O SONHO AINDA NÃO ACABOU! - parte 2

Depois de rodar um pouco com o Jeep e escutar o bastante a música, Alice lembrou de seu marido sentado na sua poltrona favorita com uma lata de cerveja em mãos. João ficava escutando esta música, vezes após vezes, parecia até que a música o hipnotizava, parecia que essa música o levava para outras dimensões do pensamento humano e ele permanecia lá por algum tempo; e quando ele estava escutando essa música nem era muito bom falar com ele. Alice se lembrou de que as crianças assistiam à TV com os fones de ouvidos, cada qual com um só dos fones, era só assim que eles conseguiam assistir TV porque o João queria escutar o som diretamente das caixas de som.

A saudosa Alice ficou por muito tempo ali no carro escutando aquela música, agora maravilhosa para ela, lembrou-se do passado e prestando muita atenção na poesia por dois motivos: um para realizar postumamente o desejo de seu marido e também porque agora ela gostou muito do que diz a letra.

Agora a mais nova fã de John Lennon começou a fazer o que o autor da música sugeria, começou a imaginar um mundo inspirado na poesia do ex-Beatle e depois de alguns momentos chegou a uma conclusão muito interessante de que o mundo seria bem melhor de se viver se todas as pessoas imaginassem esse mundo e fizessem cada qual a sua respectiva parte para melhorá-lo e então ela meditou:

-- Se todas as pessoas fossem iguais ao John Lennon minha família estaria viva... E o próprio cantor também estaria aqui entre nós vivendo a sua grande paz e cantando sua linda música e sendo feliz com sua família também!

Então Alice chorou copiosamente e desejou tão imensamente que esse mundo de IMAGINE existisse verdadeiramente e que as pessoas encontrassem um modo de ver e de viver o mundo igual ao que o autor dessa poesia enxergou ou vislumbrou através das lentes daqueles óculos de armação redondinha e ela pensou tanto nessa possibilidade que ficou até tonta e entrou em êxtase depois em um profundo transe e adormeceu tranquilamente e em paz.

Talvez essa tontura dela viesse da sua fome ou da sede, do sono ou do cansaço que naquele instante se concentrava em seu corpo delgado totalmente fragilizado e castigado por tantas sensações e emoções. Um corpo de uma mulher que apenas desejava naquele instante agradar seu grande amor simplesmente imaginando as ideias contidas em uma letra de uma obra prima de um grande homem...

O carro seguia vagarosamente e logo depois parou sozinho como se tivesse vontade própria e Alice acordou lentamente e percebe que ainda está meio tonta e com certeza era por ter pensado em tantas coisas, então começou a andar a pé, mas nem andou muito e logo ali perto viu uma choupana e teve um impulso de saber quem residia ali e andando mais rapidamente aproximou-se da porta sem medo algum e olhou o seu interior e não havia nada lá dentro só uma mesa bem rústica e um toco de árvore que servia como cadeira e nada mais, não havia armário com comida nem cama nem pia para lavar louças não havia nenhuma louça. Ela entrou e percebeu que não havia nem um cisco de poeira dentro daquele lugar e quando olhou para fora por uma pequenina janela lateral a única que havia na choupana avistou um velhinho que aparentemente, no primeiro instante, julgou que era o seu avô, pois parecia muito com ele, porém seu avô já deixou esse mundo faz um bom tempo, então jamais poderia ser ele, e Alice se apercebeu disso e deixou escapar uma lágrima de saudades dele e ficou ali parada por alguns instante de longe só olhando o velho.

Ela acredita que este ali na sua frente teria mais ou menos uns sessenta e cinco anos, exatamente a mesma idade do seu avó quando faleceu sem nunca ninguém saber de que doença foi, Alice tinha dezoito anos nessa época, foi no dia do aniversário dela.

Sem perceber que estava fazendo, talvez por estar meio tonta ainda então aproximou-se do velho, reparou que ele contemplava “carinhosamente” ao Astro-Rei ele olhava como se o Sol fosse a coisa mais linda e preciosa e importante do mundo.

Alice ficou olhando aquela figura tranqüila e serena, cheia de paz até parecia que ele nem havia notado sua invasora presença.

