Relato 23) - Santo Daime: Céu de Maria - Trabalho de Concentração - 15/01/2019
Lembrando que o meu último trabalho com daime também foi de concentração, nesta mesma igreja. Trabalho aquele em que trabalhei energias do medo da coletividade humana. No final daquele trabalho tive aquele sentimento de ter “perdido” a oportunidade de trabalhar para o mestre Jesus, de não ter tido a firmeza necessária…. Mas neste trabalho aqui, cujo relato segue…
Início do relato
Fomos eu e o meu enteado. O trabalho estava marcado para às 20:00. Nunca começa no horário, mas é bom chegar por volta de 21:00;
Chegamos atrasados, às 22:20. Já fazia uns 40 minutos que o trabalho havia começado.
Estou gravando todos os trabalhos em que eu vou (só áudio), pois gosto de ouvir depois para relembrar o trabalho e estudar hinos novos.
Preparei o celular para gravar, prendi o microfone no lado externo da mochila e subi para a igreja.
Coloquei a mochila em um canto e fui até o fiscal para ver onde eu iria sentar. Fiquei na última fileira (para mim tanto faz, rs, o importante é estar ali, a serviço). Gosto de deixar as blusas na cadeira para o caso de precisar, pois embora tenha feito um calor daqueles de dia, tem vezes que a força chega com aquele frio por dentro, aì é melhor estar preparado, embora blusa nenhuma dê conta deste frio, rs.
Deixei as blusas na cadeira e fui tomar o daime. Daime de grau médio.
Me sentei e depois de uns 5 hinos começou o intervalo para concentração, sem hinos. Normalmente, se tomar daime no começo do trabalho, é justamente nesta parte que a força chega
Achei interessante que desta vez, quando a força chegar eu estaria em uma parte diferente do trabalho. A Inteligência Divina sabe o que faz.
Passou os 40 minutos de concentração e a força começou a chegar, então foi anunciada a segunda dose do daime e começaram os hinos do despacho do daime. Após uns 5 hinos, quando me percebi eu já estava na fila, rs.
Esta segunda dose potencializou a primeira, e os hinos conduziram a minha consciência para o ser divino que vive no daime.
Foi divino. Eu senti plenamente o poder da floresta, do céu, lua e estrela, da magnitude do Universo. Um amor tão grandiosos por tudo e por todos…
Não cheguei a sentir aquela forte tomada da consciência, quando eu sinto meu corpo adormecendo e transfigurando em outro ser, mas eu estava atuado por outra força e minhas mãos ganharam vida, conforme o ser que me atuava.
Após os hinos do despacho começaram os hinos de defumação.
Me entreguei a atuação destas forças, que faziam gestos de limpeza do ambiente.
Depois começou a segunda parte dos hinos, que falam muito do mestre dos mestres: Jesus.
Me senti totalmente preenchido por amor, e me deixei atuar por estas forças, que me traziam à face o sorriso mais amoroso que já tive na vida.
Em determinado momento os dedos das minhas mãos desenharam um coração na minha testa e neste momento, tomado por forte emoção, chorei um monte.
É lindo demais este contato. Esta certeza de que o Mestre existiu e existe em forma de Amor, de energia, que eu sinto enquanto escrevo estas palavras.
Por mais que leiamos a história deste grande Mestre, por mais que ouvimos pregações… meu amigo… quando você SENTE …
Uma energia infinitamente amorosa me envolveu, eu sentia minha consciência saindo do chão. Me sentia totalmente amado e compreendido.
Quando um hino falava “O Mestre manda eu trabalhar, o Mestre manda eu me firmar, no lugar onde Ele está”, meu rosto se fechou e pude sentir uma roupa parecida com a de um soldado me cobrindo.
Passaram-se mais alguns hinos aleatórios, fora do hinário de concentração. Antes mesmo de a puxadora cantar baixinho o hino para os músicos iniciarem, minhas mãos já estavam posicionadas para trabalhar na força daquele hino.
