Relato 19) - Santo Daime: Terra do Sol - Gira de Erês (12/10/2018)

NOTA: Esta igreja fica em Mairiporã-SP (@terradosolreal), tem seus fundamentos na doutrina do Santo Daime, mas não é filiada ao Cefluris (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra). É uma igreja independente
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Este trabalho estava marcado para o dia 06/10, mas por causa da eleição foi adiado para o dia 12/10.
Fui sozinho. O meu enteado e a esposa foram no Céu de Maria, pois era aniversário de 1 ano do fardamento dele.
O trabalho deles no Céu de Maria foi este:
“12/10, sexta-feira, 12h –FESTEJOS DO DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA E ANIVERSÁRIO DE 25 ANOS DO CÉU DE MARIA.
Hinários: “O Cruzeirinho”, Nova Era” e ”Nova Dimensão” do Padrinho Alfredo, Farda branca.“
São mais de 200 hinos. 12 horas de bailado, com algum intervalo.

Como disse em outros relatos, não consigo ir em bailado, pois quando a força chega eu paro de cantar, depois minhas mãos abaixam-se com o hinário na mão, meu corpo para de bailar, eu começo a entrar em outras dimensões e definitivamente não quero resistir à condução desta força divina.
O trabalho deles no Céu de Maria estava marcado para as 12:00 e o meu às 14:00, sendo assim, daria certinho para eu deixá-los no Céu de Maria, ir fazer o meu trabalho e depois buscá-los no Céu de Maria, pois o trabalho deles demoraria umas 12 horas (200 hinos)
Saímos de casa às 12:30, chegamos no Céu de Maria às 13:00 e já estava tocando o segundo sino.
Enquanto a esposa se trocava, fui comprar os hinários para ela. Eram os últimos.
Ela estava no registro do livro quando desci.
Entreguei-lhe os hinários, dei-lhe um beijo, desejei bom trabalho e disse que depois que o meu trabalho terminasse eu iria direto para o Céu de Maria para buscá-los.
Fiz um contorno apertado na estradinha (estava abarrotado de carros. Com certeza teria muita gente neste trabalho)
Seguindo o google maps, entrei novamente na Anhanguera, sentido Jundiaí. Não sei como, saí na Estrada de Santa Inês ( não gosto muito de ir por lá, muitas pedras naquela estrada de terra).
Passei em uma farmácia e comprei uma chupeta (gira de Erês)
Cheguei por volta de 14:30. O livro estava aberto, mas tinha pouca gente ainda.
Me registrei no livro e fui no banheiro ( que já estava reformado ).
Aumentaram o tamanho da igreja em uns dois metros em volta dela toda e fizeram muitas melhorias também.
O trabalho começou por volta de 15:00, com apenas um músico. O padrinho avisou que seria um trabalho com poucos irmãos, devido ao feriado (mas mesmo assim tinha umas 50 pessoas), e que por conta disto, aproveitássemos.
3 Pai Nosso, 3 Ave Maria, uns 3 belos hinos para Nossa Sra. Aparecida (bailados e que não sei de cor) e foi aberto o despacho do daime. Daime daquele mais clarinho, mas que fica aberto o tempo todo e só fecha um pouco antes do final da gira. Tomei o primeiro daime, copinho cheio.
Aí foram executados mais uns 10 hinos (bailados) do hinário da gira e os músicos deram lugar ao tambor.
Ainda bem, pois a força já começava a chegar.
O padrinho Gê Marques pediu para que afastássemos uma fileira, para dar espaço no meio do salão para a gira.
Ele disse também que a linha dos Erês é uma linha difícil de se trabalhar e que não é qualquer médium que tem acesso a estes encantados ( erês não são crianças que desencarnaram e sim encantados, que nunca tiveram uma vida física. Talvez estejam se preparando para isto.)
E que depois a mesa de doces seria aberta e que todos poderiam se servir.
Neste momento todos ajoelham e se abaixam para encostar a cabeça no chão. O padrinho inicia a gira com ‘Vou abrir minha jurema…’ e mais alguns pontos. Depois todos se levantam e começam os pontos de chamada das falanges.
NOTA: Na gira são cantados pontos para todas as falanges e aquela homenageada tem uma maior quantidade de pontos cantados
Assim que começou a gira precisei sentar, pois a força veio com tudo querendo assumir a minha consciência e o controle do meu corpo (eu fechava os olhos e via centenas de pequenas figuras geométricas coloridas e rosto começava a ficar dormente).
Entrei parcialmente na força, em alguns pontos incorporando o ser divino da falange ou apenas bailando com os pés.
Depois saía da força, sentia as energias dos seres à minha volta mas eu não estava trabalhando.
Depois fiquei me torcendo todo na cadeira, sentindo que a força queria tomar conta da consciência e do corpo mas não conseguia.
Olha, é um sofrimento quando acontece isto...
Ainda na força, fui tomar o segundo daime ( meio copinho ), pois achei que já era hora.
Depois como de costume o padrinho Gê Marques pediu para todos sentarem em esteiras ( eu já estava sentado na cadeira ).