No instante seguinte a invasora reparou que não sentia calor nem frio, não sentia fome nem sede, não sentia nem sono nem se sentia totalmente desperta, parecia que ela se encontrava dentro de um suave sonho. Na verdade não sentia quase nada, não queria chorar nem rir, não sentia nem amor nem ódio, não sentia nada, só tinha apenas uma enorme vontade de saber o porquê daquele velho estar ali, parecia até que ele estava a esperar por ela e ela tem essa sensação mesmo, sentia que ele estava ai a lhe esperar mesmo mas não disse nada pois isso seria impossível.

Alice continua no mesmo lugar e apenas se percebe confusa e ao mesmo tempo se sente leve e confiante em algo que nem ela mesma saberia dizer o que era e o porquê. Poderíamos chamar apenas de “uma força estranha” ou "por uma razão oculta" talvez; mas de repente a mulher confusa e curiosa se senta ao lado do velho sem nada a lhe dizer.

Os dois contemplam juntos o pôr-do-sol em semelhante maneira ao que os apaixonados fazem quando contemplam a Lua numa linda noite de verão num jardim lindo imenso e tranquilo.

Mas de súbito e sem olhar a face de Alice que também ainda estava com olhos fixos no pôr-do-sol o velho lhe pergunta qual era o seu nome e o que estava buscando ali.

E Como se fosse a coisa mais óbvia e natural desse mundo Alice conta a sua vida inteira ao velho desconhecido e ela faz isso no meio do nada (do deserto) e ela se comportou como se estivesse falando com a Tânia a sua melhor amiga:

-- Eu me chamo Alice e vou contar a minha história ao Senhor...

(página 32)

E “sem tirar os olhos do Sol” ela começa a contar sua vida inteira:

Falou sobre quando era pequenina lá em “Minas”,

e de sua amizade com o Léo,

falou da igreja e sua grande fé;

do seu casamento com João,

e o quanto ele era uma pessoa maravilhosa,

falou sobre seus filhos,

falou de sua irmã,

e o casamento frustrado da “menina” mais linda e triste do mundo.

Falou também que o Léo se fascinava muito por sermos seres incríveis por que "como é que pode um monte de carne e ossos e sangue existir como nós? Como podemos falar, ouvir, pensar e fazer tantas coisas fabulósas?" Ele acha isso tudo um grande milagre, mas ele é um ateu bobo.

Falou de um acontecimento improvável com um mendigo louco em São Tomé das Letras e que ela achou aquilo muito estranho.

Falou também do interesse em fazer uma faculdade de teologia.

Falou do desejo de menina de se tornar freira.

Falou do dia mais feliz de sua vida que se transformou exatamente no pior dia da sua vida.

Falou sobre como foi o assassinato de sua família e a perda de sua grande fé.

Falou sobre a confusão que estava a sua cabeça por causa de tudo que aconteceu,

disse que seu interior parecia uma arena onde vários sentimentos e ideias se gladiavam;

Falou que queria morrer, queria viver, queria sua família de volta, queria ir atrás dela.

Falou sobre o que o Léo disse com relação a esse “lugar místico” e que só veio até ali para se matar e se encontrar com sua família e confessou que não acreditava realmente que os veria novamente;

Falou também que gostaria muito de vê-los,

Disse que iria se matar porque não queria viver sem eles.

Porém toda hora que pensava em se matar de fato algo acontecia e ela era empurrada para frente e adiava esse momento fatal.

Falou do amor que sua irmã tinha pela Arte.

Falou também sobre como gostava de ajudar os necessitados.

Alice falou da eterna discussão com o Léo sobre se o mundo foi criado ou evoluído, e que nunca chegavam a um consenso, já que cada qual tinha sua convicção própria, sendo que ela tinha uma verdade verdadeira, pois vinha de Deus sua tese, já o seu amigo acreditava em homens de carne e osso.

Falou que não entendia "como alguém podia acreditar em suposições sem fundamentos"?

E disse também que ela agora não acredita em mais nada e só queria morrer.

Falou também sobre como queria morrer e como não deu certo porque as fitas estavam trocadas e que então realizou um desejo do seu marido em ouvir a letra da música de um ex-Beatle.

Falou como odiava antes o John Lennon e o quanto o amava agora e desejava que o mundo fosse como a sua poesia nos faz imaginá-lo.

E que queria com todas as suas forças realmente que o mundo fosse semelhante à poesia do ex-The Beatle.