Quando ela começou este hino para Ogum, senti a força grandiosa deste ser divino :
“Um dia vou mostrar
Para todo mundo ver
A força de Ogum
Para quem quer compreender
A Lua é nossa Mãe
O Sol é o nosso Pai
E nós somos as Estrelas
Só nos resta agradecer”
Assim que começaram os hinos Cruzeirinho do mestre Irineu (amo estes hinos e tenho todos na ponta da língua.), foi anunciado que estava aberto o despacho para tomar mais um fio de daime.
Me dirigi até o despacho e não falei nada. Deixei o irmão, sentir qual força eu necessitaria neste trabalho.
Ele serviu o daime, depois colocou mais um pouco. Daime daquele muito apurado, mal saia do copo, rs. Tomei e saí tendo uns tremiliques..
O hinário Cruzeirinho é feito sempre em pé. Só não fica em pé quem não está mesmo se aguentando, mas apenas um ou outro fica sentado.
Deixei a força me conduzir. Eu cantava os hinos a plenos pulmões e trabalhava com as mãos e com a consciência, sem no entanto ceder totalmente a consciência para os seres divinos.
Quando eu me percebia, ouvia minha voz cantando, quando eu deixava a força cantar eu não ouvia, minha voz estava no Todo.
Terminou o hinário Cruzeirinho, depois foram executados os hinos de encerramento e com 3 Pai Nosso, 3 Ave Maria e mais algumas orações o trabalho foi encerrado.
O trabalho terminou às 01:45
Cumprimentei alguns irmãos, depois fui até o meu enteado e trocamos um caloroso abraço.
Fui até a mochila e interrompi a gravação (que ficou muito boa )
Ficamos um pouco na igreja ainda, depois saímos.
O meu enteado perguntou se eu estava de boa, poi ele queria ir dar uma volta com os amigos. Eu disse que estava bem
Fui dar uma volta também. Fui até o mirante, de onde dá para ver o Pico do Jaraguá.
Aí comecei a ficar muito enjoado. Parecia que a força daquele terceiro daime estava chegando naquele momento.
Encostei em uma árvore e enjoei para valer, aí percebi que estava para ceder a consciência para um ser da floresta, pois meu braço começava a se integrar totalmente à árvore.
Encontrei o meu enteado e disse para ele que eu estava muito enjoado e perdendo a consciência, por conta daquele terceiro daime. Ele me levou para a roda de irmãos, que estavam conversando, para ver se eu saía da força.
Eu estava lá junto com eles, sentado. Mas para mim eles estavam quase transparentes. Se eu focava o olhar em uma árvore, minha consciência se deslocava e eu me via em frente a ela. Sentia o meu rosto adormecendo e sendo transfigurado em outro ser.
Mas eu não queria continuar o trabalho, pois o trabalho já tinha sido fechado. Fiquei lutando durante um tempo com a força e quanto mais eu lutava, mais enjoava.
Mas não teve jeito, eu teria que receber este ser na mata, mesmo tendo fechado o trabalho.
Em determinado momento a força veio com tudo e fui tomado por um ser, que disse para o meu enteado que eu precisava ir na mata mas que ele podia ficar despreocupado, pois eu estava sendo guiado.
Me levantei e fui andando, passei por algumas árvores e depois voltei para a primeira.
Assim que encostei as mãos na árvore, o topo da minha cabeça foi adormecendo, descendo pelo corpo todo. Senti meu corpo se transfigurando em um ser da floresta: as mãos mudando de densidade, tornando-se parte do tronco da árvore. Esta sensação de mudança de densidade se espalhou por todo o corpo. Os meus pés se expandindo, criando raízes e sendo tomado por um sentimento enorme de poder e amor.
Mas a mente, aiai viu? E o medo de receber este ser depois de encerrado o trabalho? Pode?
E o medo de virar uma árvore? (como se isto fosse possível). Aí eu saia da força e enjoava. Aí começava tudo de novo, me abaixando e tocando as raízes da árvore. Quando me sentia plenamente na força deste ser “eu” me levantava e tocava na árvore recomeçando o processo de transfiguração para este ser.
Mas aí ficou complicado… uma formiga ( aranha, sei lá ) subiu na minha mão e tirei a mão da árvore, aí começava tudo de novo. Depois foram os pernilongos, zumbindo no meu ouvido ou pousando no meu braço.
