Relato 21) - Santo Daime: Céu de Maria - Trabalho de Concentração (30/11/2018)

A esposa não foi.
Fomos eu e o meu enteado e demos carona para um irmão que pediu pelo face e mora perto de casa. Bom o menino, novinho, 18 anos. Era a segunda vez que ele ia no Céu de Maria.
Neste dia eu tinha consulta às 15:30… o ônibus demorou… cheguei em casa depois das 18 e íamos sair de casa às 20:30
Ainda tinha o niver de uma tia para ir…
Saí de casa às 21 e passei na casa do meu enteado e depois na praça para pegar o irmãozinho da carona.
A estradinha até que não estava ruim. No meio do barro demos carona para mais um irmão e não estava chovendo quando chegamos, às 21:40, mas estava armada uma tempestade.
Deixei eles na porta da igreja e fui estacionar o carro. Meti o pé na água e molhei até a meia. Pensei, puts, tomara que não faça frio.
Fomos para o livro e aí começou a chover muito, mas muito mesmo.
Na entrada da igreja o fiscal pediu para deixar o guarda chuva na entrada, para uso dos fiscais, se precisar.
Quando entramos na igreja já estava formada a fila para o daime. Já havia sido rezado os 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria
Fui para a fila, tomar daime. Daime daquele bem apurado. Na hora que vi até arrepiei, rs.
Tomei o daime, comi um pedaço de maçã e fui até o fiscal, para ser posicionado na corrente.
O meu enteado ficou na primeira fila, de frente para a estrela. Isto é muito importante para ele. Para mim não importa, rs, desde que eu esteja lá.
Os hinos começaram, o trabalho prosseguiu, mas eu não conseguia ficar presente, estava até com sono. Não sentia força na condução do trabalho e eu não estava cantando com vigor.
Com o hinário na mão, cantei até onde consegui. Aí a força começou a chegar.
Já coloquei mais uma blusa.
A força que estava chegando era muito, mas muito forte. Achei que não iria conseguir suportar/comportar esta força. Parecia que eu ia explodir de dentro para fora.
Me firmei e segui adiante.
Senti saindo da minha mente muita coisa. Coisas que não pareciam ser minhas. Liberando muita, mas muita coisa.
A primeira parte do hinário foi executada em 40 minutos, debaixo de uma chuva torrencial.
Aí teve a pausa para concentração (sem hinos) por 40 minutos. Esta parte sem hinos sempre é muito difícil para mim (preciso trabalhar isto), mesmo confiando absolutamente na força.
A força veio com tudo: meu coração disparou, minhas pernas tremiam por dentro, depois não paravam quietas, meu rosto e depois minha cabeça inteira foi adormecendo. Eu sentia o corpo se transfigurando em outro ser, meus braços tinham movimentos próprios. Bem complicado esta parte também, pois eu me torno este ser. Sempre de olhos fechados, as vezes sinto o rosto com formas femininas, olho para as minhas mãos e as vejo finas e angelicais, sinto o esvoaçar de um manto. Ou no caso do Arcanjo Miguel sinto o peso da espada (tenho que realmente fazer força),
Comecei a sentir medo. Um sentimento de não querer estar ali, ficava torcendo as mãos com força.
De novo veio aquela parte minha que disse gritando na minha consciência: “Eu já falei que não quero mais vir aqui!”
Estranhei este fato, pois o trabalho no Caminho Sagrado foi bem tranquilo, maravilhoso, e foi dito que esta parte de mim que tem medo já não existia mais.
Durante uma boa parte do trabalho eu ficava me torcendo todo. Esfregando as mãos com muita força.
Em alguns momentos a força vinha com tudo e eu transfigurava de vez para o ser que estava sendo cantado no hino. Ficava um pouco na força e depois saia.
Foi bem difícil. Neste momento achei mesmo que o daime não era mais para mim. Que eu não estava preparado.
Aí começaram os hinos que faltavam (3 hinos) da primeira parte ( que alívio, rs )
Fiquei me torcendo (pés e mãos) na cadeira.