E falou que quando acordou andou um pouco à pé encontrou a choupana e agora estava ali conversando com ele e estava feliz com isso mas que achava tudo isso muito estranho mas que era gostoso de se sentir naquele lugar.

Quando, depois de quatro horas, Alice terminou de contar sua sina ao desconhecido e gentil velhinho ela ficou apenas ali parada esperando algo acontecer e olhando-o nos em seus olhos e ficaram assim por alguns minutos ela ainda ficou esperando uma reação da parte dele e nada acontecia.

E o eremita olhou-a no fundo dos seus olhos como se estivesse procurando algo no interior das profundezas de sua alma mas não dizia coisa alguma.

Parecia que o velho queria dizer-lhe algo que a reconfortasse profundamente algo que lhe devolvesse sua fé a paz e a vondade de viver e estava procurando essas palavras lendo a sua alma, parece que ele seria capaz até de mentir ou imaginar ou até de inventar muitos argumentos só para ajudar aquela pobre mulher a ficar bem com ela mesmo, com o mundo e com o Deus dela.

O velho parecia ser a essência da bondade num corpo de um homem, foi por esse motivo que Alice confiou tanto nele e lhe contou toda a sua vida.

O Velho pediu para que ela se sentasse no chão e ficando voltada para ele e juntasse os pés e encostasse os joelhos no chão. Na seqüência ele pediu-lhe para que ela olhasse em seus olhos e num tom de voz suave e quase hipnótico acalmava-a cada vez mais e o som da voz e ritmo dela a relaxava e o olhar dele passava uma tranqüilidade profunda e transmite-lhe um bem estar e uma confiança absoluta.

De repente o velho disse:

-- Mulher, o corpo de uma pessoa é semelhante a um copo... O conhecimento: ideias e sonhos, pensamentos e cultura, desejos e frustrações etc são o líquido que preenche esse copo.

(página 33)

O velho queria dizer que nós somos formados pelo corpo e pela alma e que o conhecimento faz parte da alma assim como as ideias e os sonhos, os pensamentos e a esperança, a fé e a empatia etc seriam o líquido formando o ser e ou a coisa toda em si, em seguida o velho continuou a lhe explicar:

-- Tudo o que você viu ou conheceu, sonhou e pensou, imaginou ou desejou... O modo como você interpretou o mundo... Tudo isso faz parte do que você é agora... Tudo isso faz parte do teu ser Existencial, tua alma e tua vida, imagine que tudo que você é ideologicamente é o líquido que está dentro desse copo e todo esse conteúdo é a sua vida a tua Existência: isso tudo é tua alma. Esse copo que é você está cheio... E eu tenho um outro líquido para você experimentar. Só que esse meu líquido é muito diferente de tudo que você já conheceu... O seu paladar não iria gostar se tomar misturado com o seu líquido... E para poder te mostrar é preciso que você esvazie esse copo todo, totalmente... Eu preciso que você esvazie esse copo, jogue fora esse teu líquido que está dentro desse copo. Porque não dá para misturar os dois líquidos o gosto não ficaria bom!

O velho quis dizer que ela se confundiria mais ainda e criaria um intriga entre os dois e ela e ele seriam inimigos:

-- Quero dizer que os nossos conceitos se chocariam por eles serem muito diferentes... Você nem me deixaria terminar de falar sobre esse novo conceito! Mas após eu encher o seu copo com esse meu novo líquido e você experimentar e se não gostar dele: é só jogá-lo fora não há problema algum nisso... E você pode encher o seu copo de novo com mesmo líquido que tinha antes. Mas se você gostar do meu líquido pode ficar com ele! Mas se você não apreciar o meu líquido e jogá-lo fora garanto que você vai gostar muito mais do teu “velho líquido” e estará muito mais feliz com ele! Você entendeu?

Alice olhou para o velho e respondeu com uma outra pergunta:

-- Você quer dizer que tem algo novo para me mostrar, ou contar? E esse novo conceito é muito diferente do meu e você precisa que eu esqueça de tudo o que aprendi para conseguir aceitar essa nova visão das coisas, é isso? É uma “lavagem cerebral?”.