Pensei que seria bom colocar a camisa de manga comprida que tenho no carro. Lá fui eu, até o carro, ainda parcialmente com a consciência deste ser.
Fui até o carro (no caminho me detive em várias árvores) e troquei a camiseta de manga curta por uma de manga comprida.
Quando estava para chegar no primeiro portão, lembrei que tinha que tomar água. Voltei no carro e tomei um pouco de água.
De novo, quando estava para chegar no primeiro portão senti fome. Voltei no carro para tomar um todynho.
De novo, quando estava para chegar no portão voltei para o carro ( não lembro porque ). Aí enjoei para valer e ouvi: ‘Chega, vamos lá’.
A mente , ah a mente, rs. Quanto medo ela ainda tem…
Voltei para perto da igreja e me posicionei entre duas grandes árvores, bem próximas uma da outra. Encostei as mãos nelas, (a da direita tinha um cipó) e deixei vir este ser divino.
Em determinado momento me senti plenamente tomado por este ser, mas não em sua totalidade (os pernilongos zumbindo no meu ouvido, o medo de insetos das árvores. Puxa, estou humano, rs).
Entrava na força e saia, e aí enjoava para valer. Aí começava tudo de novo, tocando nas raízes… Aí comecei a soltar muitos gases. Pensei que teria que fazer uma limpeza (que sai do corpo em forma de vômito, diarréia).)
NOTA: Muitas vezes eu enjoo no trabalho com daime. Já saí lá fora, mas nunca fiz qualquer tipo de limpeza. Ouvi várias vezes que “nunca vou colocar o daime para fora”. Esta resistência ao que a força quer de mim é que me faz enjoar.
Me firmei e este ser veio com tudo. Me tornei integralmente parte da árvore. Ouvi: “agora sim”. Senti um poder descomunal, como se eu fizesse parte da árvore, da terra, de tudo.
Achei que tinha acabado, pensei “puxa, já chega né? Tenho que ir embora (já fazia mais de uma hora que estava nesta)
Me levantei e comecei a voltar para onde os irmãos estavam conversando, mas me detive em várias árvores grandes, ainda na força.
Acabei parando na primeira árvore onde comecei a trabalhar, e novamente com este ser, que me falou algumas coisas.
Este ser me disse que não há poder disto ou daquilo. Que há somente o Poder. Que o poder que eu estava sentindo através dele é o poder da criação, o poder divino.
Nossa, nesta hora me senti parte de todo o Universo, sem nenhuma separação com Deus e os seres divinos. Um poder descomunal tomou conta do meu ser. Posso dizer que naquele momento senti o poder de Deus. Minha consciência viajou pelo Universo, entre florestas, mares, estrelas, planetas.
NOTA: Lembrei então que alguns dias antes eu havia pedido para compreender o poder da energia sexual, que é também o poder de criação. Mas não pedi para acontecer isto no trabalho,rs. Queria ter este esclarecimento durante a meditação.
Aí eu falei que precisava sair da força, para poder ir embora.
Me levantei para voltar para onde estavam os irmãos e encontrei o meu enteado, que trouxe a minha garrafa de água dizendo que achava que eu estava precisando. Nossa, bebi que nem um desesperado. Estava morrendo de sede.
Agradeci e fomos para junto dos irmãos, ainda estava no restinho da força, não conversei muito. Às vezes ainda via os irmãos meio transparentes, rs.
Aos poucos fui voltando ao meu “estado normal”. Normal, mas não natural. O natural era o Eu integrado com Tudo O Que É. O natural é eu ser a árvore, a pedra, o sol, a lua, as estrelas…
Comecei a conversar e fui saindo da força.
Às 04:00 já estava em condições de pegar o carro para irmos embora.
A estradinha de terra está bem ruim. Tem que ter muita atenção para conseguir chegar lá embaixo.
Cheguei em casa, tomei um café (nossa, nunca tomei um café tão gostoso, sentindo o amor com que a planta nos fornece seu fruto).
Tomei um banho e fui dormir.
Quanta compreensão.
Só agradeço a esta Força e a todos os seres divinos.
Autor: Valdemir Nunes da Silva