Aí começaram os hinos de despacho para a segunda dose do daime.
Eu sempre deixo para a força decidir se tomo mais daime ou não. Fiquei olhando para fila, que tinha bem pouca gente e eu não conseguia entender porque.
Em determinado hino “me levantei” para ir tomar o daime, mas o fiscal disse com a mão que ainda não.
Aí que percebi que eram os fiscais que estavam tomando daime ainda.
Segui cantando os hinos de despacho até o fiscal chamar.
Fui para a fila. Ia pedir para colocar só um pouco, mas acabei não falando nada e deixei o irmão do despacho olhar fundo nos meus olhos e me servir o necessário: meio copo.
Comi um pedaço de maçã e fui no banheiro fazer xixi. Peguei um guarda chuva na porta da igreja.
Voltei para o meu lugar e coloquei mais uma blusa.
Começaram então os hinos de defumação.
Fiquei me torcendo todo, mãos e pés. Torcia as mãos com força e não conseguia controlar isto.
De vez em quando ouvia, daquela voz que aparece no ar. Falava sorrindo:”Para que esta resistência toda? Vai quebrar as mãos desse jeito.(sorrindo) “
Aí eu parava um pouco mas começava de novo.
Depois esta voz falava de novo. Eu me acalmava, mas logo ficava do mesmo jeito. E não conseguia controlar isto.
De vez em quando a força vinha com tudo e eu me transfigurava totalmente em um ser divino, mas logo voltava para ficar ali sofrendo.
Esta voz falava ” Olha que vexame você está dando.” E sorria.
Depois da defumação começaram os hinos da segunda parte do trabalho de concentração. Segui neste mesmo esquema: ficava sofrendo, às vezes entrava na força, mas logo saia.
Teve uma hora em que a força veio com tudo e eu enjoei. Achei que ia vomitar e saí lá para fora. Estava uma chuva torrencial ainda.
Não tinha cadeira lá fora e estava chovendo muito. A faixa de telhas que passa da igreja não era suficiente para me manter protegido dos respingos.
Um irmão trouxe uma cadeira. Sentei e achei que ia vomitar mas logo passou.
Estiquei os pés e eles ficaram na chuva que caia do telhado. Molhei os pés de novo!
Vi que ali não ia dar para eu ficar e como já havia passado o enjoo, voltei para a corrente.
Desta vez tive que pedir ajudar do fiscal para saber onde estava, pois não havia mais nenhuma blusa na cadeira, eu já havia vestido todas 
Voltei para a corrente. E continuei sofrendo durante o trabalho inteiro.
Aí começou os hinos do cruzeirinho, que eu adoro. Hinos em pé e eu firmando para continuar em pé. 40 minutos de hinos.
Continuei torcendo as mãos, e não entrei completamente na força em nenhum hino e também não conseguia cantar.
Foi difícil ficar em pé, mas intimamente eu sabia que tinha que ficar em pé.
De vez em quando balançava, mas consegui fazer o cruzeirinho todo em pé.
Começaram então os hinos de encerramento, 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria (um irmão balançou e teve que ser auxiliado pelos outros para não cair ) e o trabalho terminou às 02:30 aproximadamente.Ficamos na igreja ainda até às 04:00, pois eu ainda estava bem na força (e nem tomei o terceiro daime). Nem cumprimentei os irmãos que estavam ao meu lado. 
Fiquei em pé um pouco junto com o meu enteado e os outros irmãos, mas depois me desloquei deles.
Ainda muito na força, olhei pela janela e vi uma grande árvore se transfigurando em seres divinos. Fiquei um pouco naquela presença divina e depois puxei uma cadeira e sentei.
Alguns irmãos da corrente, perguntavam se eu estava bem. Disse que sim, mas que tinha sido um trabalho bem sofrido.
Não entendia porque tinha sofrido tanto assim.
