AMOR-TE
O que a morte diz?
É chegada tua hora, "vumbora"
Não me contradiz
Na minha terra vocês são todos imbecis!!!
Sou a lousa, o quadro negro
Escrevestes tuas débeis linhas
Sou o conta gotas das horas
Agora virarás o pó deste giz
Apago a raiz e tu te desarvoras...
Não adianta fugir e nem sequer
Me olhar pelo rabo do olho
Pelo adjacente retrovisor
Já sentes minha fungada
Até mesmo por dentro do cobertor
Confesso, não nego
Estou no teu ponto cego...
Uns já bem nauseabundos
Me chamam pra socorrer
Porque o sofrer não é da luz
E outros fogem de mim
Como o diabo foge da cruz...
Não quero o que é vosso
Só estou cobrando o aluguel
Pelos teus ossos...
Sou um jogo e neste tabuleiro
Que é a aparente vida
Sou o xeque-mate
E muitas vezes sou a corda que te puxa deste atoleiro...
Eu não mostro minha cara
Só coleciono tuas escaras
Por isso me escondo em um capuz
Tomo de canudinho tua pústula e teu pus...
Quando me olhas nos olhos
Uso minha foice
Pra soar como um "foi-se..."
Eu não existo
São vocês que me fazem existir
Eu só mostro o que é inexistir de verdade
Tanta verdade maquiada
Tudo vaidade alugada
E acaba como as pegadas na areia
Que a onda da ilusão vagueia
E apaga zerando tudo na maré cheia...
Todos indistintamente somos passageiros desta agonia
E o mundo uma incubadeira cujo vento
Balança numa cadencia repetitiva os fúteis momentos
Que passamos como uma criança que chora num convento
Cujos pais o abandonaram na fase adulta...
E depois daí seguimos sós nesta "chocadeira-mundi"
Em cuja matéria prima que o faz girar
Somo nós mesmos como a cana que é triturada
Pelo lento moedor da terra que encerra nossa sina
Nos tortos deslizamentos de cadas esquinas que passamos
Sou sim navalha afiada que desfia carne
Do mundo sou a mais antiga meretriz
Sou ressaca crepuscular
Que vai açudando pouco a pouco
a infeliz taça de teus olhos
Até me embriagar com tuas lágrimas transbordantes a chorar...
Ou quiça para me agradecer
Do pesado fardo que carregas
Eu te liberto da alma aberta
A borboleta é a flor liberta
Algumas coisas que se perdem nos momentos errados
De certa forma aconteceram nas horas certas
Só o tempo dirá...