Minha Fé (ou Falta De)
Minha Fé (ou Falta De)
quando olho presse mundo
quando contemplo as relações
que existem entre o homem,
a natureza, o universo,
me sinto muito pequeno.
...
(isso me impõe um certo
silêncio constrangedor)
...
Em verdade, eu sou um Nada
dentro dessa Imensidade Divina
da qual, de alguma forma,
ainda participo.
Não tenho tanta prepotência
a ponto de esculpir Deus
(à minha imagem e semelhança)
mas acredito que a Queda de Adam
é a história de todos nós.
Do berço ao túmulo, do sêmen ao pó,
filhos do desejo,
irmãos do pecado,
noivos da cova num casamento arranjado
e sem divórcio.
Amor é chama que arde sem se ver
mas nós queimamos de um fogo ímpio.
Atiçamos a impiedade
ou antes, a acenderam em nós,
mas disso não sei, não se sabe.
Quando acordei, assim me encontrei
e não me lembro de um tempo
em que não estivesse acordado.
Nada sei do que fui ou que um dia serei
E do que não conheço não falo, me calo.
Do pouco que temos,
castelos erguemos -
crianças brincando
na beira do mar.
Ao nada que somos,
nos agarramos -
provamos do fruto,
sorvemos a seiva,
cuspimos a casca,
beijamos o cuspe.
E no compasso composto desse soneto eterno
dançamos a valsa impiedosa da realidade.
Ó impiedade!