O velho lhe olhou nos olhos docemente e explicou de uma maneira mais clara:

-- É mais ou menos isso, mas eu não diria que é para você esquecer seus conceitos para sempre... Nem é assim para aceitar os meus para sempre... Eu diria apenas que você precisa esquecê-los por enquanto... Mas é só para que você consiga entender os meus conceitos! Depois que me entender você mesma verá se quer ficar com os seus para sempre ou com os meus conceitos novamente. A opção é toda tua... Se você não apreciar os meus, se não lhe for agradável pode jogá-lo fora imediatamente e voltar a ser como era antes. Mas eu preciso que você jogue fora o seu líquido, preciso do copo limpo pois não pode misturar os líquidos; preciso que seja assim, já que a gente tem ideias bem diferentes e você não vai me deixar mostrar tudo, você iria me fazer parar de explicar logo no começo, entendeu?

A Alice disse que estava tudo bem e que levaria adiante o processo de conhecimento e que queria muito conhecer uma nova maneira de ver o mundo.

-- Não tenho nada a perder mesmo!

Disse isso dando de ombros.

Mas mesmo assim ela fez duas novas perguntas com um sorriso de entusiasmo e curiosidade, talvez até mesmo de felicidade:

-- Quando começamos? E o que devo fazer para facilitar para o senhor, meu bom homem?

Com um sorriso terno ele ordenou:

-- Faça tudo que eu te mandar e obedeça rigorosamente tudo que eu lhe disser porque já começamos.

-- Tudo bem, já pode começar agora mesmo se você quiser assim, Mestre...

Disse a mulher com um esboço de um sorriso e olhando uma formiga que passava solitariamente por ali perto deles.

E o velho proferiu:

-- Preste bem a atenção! Me obedeça... Feche os olhos e me ouça com toda atenção a cada uma de minhas palavras:

-- Okay, pode começar agora mesmo...

-- Você está se concentrando... Você está calma e relaxada... Bem relaxada... Não há motivo algum para você se preocupar ou temer, porque não há perigo algum, está com um amigo, alguém que tem muito apreço por ti...

O velho dizia essas palavras em tom de paz, amor, sabedoria. Eram quase musicais suas palavras, Alice parecia estar sendo hipnotizada, encantada ou coisa parecida. E o velho continuou a dizer e ela a obedecer sem hesitar, sem medo algum.

--Você a partir de agora é a pessoa mais tranqüila do mundo...

Continuou o velho:

--Você está muito calma... Relaxada... Você está sonolenta... Mas tua atenção está centralizada só em minhas palavras... Tudo que eu te falar você deve aceitar e obedecer prontamente...

...Confie em mim como se toda a verdade fosse de minha autoria... Tua maior virtude agora passa a ser a confiança que você deposita em mim e em minhas palavras... Quero que acredite que quanto mais puder confiar em mim, mais cheia de virtudes você será...

...Confie em mim, de semelhante maneira que você confiava em teus pais quando você era uma menininha da idade de cinco anos... Quero que conceba a ideia que a verdade fez casa em minhas palavras...

...Você vai ficar com tua percepção, concentração e inteligência ampliada em quinze vezes depois de até cinquoenta vezes... Isso vai acontecer até você reunir soberania sobre si mesma... Quando se decidir se vai jogar fora meu líquido ou não... E conseguir realizar o que você mais ambicionava, quando aqui chegou; você vai crer quinze vezes mais em que você acreditava antes de perdê-la (a sua fé)...

...Ou vai ficar com o que eu vou lhe ensinar... Se você optar pelo líquido antigo derramará o líquido novo de uma só vez, você acreditará que ele é nocivo e vai querer ficar bem longe de mim no primeiro instante, depois pegará tudo o que eu te disser para reforçar seus próprios conceitos, a sua crença; se agir assim você entenderá tudo o que eu te falar como sendo apenas uma maneira de testá-la e ajudá-la... Quero que pegue tudo que eu lhe ensinar e entenda como mais lhe convier, entendeu?

...Quero que você faça isso mesmo sendo à revelia (independente) do que eu acredito ser certo ou não, entendeu?

Quando o velho lhe perguntou isso Alice o respondeu prontamente:

-- Sim, meu Mestre, eu entendi sim...

Alice ao seu anfitrião quase que totalmente já em transe e, com a sombra de um sorriso, consentiu a metodologia que o velho estava implantando naquela conversa.

(página 34)

E o velho recomeçou a falar:

--Se você não optar pelo novo conhecimento, você terá que dizer tudo o que eu lhe ensinar para outra pessoa...