Aí veio aquela voz que quase vejo no ar “Este medo não era seu. Mandei para você uma pequena fração da consciência coletiva do medo para você trabalhá-la. Mandei para você porque sei que você é capaz. Isto não era seu. Você é um mestre”
Fiquei feliz mas meio zangado, pensei Puxa, mas tinha que ser assim? Tão sofrido? Nem aproveitei o trabalho !
Mas depois veio aquele sorriso gostoso no rosto, a calmaria, a sabedoria… Pensei: estou aqui para trabalhar. E nem sempre vou trabalhar as minhas questões. Foi um trabalho de doação este. A Voz estava falando com esta parte que me foi enviada para ser trabalhada e não com o meu eu.
Fiquei bem quieto ali, por bastante tempo. Depois o meu enteado veio ver se estava tudo bem e se eu não queria me juntar ao grupo para conversar. Eu disse que preferia ficar só neste momento.
Aí o irmãozinho que veio com a gente começou a conversar comigo. Falamos bastante sobre o trabalho, falei sobre o processo de despertar. Ele ficou admirado por eu o ter convencido de que ele não existe, rs. Não existe porque ele não se apodera do próprio corpo, não o sente. E porque quem dirige a sua vida é uma energia abstrata e inconsciente chamada ego. O ensinei a respirar e viver no momento presente, onde a mente e o ego não conseguem existir.
Fui pegar o carro e peguei os irmãos na porta da igreja.
Choveu forte durante todo o trabalho. Parecia que quando começavam alguns hinos a chuva desabava mais ainda.
Sempre confio que esta força que me trouxe até aqui vai me levar de volta em total segurança e raramente me preocupo.
Começamos a descer a estrada de terra (uns 2 km) na escuridão total. Meu, choveu tanto, e escorreu tanta água pela estrada, que foram criadas umas valetas que não estavam ali antes. Em determinado ponto até perguntei para o meu enteado se estávamos no caminho certo (mas só tem este caminho, rs)
Fomos bem devagar, no meio da estrada tinha uma pequena árvore caída, que o meu enteado desceu e tirou, para o carro poder passar.
Chegamos na estrada e em determinado ponto da marginal um carro vinha na contramão, com o pisca aceso e dando farol.
Ainda bem que estávamos na pista mais à direita. Até então não havia entendido, mas chegando mais a frente vi porque ele estava voltando. Em um ponto, perto da Lapa, o rio tinha invadido a pista. Fomos até perto de onde os carros tinham parado e vimos que alguns estavam saindo por uma alça que subia uma ponte que ia passar por cima da marginal. Como nestes momentos de caos não há contramão, nem nada disto, fizemos o mesmo e saímos da marginal. Fomos por dentro, pela Lapa, para chegar em casa.
Deixei o meu enteado na casa dele ( nem entrei para tomar café ), e fui para a minha.
Cheguei e agradeci pela proteção, por este carro abençoado que me leva e trás, e a todos os seres divinos.
Entrei, tomei um café expresso comendo um pedaço de chocolate (ah como é bom o café depois de um trabalho com daime).
A esposa acordou para ir ao banheiro e dei-lhe um belo beijo e um gostoso abraço. Conversamos rapidamente e falei para ela voltar a dormir.
Depois tomei um belo banho (ah, como é divino o banho depois de um trabalho com daime).
Iria dormir pouco, pois às 11 eu iria sair de casa para pegar a minha filha na casa dela.
Não consegui dormir direito, e em um determinado momento tive fome e ouvi daquela voz “Aos poucos você não vai mais precisar de comida. Seu corpo precisa de energia, não de comida.”
Aí intuitivamente comecei a respirar conscientemente, mas desta vez, além de ter a consciência da respiração, eu tinha a consciência também do ar no abdome. Depois de umas 10 respirações destas eu não estava mais com fome e consegui dormir um pouco.
Toda vez que eu lembrava, quando respirava conscientemente, também colocava a consciência no abdome e neste dia comi bem menos do que de costume, rs.

Autor: Valdemir Nunes da Silva