Pequenez
O que traz aí nas mãos menina bonita do laço de fita? Traz por acaso doces ou balas dadas como alento depois que pediram para que deixasse o recinto onde conversavam algo que você não podia escutar?
Ou seria uma bolinha? Veja aquele graveto ali! Não me vê abanando o rabo? Se jogar o graveto posso busca-lo. Sou simples não vê? A simplicidade do agora me contenta e me basta.
Se brincarmos vai tirar esse olhar de tristeza do rosto, eu te garanto. O agora não deixa ninguém triste porque não é nele que mora a tristeza e a dor. Isso são coisas do amanhã ou do ontem e esses dois... ah esses dois eu não conheço!
Por que você me diz que não quer? Não afaste assim meu focinho do seu joelho! Também não te dói a invisibilidade? Ser pequeno tem seu peso e sua própria dor. Ao menos você anda com duas pernas apenas, eu preciso de quatro!
Um passo depois o outro e zás! O movimento deixa pra trás o aborrecimento dos que no alto permanecem imersos na inércia de esfinges. Deixe que fiquem! A maioria deles não se curva, já percebeu? Trazem a espinha tão ereta e rígida como se preenchida com concreto e vigas. Aposto que se quebram se tentarem!
Pode me pintar com lama que minha pelagem se lava na chuva que já já chega. Ela, a chuva, também não conhece o amanhã e o ontem, sabia? Para ela basta a queda. A chuva é simples. Ela só faz chover.
Vem! Gira em roda e abre os braços. Pode dançar ao som da música que para eles é apenas ruído branco. Eu prometo correr e fazer cara de bobo, babar como um louco e não julgar nada do que fizer. Prometo fugir contigo para um lugar onde dedos suspensos no alto não apontam para baixo e onde olhares nas nuvens não condenam a alegria pura de ser.
Onde chinelas são proibidas e correias não silvam no ar. Onde ela chove, eu abano o rabo e você... ah... você dança!