Falou sobre muitas coisas, inclusive sobre o medo ( e eu me torcendo todo na cadeira )
Comecei a entrar na força para valer de novo, perdendo a consciência e o controle do corpo para a força.
Em determinado momento, quando estavam cantando para Nossa Senhora, de olhos fechados vi muitas figuras geométricas concentradas à minha frente e uma voz feminina, doce e terna que falava assim:
“Vocês vivem nos louvando e amando. Agora eu digo a você: Eu o louvo e o amo infinitamente. Venho aqui te dizer isto para que saiba que não há distância entre nós”
Fui envolvido por um amor sem limites, sem julgamento, sem expectativa. Que lindo… Chorei um monte aqui.
A todo o momento eu sentia o medo à flor da pele, aí ouvi de uma voz que se forma no ar:
“Talvez seja a hora de parar”. “Talvez isto não seja para você agora”. “Prometa que não vai mais tomar”
Fiquei triste, pois mesmo com medo eu sabia que o daime era um bom caminho.
Aí minha mente consciente já estava se convencendo de que era uma loucura mesmo eu vir aqui e decidi não tomar o terceiro.Fui tomado por uma sensação de alívio.
Depois estavam cantando para Iemanjá:
Ela apareceu na minha frente, também em formas geométricas concentradas e disse:
“Porque este medo todo? Você acha que queremos o seu corpo? O que de mal pode te acontecer? Você nunca mais voltar para o corpo? Você sabe que isto não é permitido e nem possível.”
Aí eu pensei “Mas vocês me disseram para parar de tomar…”
Ela disse:
“Nós jamais lhe daríamos este conselho…”
Aí tive um daqueles lampejos. A voz que estava dizendo para eu não tomar mais, era do meu medo (ego, eu inferior, sei lá) se disfarçando de um ser divino.
Aí pensei:
O que eu faço então?
Ela disse:
“Você veio aqui para que mesmo?”
Aí fui lá tomar mais um daime.
Assim que sentei na cadeira fui tomado pelo medo. Me arrependi conscientemente de ter tomado mais um.
Mas pensei “Agora já foi. Não dá para desligar”
Quando chegou a chamada para Oxumaré, incorporei esta força, que levantava as mãos no alto e puxava para baixo, como que pegando um pedaço do céu.
Depois trabalhava esta energia com as mãos ( o símbolo de Oxumaré são o arco-iris e uma serpente).
Depois começou a chamada para as crianças.
Assim que começou senti muitas energias perto de mim e comecei a chorar muito. Chorava de soluçar, de me sacudir.
Os encantados falavam assim:
“Não chora tio… Aliás, chora sim, que vamos colher as suas lágrimas”
“Não precisa vir aqui se estiver com medo, tio. Nós vamos até aí, para você ver que não há distância entre nós.”
“Você vai ficar bem, tio. Nós vamos tirar este medo”
“Somos 12 ao seu lado e 200 no salão.”
Depois ouvi de uma outra voz:
“Isto pelo qual você está passando é inédito. Não pare”
Aí levantei os olhos e um dos fiscais estava me dando um doce (bis). Trêmulo, abri o doce e comi.
Imediatamente me senti invadido por estas energias e uma alegria e amor imensos tomou conta de mim.
Um sorriso gostoso tomou conta do meu rosto e meus pés bailavam de um jeito infantil e alegre.
Depois perdi o contato com esta força.
Voltei a chorar.
Depois começaram os pontos para a subida dos caboclos. Era o fim da gira.
Um irmão veio e me perguntou se eu estava bem, que seria bom eu levantar um pouco, bater palmas, se mexer um pouco.
Fiz o que ele orientou e na força ainda, batia palma, dançava.
Ele falou que este era o ponto de chamada dos caboclos e que a gira iria terminar.
A gira termina com todos abaixados, ajoelhados e com a cabeça no chão.
O padrinho canta: “Vou fechar minha jurema…” e algo como “Está fechado o sagrado, sem a chave ninguém abre…”
Nos levantamos e rapidamente os fiscais posicionaram todos para os hinos bailados de encerramento.
Eu já não estava tanto na força, bailei direitinho, mas foram só uns 3 hinos.
O trabalho terminou às 20:00.
Lá pelas 21:00 eu já estava em condições de pegar o carro e ir embora.
Coloquei no gps para ir pela Fernão Dias. Deu certinho, eu iria chegar em SP por volta de 22:15.
Decidi ir direto para casa, pois o trabalho do Céu de Maria iria terminar só lá pelas 01:00.
Mandei zap para o meu enteado e para a esposa dizendo para eles enviarem mensagem quando o trabalho terminasse.
Cheguei em casa às 22:15, tomei um belo banho (como é maravilhoso o banho depois de um trabalho com daime…), comi alguma coisa e fui dormir.
Coloquei o celular para despertar à 01:00, para ir buscá-los mesmo que eles não me mandassem mensagem.
Despertou às 01:00 e fui buscá-los. Quando estava saindo da Anhanguera o meu enteado mandou mensagem dizendo que o trabalho havia terminado.
Quinze minutos depois eu estava no Céu de Maria.
A esposa estava toda lerdinha. Ela fica linda depois do trabalho com daime, rs. Quase dá para ver a luz que ela irradia.
Comemos alguma coisa na cantina e fomos embora. Demos carona até o Extra da Anhanguera para duas amigas da esposa

