SÃO REALMENTE UNGIDOS OS “UNGIDOS DO SENHOR”?

Autoridade divina realmente existe ou alguns usam esse termo para subjugar-te?

*Por Antônio F. Bispo

Comece sua vida estudando à partir dos 4 anos de idade numa boa escola, tenha uma vida digna sendo um profissional honrado no que faz e depois morra depois dos 80 ainda se aperfeiçoando continuamente no que fazes ou em grandes projetos científicos para o bem de toda humanidade e você pouco ou quase nunca será notado, a não ser por seus companheiros, quem em alguns casos você os poderá contar usando apenas os dedos de suas duas mãos.

Mesmo se fores um grande médico ou um excelente cientista com grandes feitos e poucas falhas na carreira, muitas pessoas com frequência irão duvidar de você, da sua competência, poderão te olhar com desdém ou até atribuir seus feitos “as coisas do diabo” como se fazia e ainda fazem em alguns lugares, mas se um outro alguém hoje mesmo, depois de ter roubado, matado, estuprado, extorquido e ter feitos crimes inomináveis de tão macabros que são, se o tal pegar uma bíblia, disser que jesus o transformou e que é uma pessoa de deus, um ungido do senhor, as pessoas com certeza irão dar ouvidos ao tal e nada do que ele disser valendo-se de uma crença religiosa será questionado.

Esse tipo gente poderá até ter uma boa vida, até melhor que a sua, onde num recindo religioso todos poderão trabalhar de graça para ele, obedecendo-o cegamente, operando no “modo feliz” e ainda doando 10% de tudo que ganham no labor diário delas, enquanto “ungidos” como esses viverão do lucro contando sua história baratas, horrorosas, degradantes e depravadas, que mais humilha que engradece a própria crença que seguem.

Não é difícil perceber que boa parte das pessoas gostam disso e pagam mais caro pôr esse tipo de “profissional” do que por um profissional realmente habilitado para trabalhar com o comportamento humano e seus derivados. Difícil mesmo é alguém ter coragem, honra e caráter para deixar esse tipo de vida parasita e predadora e cair fora desses recintos depois de descobrir como tudo funciona.

Quando alguns percebem que a tal de “obra de deus” é apenas um emaranhando de acordos e preceitos estabelecidos por pessoas comuns, que não há nada de divino nem nas leis e nem nos líderes e que podem fazer qualquer tipo de interpretação do livro qual dizem ser verdadeiro, a tentação é grande a levar vantagens sobre os outros e a grande maioria sucumbem, permanecendo e levando outros a permanecerem num estado mental de letargia e retrocesso onde o medo, o lucro e a paranoia são os principais regentes de tal obra.

“Do modo que me enganaram eu os enganarem também! Como me exploraram eu também os explorarei”! É assim que muitos chegam a pensar ou dizer de forma verbal após se darem conta de como “deus administra” a sua igreja.

Para serem profissionais da área da fé na maioria dos casos e das igrejas, não existe objeção alguma nem de caráter e nem de perícia técnica a não ser o fator submissão incondicional para quem estar sujeito a uma hierarquia, ou carisma popular para quem deseja fundar sua própria “empresa da fé”. Quem se enquadra em desses dois perfis pode imediatamente abrir uma igreja ou ser enviado para gerenciar a franquia de uma.

A depender do segmento ou do local onde tu vai fundar seu ministério ou pastorear um rebanho, seu público alvo não precisa saber do seu grau de escolaridade e não precisam de provas ou comprovação científicas de nada que você vai falar. A fé, esse tipo de fé cega e irracional que tem deixado um rastro de destruição por onde passa terá mais validade do que qualquer certificado técnico ou acadêmico, concursos, medalhas ou condecorações que você possa ter adquiro por mérito próprio em toda sua vida.

Inclusive você irá perceber que paga-se bem mais aos “profissionais da fé”, do que a qualquer outro tipo de profissional concursado se levarmos em conta o fator investimento/retorno, aplicado em praticamente tudo que fazemos.

A exemplo disso, quem sabe não exista um insulto tão grande para um profissional de medicina do que este: depois de passar mais de 15hs numa sala de cirurgia com um paciente após um grave acidente ou doença grave, ver esse sujeito ir para uma igreja doar dezena ou centenas de milhares de reais para um pastor ou divindade qualquer que nada fez por ele e diante de todo o público ainda dizer que foi deus quem o salvou, que foi as orações dos crentes ou do “paxtô” que o livrou da morte, ou que foi a divindade tal e tal quem fez o milagre e por isso vai doar X valor para a “obra de deus”.

Na maioria dos casos esse tipo de gente, nem se quer sabe o nome do médico que o atendeu, não o agradeceu pessoalmente nem a ele nem a sua equipe que inclusive as vezes estão até com o salário atrasado pelo estado e mesmo assim vão trabalhar, mas o sujeito que fora beneficiado vai justamente fazer oferendas a um líder religioso que não fez absolutamente nada para merecê-lo! Tem condições um negócio desses? Pior ainda quando estes nas igrejas recebem uma oportunidade para testemunhar, chegam a dizer de modo arrogante que a medicina não é nada, que a ciência não é nada, que o médico não e nada e que o curou foi deus...Bem estimulante não é?

Se você passou pelo menos 1 ano numa igreja evangélica por exemplo indo ao culto pelo menos 2 vezes por semana, no mínimo você deve ter ouvido pelo menos 500 vezes essa expressão dita em alto e bom som, acompanhado por uma rajada de glórias e aleluias como termo de aprovação geral da ignorância.

