o método criterioso de arte podem ser considerados objetos que contém arte, e que são arte. Em relação aos objetos não-artísticos chamarei-os somente de objetos. Aqui deve-se fazer a distinção entre Objeto e objeto, em minhas Considerações sobre a Estética o Objeto(perceba a diferença do “o” maiúsculo) é tudo aquilo o que existe e que é interpretado por um Sujeito, e na relação de apreensão e interação entre um Sujeito racional e um Objeto há a Estética; Pode-se definir objeto também como “as coisas em sí” ou ainda “as coisas, independentes de um observador”. A palavra “objeto” aqui representa tão somente qualquer objeto de nossa cotidianidade que não pode ser considerado artístico segundo o nosso critério de arte, praticamente objeto aqui tem o significado da coloquialidade da palavra.

II

A arte define-se no sentimento que proporciona. Por sí é um conceito vasto e generalizável, mas decerto é que: a arte mexe com o indivíduo, o observador da obra sente algo ao contemplar a obra, a Beleza. Na Estética da arte há a Beleza, o sentimento que tem o observador para como Artefato; o objeto da arte ou “a obra” não “emana” ou “transmite” beleza, a beleza está no julgamento do observador para com o objeto, a beleza é uma criação do subjectivismo do observador, uma abstração da obra, onde nesta há o Belo. Como antes visto, o Belo é um prazer, há prazer em observar, desejar e ter coisas ditas como “Belas”, também foi visto que o Belo é um construto social, uma construção da sociedade no indivíduo e por vezes do indivíduo na sociedade; descartando assim qualquer possibilidade de uma transcendência ou metafísica a priori que tenha a beleza. O belo não é metafísico em sí, mas é metafísico em sua Imagem, temos que o belo é de uma Metafísica Aparente.

Sabemos que o Belo é um prazer, e que o homem está tendenciado a procurar prazer, e manifesta esse desvio ao prazer por meio de um desejo ou um querer, o querer por sua vez é um ADE, só há a busca por prazeres extra-fisiológicos(isso é, prazeres para além das funções primitivas dos seres vivos como a alimentação, nutrição, reprodução e etc) em sociedade, o prazer é inerte ao indivíduo, mas a busca por prazeres específicos é também um construto social. Visto isso, que prazer há na arte? Que tipo de satisfação há quando o observador depara-se com a obra? O que quer então, o observador com a obra?

Percebe-se logo que a satisfação que temos para com a arte não se encaixa em nenhum dos Tipos de Satisfação que antes descrevemos, isso pois, a arte tem uma satisfação exclusiva de sí, a dita Satisfação Contemplativa. Sentimos prazer na arte, ao escutar música, ler um livro, assistir uma série ou filme, ao observar uma tela ou jogar algum jogo…

10/08/18

Para que possamos apontar que tipo de Satisfação nos proporciona a Arte devemos pois saber com que tipo de arte estamos interagindo. A arte não é só uma pintura renascentista, como muitos imaginam, há arte em pinturas, desenhos, músicas, livros, poesias, cinematografia e há arte também em manifestações mais modernas, como o design dos objetos, os vídeo-games, o marketing, as roupas que vestimos, a arte está imersa em nossa cotidianidade, de tal forma que estamos também imersos na arte. Decerto é que, alguns desses objetos artísticos nos proporcionam um tipo de satisfação, e outros proporcionam pois, outro tipo de satisfação. Perceba; observar um desenho e ler um livro não proporcionam o mesmo tipo de satisfação, assistir ao filme da televisão e observar uma tela também não proporcionam o mesmo tipo de satisfação. A satisfação que temos com a arte vem de duas vertentes, sendo estas as duas formas com as quais nós interagimos com a arte. E não interagimos com a arte somente pela observação, mas também pela interação direta, onde o Sujeito pode sentir-se como parte da obra, podemos interagir com a arte através da contemplação do Artefato e também através da interação com o Artefato. Portanto temos que a satisfação com a arte pode ser uma Satisfação Artística Interativa ou uma Satisfação Artística Contemplativa.

A Satisfação Artística Interativa é aquela que temos quando interagimos diretamente com o Artefato, de tal forma que o Sujeito torna-se virtualmente parte da Arte através da imersão dele e de seu subjectivismo na Carthesis que tem o Artefato. Essa satisfação pode ocorrer também quando o Artefato apresenta uma alternativa à cotidianidade, isso é, uma realidade diferente e que também proporciona a imersão do indivíduo na Arte. Os melhores exemplos desse tipo de Arte são: música, video-games, livros e qualquer outra forma de arte onde há uma interação do indivíduo com o Artefato por meio do processo de imersão do indivíduo na realidade que o Artefato tenta proporcionar.