No outro dia eu sentia que algo ainda iria acontecer.
Passamos o dia sozinhos em casa. Em determinado momento eu senti o rosto adormecendo e sabia que iria incorporar. Tentei abrir um pirulito dos doces que eu havia trazido do trabalho mas não consegui. “Pedi” para a esposa abrir e coloquei o pirulito na boca. Eu disse para a esposa que eu precisava ir no quarto. Entrei e fechei a porta.
A partir dali já não era mais eu. Já incorporado por um encantado da linha dos Erês peguei a chupeta e coloquei na boca.
Ele saiu do quarto com a chupeta na boca e deu um abraço gostoso na esposa.
Aí a esposa falou “está descalço, vai ficar resfriado”
Aí ele desfilou pela cozinha e o quarto, tipo criança quando quer desafiar os pais (lembrei da minha filha aqui, rs).
Depois falou “Tchau” e entrou no quarto de novo. Depois saiu.
Aí ele sentou na cadeira e ficou passando o pirulito na chupeta, depois colocava a chupeta na boca.
A mãe da esposa estava cantando na casa dela, aí ele falou:
“Tem mais paciência com ela”. Disse mais algumas coisas neste sentido, mas não lembro.
Aí ele trucidou o pirulito com os dentes. A esposa ficou até assustada, rs.
Aí a esposa levantou e falou algumas coisas, depois falou “Tenho tanta saudade do meu pai”
Aí ele levantou, a abraçou e falou no ouvido dela:
“Ele está muito bem e tem muito orgulho de você”
Aí senti um negócio estranho e sentei, achei que iria incorporar outro ser, mas não aconteceu.
Aí ele falou: “A gente pegou o tio (o pai da esposa) pelas mãos e ia trazendo para cá, para ele ver a filha dele, mas o Pai não deixou”
Ele (o Pai) falou: “ Ei, aonde vocês pensam que vão com ele. Não pode não”
Ele encostou na parede, chupando a chupeta e disse:
“Que chato. Não posso fazer nada. Que chatice”
Aí ele foi embora.
Só gratidão ao Universo pela oportunidade de trilhar estes caminhos, pela minha coragem e pelo amor e proteção do meu Eu Divino em me conduzir.
Hoje, 16/10/2018 (4 dias após o daime) pensei: que medo é este? Medo do que? O que pode me acontecer? Estou simplesmente sentado em uma cadeira. Qual a possibilidade de eu me machucar?
Mas a mente... A mente tem basicamente duas funções principais:

1) Proteger o corpo físico a todo o custo, de tudo e de todos. Não vejo risco para o corpo físico aqui. Estou sentado em uma cadeira!

2) Proteger o ego e as suas emoções. E é aqui que o medo se manifesta. O ego não quer perder o controle. Ele tem medo do desconhecido e fica o tempo todo falando “Está doido? Assim nós vamos morrer.”. Quem é este ‘nós’? Se o corpo está seguro?

Autor: Valdemir Nunes da Silva