...A pessoa que está viva que você mais gosta; é só isso que lhe solicito... O que eu te contarei ficará gravado em teu subconsciente até você terminar de relatar a alguém... Sentirá uma forte vontade de contar logo...

...Depois disso, todo e qualquer vestígio do nosso encontro sumirá de você para sempre... Mas agora quero que você apague tua mente, tuas lembranças, e se lembre somente do que eu precisar para te fazer entender o meu conceito, quero que você se lembre de coisas que te ajudarão a entender, pode ser qualquer coisa desde que seja útil...

...Agora... Imagine que o dia de hoje nunca existiu... Eu sei que você consegue, tente com força... Apague-a de tuas lembranças... Apague-as de tua memória... Fique sabendo que você não viu tua família assassinada... Acredite com todas as suas forças que esse dia que você viu isso se perdeu em suas lembranças... Na verdade esse dia nunca existiu... Você, Alice, nunca teve uma família...

Alice, mesmo achando meio chato ficar ali escutando àquelas ordens do velho, ficou ali condescendentemente a escutar e a obedecer a cada pedido seu; sentiu que no final de todo esse processo de apagar a sua mente iria vir algo interessante. E mesmo se entediando por ficar ali ouvindo as palavras repetidas, se entregou à vontade alheia, e seguia religiosamente a tudo o que o eremita lhe ordenava, e este continuava dando-lhe ordens e mais ordens:

--Conceba em sua mente que você nunca conheceu o João, nunca se casou...

...Nunca deve filhos...

...Você não teve nenhuma irmã...

...Imagine que você nunca saiu de “Minas”...

...Pensa, agora, no seu íntimo mais profundo que você é uma menininha feliz a correr pelos campos de teu pai e está agora cheirando uma linda e perfumada flor, aquela amarela que você me disse que adorava sentir o seu perfume...

...Agora você está dentro do útero de tua mãe... Você consegue vislumbrar ideia de que você nunca esteve no útero de tua mãe?... Você nunca existiu...

...Quero que você acredite agora que tua mãe nunca existiu também... Tua avó nunca existiu... Agora faça surgir em seu ser o pensamento de que você nunca em sua vida teve parente algum... Imagine agora que tua árvore genealógica nunca teve um início... Conjeture que nenhuma pessoa jamais existiu na face dessa Terra, desse Planeta... Fixa em sua mente que os mares e os rios, as planícies e as montanhas sumiram se todas: nunca existiu nada disso...

...Acredite, prontamente, que o Planeta Terra nunca tenha existido também... Perceba que onde tinha a Terra, nada, agora, existe lá... Quero que idealize no seu pensamento que onde estava o Planeta não se vê nada agora, e que sempre foi assim, ele nunca esteve lá... Porque esse Planeta nunca existiu realmente, e foi sempre assim...

...A Lua se transformando em nada: apague-a de tuas lembranças... Suponha agora que o Sol se transforma em nada... Todas as coisas estão abandonando suas existências de acordo com seus pensamentos...

...Agora quero que você creia profundamente que as estrelas estão sumindo do céu deixando um vazio, sem saudades, pois, você nunca soube que elas tivessem existido um dia... Pode acreditar que não existe o que você chama de Via Láctea... Você consegue vê-la sumindo?... Vê-la se ausentando do universo?...

...É fácil, mulher, tente... Conceba a ideia fixa de que o Universo todo nunca tenha existido... Prefigure que tudo que existe é o silêncio infinito... Imagine agora que nem o silêncio existe também... Apague até o silêncio...

...Agora considere que a única coisa que existe é o nada... Que só existe a mais profunda e absoluta ausência de tudo... Fecunde na sua mente, em seguida, que o que existe é apenas o nada vazio e infinito, profundo e absoluto...

...Você consegue fertilizar no seu ser a ideia do nada preenchendo o vazio? Consegue ver e entender?... O “Silêncio Existencial” de algo que não existiu...

...Algo que nunca existiu...

(página 35)

...Vislumbre a ideia da não existência se fazendo presente e tudo que existe é um vazio silencioso... Você consegue imaginar o: ...nada... Vislumbre agora que no centro do nada... ”No centro do vazio”... UM PAR DE OLHOS ACORDAM-SE de repente... Um Grande-SER descobre que existe... Esse Grande-SER fez um movimento com os olhos e fez se tornar visível e tangível o seu próprio corpo Imaterial (incorpóreo)... Mas, quando Ele fez seu próprio corpo gigantesco existir...

