Ensaio sobre as Inquietações Inacabadas da construção do corpo social

O corpo não nasce pronto, ele vai se moldando e se formando ao poucos, de acordo com as experiências, vivências, acomodações e situações desenvolvidas nas relações sociais.

Ele se fragilizado, se torna voraz, conivente, benevolente, estranho, de acordo com os olhares sobrepostos sobre ele. Não aflora no mesmo tempo e do mesmo jeito para todos e todas.

Existe as determinações biológicas, as determinações impostas e as construções sociais.

Os órgãos formadores dos sistemas, a cor dos olhos e da pele, o funcionamento da circulação sanguínea, os sentidos, estas e tantas outras funções estão dentro do ordenamento de formação do ser que merecem olhar da biologia, mas o ser, em sua essência e existência, não é apenas esse determinante.

O uso social deste corpo está para os alinhamentos sociais, culturais e históricos com os quais esse corpo interage, convive, atua em dada comunidade.

Para isso é preciso se analisar as determinações externas: os discursos proferidos sobre esse corpo, os olhares e as influências que o cerca, as ferramentas opressivas acordadas e impostas com o argumento da naturalização histórica pelos membros do grupo de participação, as tradições oralizadas, as convenções e as punições subjugadas sobre os sujeitos.

O discurso instituído é muito significativo nessas relações. É ele o canal utilizado para dizer o certo e o errado, o que pode e o que não pode, o que é pertencente e o que torna esse. corpo um desvio de conduta.

O discurso ordena, pune, absolve, direciona, castra, legaliza, ortoga, mata o corpo.

É ele um dos elementos culturais responsáveis pala formação do corpo social, o que codifica o corpo masculino e o corpo feminino, as coisas pertencentes aos universos do homem e da mulher: a cor, o jeito, os comportamentos, as atitudes, os sentimentos, as ações(...)

Para ser aceito, o corpo se curva às convenções, quando não, são taxados de estranhos, incômodos, arbitrárias, signos de serem rechaçados e expostos aos discursos de ódios e de intolerância(...)

Um corpo estranho é aquele que nega as determinações naturalizadas e se constrói a partir de uma identificação mais consistente entre o que se sente, se pensa e se identifica fora de padrões estabelecidos.

Porque ninguém é obrigado a ser produto produzido em série, como as produção das grandes indústrias de enlatados, cada um deve sair do casulo do jeito que se identifica, para o processo de construções de identidades que não sejam apenas biológicas, mas políticas, humana, éticas e, acima de tudo, cidadãs plenas de direitos de existir

Marcus Vinicius