Uma crítica à produção contemporânea: A imbecilização da Literatura.

"A condição deplorável da literatura atual(...) tem sua raiz no fato de os livros serem escritos para se ganhar dinheiro. Qualquer um que precisa de dinheiro senta-se à escrivaninha e escreve um livro, e o público é tolo o bastante para comprá-lo. A consequência secundária disso é a deterioração da língua."

Esse é um trecho do livro “A arte de Escrever” de Schopenhauer. Se no século XIX, época em que foi escrito o livro, Schopenhauer já via o teor cancerígeno que tomava a literatura, imagine como ele se sentiria se vivesse nos tempos de hoje. Na época, grandes romances foram publicados: Crime e Castigo(Dostoiévski), Madame Bovary(Gustave Flaubert), Guerra e Paz(Liev Tolstói), Frankenstein(Mary Shelley), Drácula(Bram Stoker) são somente alguns dos clássicos que me vêm à cabeça quando eu penso neste período da história. Mas é claro, os bons livros não são a regra, e sim a exceção. E se em meio a tantos gigantes da literatura existiam ainda os autorezinhos, imagine hoje! Onde os indivíduos considerados como “grandes escritores” e “escritores de sucesso” escrevem livrozinhos sem nenhum teor verdadeiramente literário, com uma escrita ridícula, temática saturada e desintelectualizada! E o pior, o que é realmente preocupante é que existem aqueles que compram dessa literatura idiota! idiotas comprando livros de idiotas… parando para pensar não é tamanha surpresa.

Como foi dito no trecho, os livros são escritos para se ganhar dinheiro, e isso é inegável! Os autores contemporâneos não escrevem pela literatura em si, e tampouco pela arte de escrever, escrevem para vender! E daí utilizam os mais variados recursos para angariar a maior quantidade de imbecis possível: A temática comum; que é explorada até a última gota de criatividade, e daí vêm os livros de bruxos, vampiros, lobisomens, jovens problemáticos, deuses e semi-deuses e seus afins; personagens rasos, e sempre jovens para atingir o público alvo e vender mais, não existe mais uma psicologia ou uma complexidade por detrás dos conflitos dos protagonistas, na verdade, parando para pensar, os protagonistas são os mesmos em todos os livros! O típico padrão de jovem que precisa resolver um conflito - e resolve - onde está a criatividade nisso? E claro, sem falar da linguagem que chega a ser vergonhosa perto do que já foi um dia. O que os autores norte-americanos e ingleses fizeram com o legado deixado por Hemingway, Thoreau, Byron e Shakespeare? Nada!

E é nessa miscelânea néscia que nasce a literatura popular, a literatura destinada às vendas, ao grande público, à massa! Pode perceber que os livros nas vitrines das livrarias seguem um mesmo padrão e sempre são de um teor imbecil(para aqueles que têm o mínimo de criticidade literária), livros de auto-ajuda que tentam misturar psicologia com religião e acabam mesmo é fazendo uma releitura(ou cópia, propriamente dita) das teorias psicológicas de Gardner, livros de filosofia de gurus que nunca contribuíram verdadeiramente para a filosofia como tal e os romances infanto-juvenis dos quais a pouco falei. Uma literatura idiota para um público contundentemente idiota(percebam que essa palavra vai se repetir muito no decorrer desse ensaio).

O principal público alvo dos escritorezinhos são os jovens, ou os leitorezinhos estes últimos, tão burros quanto os primeiros. Claro, pois, escrever uma imbecilidade tem em si algo de útil(o dinheiro), mas comprar uma imbecilidade é ato que somente os verdadeiros imbecis fazem, e pior, ainda gostam da imbecilidade!