Me diga se existe algo mais desafiador para um profissional de segurança pública do que ver pregando e contando “tristimunho” aquele mesmo bandido, que em troca de tiros assassinara seu colega de trabalho, seu pai, sua mãe ou algum ente querido seu, e que agora em uma igreja lotada, conta com detalhes e vanglória quantas pessoas já matou, quantas estuprou, citando tudo o que fez de modo arrogante e ainda por cima mais triste é saber que esse mesmo sujeito será remunerado financeiramente por isso como pastor, missionário ou pregador!

Que país é esse em que vivemos? Que mundo é esse dos cristãos, onde o vilão se torna herói, e o herói nem sequer é mencionado ou vira bandido? Será que não existe algum artigo na lei que possa incriminar e prender em flagrante tais indivíduos por crimes que ele cometeu e agora confessa, pois ocultou, ou negou no julgamento e fala abertamente sobre isso em qualquer lugar?

Quem sabe, em último caso poderia enquadrá-los por charlatanismo quando para endossar suas estórias e atrair público pagante (como num circo barato) chegam a afirmar como testemunho próprio que um homem sem pênis, engravidou uma mulher sem útero, depois de ambos serem ressuscitados depois de 15 dias, mesmo estando todos os seus órgãos vitais fora da caixa torácica em uma mesa de necrotério! Que palhaçada só na “casa de deus” mesmo pra ver esse tipo de absurdo e todo mundo achar normal...

Para gerar renda e extorquir o povo, “ungidos” como esses são capazes de tudo. Tanto o pregador quanto o líder local que oferta espaço na igreja só para angariar fundos, são tudo farinha do mesmo saco nesses casos.

Houve até uma época em que as igrejas eram tidas como lugar de respeito, um lugar consolo, para consolar as próprias pessoas que os líderes religiosos amedrontavam, mas cada vez mais esses lugares estão piorando e virando um verdadeiro covil.

Quanto mais o “reino de deus” se propaga, mas fétido ele fica e o lado mais obscuro do ser humano tem se manifestado justamente nessas casas. Até um “iluminado” caurandeiro que que tem como sobrenome “de deus” por exemplo, foi capaz de abusar sexualmente de mais de 300 mulheres. Por ai você tira no nível de proteção que deus dá aos que nele confiam e que se entregam totalmente “a ele” nesses recintos.

“Rode a cara” em algumas dessas casas, que você ficará sem dinheiro, sem honra, sem um lar, sem família e perpetuamente atormentado. Quanto mais você confiar em deus e entregar tudo nas mãos dele, maior será o seu prejuízo nesses recintos. A menos que você também esteja cultuando o deus da soberba, da luxúria, da ganancia e da mentira, aí sim haverá uma troca justa e você poderá obter boa parte dos investimentos feitos, alcançando influência política ou sobre o grupo local.

A “obra de deus” do modo que essas igrejas retratam é algo tão sério, mas tão sério, que até qualquer um, absolutamente qualquer um pode ser um “representante direto” de deus na terra, se tornar seu ungido, e dizer ou fazer o que bem entender em nome desse “ser superior” e fica tudo por isso mesmo. Não há leis, nem um órgão regulamentador que imponha limites ou faça cobranças como há em todo seguimento profissional. Certos botecos de quinta categoria tem mais reputação do que alguns recintos tido como casa de deus pelo modo que seus líderes se comportam. E deus “vendo tudo” nada faz, só observa...

A grande questão é: devemos mesmo nos submeter a esse tipo de gente? Um qualquer, que pega um bíblia, abre uma igreja do nada e que impor a todos seus costumes, suas crenças e ainda por cima vivem a fazer todo tipo de ameaça velada?

E mesmo se for de uma instituição religiosa séria e renomada, precisamos mesmo prestar-lhes algum tipo de temor ou reverencia? A troco de que? O que eles podem nos dar que já não o tenhamos ou tirar de nós sem que o permitamos? No passado a proposta de céu e inferno era o meio pelo qual eles nos intimidavam. Hoje ambas as propostas se tornaram patética mediante o estilo de vida que eles mesmo vivem e já não intimida tantos os de fora, só os de dentro.

Será que precisamos mesmo de tantos profissionais da fé operando num mesmo espaço e no mesmo tempo? Deus por acaso se tornou mais exigente pedindo mais dinheiro e mais adoração? Houve uma época na história do “povo de deus” em que os cultos eram anuais e deus estava conformado. Depois foi cada vez mais reduzindo o prazo. Hoje algumas igrejas fazem culto 24hs por dia de forma presencial e televisiva e parece que o “saco de adoração” e de dízimo desse deus nunca enche!

Será que o mercado da fé já não estar saturado? Será que não se tem outra coisa pra fazer? Se a questão é lucro, existem várias outras modalidade mais honestas e menos corrosivas para a alma humana.

Outra questão que devemos nos perguntar é: Se o crescimento em número desse tipo profissional é um fator de influência positiva nas sociedades modernas por que a marginalidade, a bandidagem e a corrupção tem crescido tanto em todas as escalas sociais? A luz não espanta as trevas? Por que então ao invés de evoluirmos em caráter, respeito e ordem social, parece que estamos regredindo? E por que será que esse tipo de profissional rende mais justamente onde a pobreza e a ignorância imperam? Por que em países desenvolvidos ou onde “deus não estar acima de todos”, o número desse tipo de profissional é reduzido e mesmo assim há menos criminalidade e uma menor população carcerária? Tem algo errado nisso ai...

No próximo texto concluiremos o raciocínio. Acompanhe-nos! CONTINUA...

Texto escrito em 20/4/19

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 20/04/2019
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