TER UM CENTRO

TER UM CENTRO

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Atkinson disse que aquilo a que a alma se aferra é o que secretamente a possui. Ora, queridos amigos - quando fixamos nossa intenção sobre algo que é, por natureza, impermanente, é como se tentássemos edificar uma estrutura sobre areia movediça. Como poderíamos construir algo sobre o efêmero, volátil?

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Alguém não pode tirar a si mesmo de um buraco puxando-se pelos próprios cabelos. Enquanto firmarmos nossa Vontade em nós mesmos - ou em algo que desejamos - estamos tomando o impermanente por fundamento e, consequentemente, deslocando nosso centro gravitacional. Pense, caro leitor - que aconteceria se a Terra decidisse girar em torno da Lua, em vez do Sol? O que se sucederia se a Lua quisesse irradiar sobre a Terra uma luz própria, que não possui, em vez de doar adiante a luz que recebe do alto, do Astro-Rei?

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Não é preciso muitas premissas para supor que uma catástrofe derivaria das condições imaginadas acima. Se a Terra e a Lua prevaricassem, colocando a si mesmas acima da Harmonia Universal, não apenas poriam em risco a ordem cósmica como marchariam para sua própria destruição (como o fazem os homens que se deixam arrastar pela Torrente).

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Perceba que o Sol, no mundo das Formas, é análogo ao Bem, à Beleza e à Verdade no plano do Espírito. Assim como o Sol traz calor, ordem e vida para a região celeste, a Virtude aquece, organiza e vivifica a inteligência humana. Caso ergamos nossa estrutura sobre qualquer coisa que não o Absoluto Bem, deliberadamente damos as costas para o Sol Espiritual, e consequentemente veríamos à nossa frente nossa própria sombra projetada que, cobrindo tudo quanto se encontra diante de nós, nos faria olhar para as coisas e tomá-las, elas mesmas, por sombrias e estranhas, enquanto vemos por toda parte a obscuridade por nós mesmos proporcionada (até porque a ausência de luz só é ocasionada com uma obstrução, um obstáculo).

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Saibamos destronar o instável e ater-nos fortemente ao Perene, para que não percamos a contemplação deste Sol Invisível e assim, alicerçando nosso Ser sobre a Verdade, repliquemos em pequena escala a harmonia do Macrocosmo, engendrando em nós algo desta luz esclarecedora e deste calor vivificante, para que sejamos também pequenos sóis para os outros e para nós mesmos.

Chrystian Revelles
Enviado por Chrystian Revelles em 16/04/2019
Reeditado em 16/04/2019
Código do texto: T6624842
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