Tudo o que conhecem se resume em seus romancezinhos de vitrine de livraria, perceba, muitos conhecem o vampiro de Crepúsculo, os idiotas gostam do personagem, poucos conhecem O Vampiro de John Polidori, e pouquíssimos são os que sabem apreciar tal personagem. A literatura popular toma conta dos jovens, e é em parte por isso que a grande maioria destes tem a mente tão rasa. Ponha um jovem para ler 1000 livros de literatura popular(isso inclui toda a produção desintelectualizada moderna: os romances, poemas, livros de filosofia, finanças e auto-ajuda) talvez ele se divirta e sinta prazer em tal, mas 1000 livros depois vai continuar com a mente rasa e infecunda - típica do jovem moderno -. Agora ponha um jovem para ler 1000 livros de literatura clássica(dos grandes autores e filósofos como tal) e ele se tornará um erudito(claro, se tiver suficiente ócio para entender o que leu).

E há uma deficiência ainda maior na poesia! Se são poucos os bons romancistas da atualidade, são raros - raríssimos - os bons poetas que atingem algum sucesso. Os poetinhas contemporâneos não escrevem nada mais que uma desconstrução tediosa(ai de Mallarmé se visse uma produção dessas), e quando não, escrevem os poemas curtos sobre amor que apesar de ser um tema atemporal é transmitido através de uma estética e linguagem tão saturada que somente os ingênuos conseguem apreciar. Há ainda aqueles que declamam sua poesia, e encantam os ouvidos de muitos leitorezinhos, esses últimos que nunca tiveram o prazer de ter o contato com uma poesia de verdade e, conhecendo somente a poesia popular, se encantam com quaisquer arranjozinhos e versozinhos que falam alguma coisa que lembre a eles uma decepção amorosa ou um traço de suas personalidades. A temática da poesia moderna é sempre a mesma, as linhas e entrelinhas do que se lê pouco ou nada têm a dizer de modo que o que importa na poesia é como soa o “verso-chave”. Se no poema, ou texto, houver uma frase bonita que soe bem, o leitorzinho vai se encantar, logo depois vai tirar uma foto, postar nas redes sociais com uma legenda quase sempre próxima de algo como “tão eu!”. A poesia contemporânea não passa de masturbação verbal: belas palavras(para os ouvidos dos ingênuos) ditas de uma maneira que soe bem, e está feita a poesia! Sem nenhum teor verdadeiramente literário, sem nenhuma ambição estética ou domínio da língua. De modo que, quem prefere um dos livros de poesia da vitrine de uma livraria à um clássico literário-poético como um “Eu”, “Lira dos Vinte Anos”, “Hours of Idleness”, “Faust” ou “Les Fleurs du Mal” é alguém no mínimo desintelectualizado e desinformado(para não dizer estúpido).

Tudo isso sem falar no formato de romance conhecido como “fanfic” que, caia entre nós, dispensa maiores comentários: Jovens idiotas escrevendo para jovens idiotas. O cúmulo da decadência da literatura.

A verdade é que não se escreve mais para a literatura e não se lê mais para a literatura, felizmente ainda existem alguns Bukowskis, George Martins e Stephen Kings que conseguem transmitir um pouco da boa literatura ao grande público. Mas a tendência é que os bons escritores aos poucos percam visibilidade, e isso já acontece, um bom escritor - de verdade - dificilmente é aquele que vai ser aceito por uma editora, pois a editora visa tão somente o lucro, enquanto o bom escritor visa a arte de escrever, e há aí um conflito de interesses, de modo que os bons escritores(ao menos boa parte deles) são marginalizados, no sentido de estarem à margem do mercado editorial, e muitos dos bons livros que são escritos nunca serão publicados, o que é uma verdadeira tragédia para a literatura.

Os escritores contemporâneos não têm nenhuma ambição literária em suas obras, não visam nenhuma inovação e escrevem sempre mais do mesmo(pois isso vende) e a literatura se encontra estagnada e lenta em seu processo de crescimento, de modo que o mercado editorial só toma novas rédeas quando um bom escritor(outrora desconhecido) publica um bom livro e faz os autorezinhos terem um vislumbre do que é a verdadeira literatura, dando a eles algo sólido para se inspirarem.

Quer ler um bom livro? Digo, um livro de verdade com uma literatura de verdade? Compre o livro de alguém que já morreu, compre o livro de um escritor que poucos conseguem entender ou senão, procure nos confins das obras rejeitadas pelo mercado editorial. Aí se encontram os bons livros!