A Satisfação Artística Contemplativa ocorre no simples contemplare do Artefato quando a totalidade do objeto artístico interage diretamente com o subjectivismo do Sujeito, a beleza está na relação Estética que há aí, que pode muitas vezes ser a relação de Sublime que observamos em Burke e Kant, filósofos esses que melhor que ninguém dissertaram sobre a Satisfação Artística Comtemplativa. Podemos observar esse tipo de satisfação em desenhos, pinturas, estátuas, arquitetura e quaisquer outros artefatos onde a relação estética está no ato de contemplar e não de interagir.

III

A diferença do nosso método para os demais métodos ou critérios artísticos criados até hoje é a utilização da Técnica como um dos critérios para a arte. Pois bem, para que o objeto seja considerado arte ele deverá atender a 3 critérios: Carthesis, Mimesis e Técnica.

Carthesis diz respeito à expressividade e sentimentalidade do objeto, isso é, aos sentimentos e emoções que o Artista tenta transmitir para o observador através de sua própria subjetividade. O poema muitas vezes é o tipo de arte que melhor aproveita a Carthesis, o artista tenta exprimir um sentimento único e específico para aquele poema, ele quer que aquilo o que ele sente naquele momento em que escreve seja transmitido a um possível observador/leitor(que pode até ser ele mesmo). Portanto a Carthesis pode atuar mutuamente, onde há a auto-expressividade do Artista para com a obra, onde ele tenta exprimir-se na obra segundo sua própria subjetividade, e há a extra-expressividade que é relativa ao observador, onde decorrente de sua subjetividade ele procura por sentir as emoções e sentimentos que tenta o artista transmitir através de sua obra. Mas claro, pode ocorrer de uma obra não expressar nenhum sentimento, como no exemplo de quando alguém encomenda a um artista comercial uma pintura, por exemplo; naquela pintura ele não estará expressando-se, mas sim, criando um Artefato por um motivo que não é necessariamente fazer a Arte, mas vendê-la, como demonstrou Andy Warhol: Arte também é negócio. Pode não haver expressividade também numa arte por sí mesma, isso é, quando o artista faz uma arte despretensiosa, sem procurar se expressar ou transmitir expressão, mas esse caso é bem subjetivo. Se eu fizesse um desenho da cadeira que está na minha frente pelo motivo de treinar minhas habilidades de desenho, eu estaria criando arte carente de Carthesis, mas ainda assim seria arte pelos critérios que apresentarei doravante. Percebe-se que a Carthesis não é o mais importante dos critérios artísticos, pois mesmo sem a Carthesis ainda pode haver um Artefato.

17/08/18

A Mimesis trata pois da representação artística, isso é, a correspondência do Artefato com um Objeto ou Conceito extra-artístico(fora da arte). Observamos numa tela de uma cidade por exemplo, que há uma correspondência entre a cidade representada no Artefato(a tela) e a Cidade extra-artística(a cidade em sí) e a essa correspondência damos o nome de Mimesis, a tentativa mímica que tem da arte para com o Objeto. Aristóteles foi o primeiro a pensar numa teoria para o julgamento artístico, ou “Teoria da Arte” simplesmente, apresentando a Mimesis como a essência artística das coisas, onde a Arte tenta imitar o mundo extra-artístico, que não é arte; A arte não representa somente Objetos, mas pode representar também conceitos, como no exemplo da arte abstrata, onde formas adversas em união numa tela apresentam um conceito que não é propriamente subjetivo, mas pré-concebido; A significância do abstratismo dessa arte não está na subjetividade Estética, mas na técnica e no processo analítico da arte, quem bem sabe analisar irá perceber que por trás de toda a abstração técnica há uma mensagem que o artista procura por passar. Em suma a arte é como a linguagem, senão, a arte É linguagem onde no processo significativo(signo, significado e significante) o Artefato atua como signo, o significante não é o Sujeito mas sim o Artísta, e o significado não cabe ao Sujeito observador, mas também ao Artista. O Artista transmite um significado através de um Artefato(ou signo) para o Sujeito, na arte o observador ou interagente não atua como Sujeito significante no processo Estético da arte, mas como sujeito em significância, onde não há a atuação ativa do sujeito para com a arte, mas a atuação passiva, onde o Sujeito sofre a arte.