...Uma parte de sua Existência... Metamorfoseou-se no seu próprio corpo Imaterial... e Logo em seguida Ele pariu... Ou seja, tirou de dentro Dele, de dentro de si trilhões vezes trilhões de consciências, almas, espíritos, psiques, mentes, moral, intelectos, vontades, ânsias... Todos esses nomes e mais outros são a mesma coisa... Representam o mesmo aspecto e a mesma essência...

...O Grande-SER, então logo a seguir construiu o “BECO DAS ALMAS...”. ”Esse lugar é como se fosse uma espécie de berçário...”. E as colocou todas lá dentro... E Ele as fez esperarem numa espécie de sono profundo... E dormindo, aguardavam calmamente...

...Depois a sua direita Ele fez o Sol surgir (e a Luz se fez)... Alegre, Esplêndido, Poderoso: viva o Astro-Rei!... Mas quando Ele fez o Sol surgir...

...Sua Existência gigantesca encolheu mais um pouquinho... bem pouquinho mesmo... Depois fez movimentos com os seus membros e fez muitas estrelas... E seu corpo encolheu mais um pouquinho... Imperceptível, pois Ele é tão imenso...

...Ele fez outros movimentos, e surgiram muitos planetas de tamanhos e cores variados... E tendo isso acontecido dessa maneira o Grande-SER percebeu que toda vez que Ele faz algo surgir Ele diminui de tamanho... Insignificante, se existisse alguém para vê-lo nem notaria, pois Ele era realmente imenso... Bastava que Ele imaginasse algo e no mesmo instante surgiam cometas e asteróides e outros astros celestes... Depois de algum tempo Ele se convence de que é Ele mesmo que estava causando aquilo tudo com a sua imaginação poderosíssima... Então, Ele começa a construir o sistema de coisas exatamente como bem quer...

...Nesse momento, Alice, já existem muitos elementos no pequeno Universo... O Grande-SER percebe que é realmente muito poderoso... Descobre que se Ele fosse um ser humano como você, Alice, teria o mesmo aspecto e aparência da tua idade...

...Descobriu ainda que teria essa idade, “a eternidade toda...”. Ele acreditava ser realemente Perfeito...

...Não tinha Nele sentimentos como: amor e o ódio... Não sentia dor nem prazer... Não tinha nem paz nem tormenta dentro de si... Não era alegre nem triste... Não era bom nem mau... Pois como Ele era dotado de todas as coisas, todos os sentimentos, todas sensações então elas se anulavam dentro Dele... Se anulavam e se coexistiam harmonicamente... Conviviam simultaneamente de uma maneira que se transformavam em Perfeição...

...E o Grande-SER realmente entendia possuir a Perfeição, pois tudo sabia, tudo fez, tudo faz, tudo é, tudo pode, tudo depende Dele... Imagine um Grande-SER que... Nunca fica doente, nunca se ira, nunca chora, nunca sofre, nunca morrerá, nunca érra... Assim era o Grande-SER...

...Queria que algo extraordinário acontecesse para justificar sua Existência, seu grande poder e glórias mil... Decidiu criar...Um tipo de vida orgânica... Pensou durante muito tempo...

...Então arquitetou o lindo Planeta Azul... Fez os continentes e os arquipélagos... Fez água...Fez rios, lagos, mares e oceanos... Fez as florestas e matas... Fez tudo que hoje nele existe: as montanhas e planícies... Depois fez uma imensa floresta que cobria todo o lindo Planeta Azul (a Terra)... Em seguida: criou uma porção de gigantescos animais que reinaram soberanamente por muito tempo...

...Isso aconteceu por muito tempo mesmo... Mas, depois o Grande-SER... Resolveu criar outros tipos de seres mais evoluídos e os gigantescos animais teriam que deixar de existir para dar espaço a sua nova criação... Porque Ele queria que os novos seres habitassem o Planeta Azul... E os gigantescos animais já teriam cumprido a suas missões de ratificar (afirmar) ao Grande-SER que realmente esse Planeta seria muito bom para se viver...

...O Grande-SER fez com que um cometa se colidisse com o Planeta Azul e extinguisse os ocupantes desse mundo dando lugar para essa nova espécie que o Grande-SER criaria para ocupá-lo, porque não seria possível para as duas espécies existirem juntas... O cometa fez com que tudo ficasse escuro por causa da poeira do impacto e tudo que era vivo morreu...

...O Grande-SER acabou com tudo que existia... Tudo que tinha vida acabou, sumiu... O Grande-SER fez uma nova Fauna, fez uma nova Flora... Ele resolveu fazer coisas novas... Fez a chuva, fez a Lua... E continua diminuindo o seu de tamanho a cada feito seu... O Grande-SER... Ele queria povoar o Planeta Terra com novos seres...Semelhantes a Ele... Eles aparentemente teriam mais ou menos vinte e sete anos de idade... Iguais a aparência que Ele soberanamente escolheu ter...

...E o Grande-SER idealiza a sua nova criação...

...Seriam todos seres imortais, sem amor ou dor, ódio ou sofrimento... Sem alegria e sem tristeza, sem sentimento e sem frustrações... Seres Perfeitos como Ele mesmo se julgava que era por Excelência... Eles seriam uma forma de homens e de mulheres ao mesmo tempo...

...Todos os seres seriam exatamente assim com os dois sexos em um só indivíduo... Semelhante ao que o Grande-SER é... Na verdade para ter noção de como o Grande-SER é... Basta só imaginar que Ele era noventa e oito por cento mulher... E depois adicionar o órgão reprodutivo do homem: os dois por cento... Todos os seres teriam os dois sexos... Andróginos... Semelhantes à aparência do Grande-SER... Mas os seres não se multiplicariam nunca... Porque o grande SER não iria permitir que a reprodução existisse... Isso não estava nos planos originais Dele...

(página 36)

...Porque o Grande-SER planejou que o Planeta inteiro fosse habitado todo de uma única vez... Ele idealizou que os seres fossem exatamente semelhantes a Ele, Andrógino, homem e mulher junto, e povoasse a Terra inteira numa única criação multipla completa...

...Então não haveria mais espaço físico para novos seres além dos que Ele mesmo os faria... E o Grande-SER planejou que a sua nova criação fosse semelhante a Ele também no fato de serem Perfeitos como Ele é...

...E é por isso que se mesmo se houvesse espaço na Terra não iria haver a reprodução, a multiplicação dos seres por meio do sexo; pois em sendo semelhante na perfeição igualmente o Grande-SER era:

...Não havia sentimento... Necessidades... Nem haveria motivos... Não haveria química para a ternura (o amor)... Nem existiria o amor (o sexo)... Porque todos os seres seriam como o Grande-SER: Perfeitos... Nem haveria a necessidade de afetos e carinhos... Essas coisas não existiriam... Porque todos seriam como o Grande-SER é: Perfeito... Mas no momento que o Grande-SER pretendia fazer esses seres existirem dessa maneira semelhante a si, Ele se arrependeu de fazer isso e interrompeu o seu próprio comando que faria tudo isso existir assim e de uma só vez... Refletiu muito... E percebeu o tanto que Ele era infeliz... Frustrado... Decidiu: Ele não queria que os “novos seres” fossem infeliz como Ele era... Este sabia que toda essa infelicidade provinha do fato Dele ser Perfeito... Da falta de novidades em sua vida... Então resolveu... Não fazer os novos seres a sua imagem e semelhança... Não como Ele é... Mas, Ele condicionou para que os novos seres fossem... Como Ele desejaria ser na verdade com um indivíduo feliz, do modo correto...

...Pois não gostava de saber tudo... De ser um “adulto” para todo o sempre... De ter essa idade para o sempre eterno e infinito...

...Queria nascer de dentro de um outro indivíduo... Com a ausência de toda a ciência... Sem nada saber, queria nascer assim, um leigo em tudo, quase tudo... Queria ter (sentir) sensações... Ele queria sentir... Ser acarinhado (receber caricias) pelos seus pais-mães... Ele queria mamar... Chorar... Brincar... Queria ser protegido pelos seus pais-mães... Queria aprender as coisas... Com o passar do tempo... Bem devagarzinho... Paulatinamente...

POETA ISAÍAS AMORIM
Enviado por POETA ISAÍAS AMORIM em 29/06/2019
Código do texto: T6684476
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