Relato 17) - Santo Daime: Terra do Sol - Gira de Oxumaré (19/08/2018)
NOTA: Esta igreja fica em Mairiporã-SP (@terradosolreal), tem seus fundamentos na doutrina do Santo Daime, mas não é filiada ao Cefluris (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra). É uma igreja independente
Fui só desta vez. O meu enteado foi passar o fim de semana com amigos e a esposa foi no baile de fralda de uma amiga nossa, na academia onde fazemos aula de dança de salão.
Eu queria ter ido no baile, mas segui meu coração e fui.
Senti muita falta dela lá comigo. Já fui só no Caminho Sagrado e lá fico de boa sem ela, mas no aqui ela faz muita falta. Ao final do trabalho, na força, eu não lembrava que ela não tinha ido. Fiquei procurando ela na ala feminina, para comemorarmos o trabalho, aí lembrei que ela não tinha ido. Aí deu uma tristeza… Chorei baixinho.
Depois ela disse que também achou estranho ir só no baile, quase foi embora, mas como as amigas estavam lá decidiu ficar.
Mas acho importante seguir o nosso coração em tudo. O meu queria ir no trabalho. O dela no baile, rs.
O trabalho estava marcado para começar ao meio-dia. Tive que ir na feira ainda, ir na casa do meu enteado para alimentar o gato, pegar dinheiro, abastecer…
Enfim, quando cheguei na marginal já era meio-dia. Segundo o maps, iria chegar em Mairiporã às 13:15. Tudo bem que o trabalho nunca começa na hora…
Fui pela Fernão Dias direitinho, mas quando peguei aquela estrada de terra, o maps me mandou entrar em uma ruazinha que saia em um sítio. Voltei para a estrada.
O maps ficou doido e larguei dele. Voltei para trás na estrada de terra. Cheguei na Cachoeira da Cacéia e lembrei que paramos lá na primeira vez. Então eu tinha que voltar e passar daquela estrada do sítio.
Logo mais a frente vi a entrada do condomínio e fui subindo, aí o maps voltou a funcionar direito.
Cheguei, ufa.
Eles estão fazendo um monte de melhorias lá. Uma delas foi concretar duas faixas na estradinha até lá embaixo. Ficou ótimo para descer com o carro até perto da igreja. Fizeram umas três baias para estacionamento. Deixei na primeira mesmo.
O trabalho já havia começado. Fui direto para o livro. A contribuição foi de 65 reais.
Fui no banheiro. Eles estão reformando o banheiro masculino também. Fizeram um banheiro improvisado longe, mais na mata. Só buraco no chão mesmo.
Deixei minha mochila ali fora ( desta vez não esqueci nada, rs). E deixei a água dentro da mochila, rs.
Estava tocando um hino que eu não conheço. Entrei na igreja e fui tomar o daime. Aquele mais clarinho, mas na gira o despacho do daime fica aberto o tempo todo. Comi um pedaço de maçã que tinha no bolso e fui até o fiscal, para ser posicionado no bailado. O padrinho leu a prece kardecista dos médiuns (O trabalho havia acabado de começar, que bom).
Foram tocados uns 10 hinos do hinário da Gira, inclusive “Fui firmar meu ponto, no Céu do Mapiá…”
Depois nos afastamos duas fileiras, saindo do quadrado do bailado para dar mais espaço para a gira.
Depois da abertura da gira (todos se ajoelham e batem cabeça (abaixar a cabeça no chão)), como a força já estava chegando, fui lá fora pegar uma cadeira e sentei.
Aos poucos fui me entregando e sentindo a chegada dos seres divinos que iriam trabalhar comigo.
Chegaram devagar, sem tomar totalmente a minha consciência. Senti o rosto adormecendo, um pouco de enjoo, e logo comecei a trabalhar.
Trabalhei um pouco, com a consciência ( corpo e mente) parcialmente entregue aos seres divinos que se alternavam conforme eram chamados pelos hinos/pontos de chamada.
Estava morrendo de sede, claro, mas optei por deixar a água lá fora, para o ego não ficar com pretexto de tomar água a todo momento.
Meus pés bailavam alegremente ao som dos tambores, enquanto minhas mãos faziam gestos de poder, transmutando as energias dos irmãos e as minhas.
Estava fazendo o meu trabalho.
Não demorou muito (talvez uma hora ) e percebi que não estava mais na força. Estava sentindo bastante a presença do ego. Apenas os pés ainda bailavam. Forcei a para-los para ver se não era eu que estava bailando, mas os pés recomeçaram a bailar
Os pontos chamavam Oxossi, mas aos poucos deixei de sentir a força que vinha dele. Apenas os pés bailavam.
Achei que tinha passado mais tempo que o que eu tinha percebido e que o efeito do daime estava passando. Esperei mais um pouco, aguardando o sinal para tomar o daime. Aí lembrei que na gira o despacho do daime é aberto. Fui tomar mais um daime. Copo quase cheio.
Demorou bastante até que senti a força chegando de novo, bem de leve. Fui no banheiro e percebi que a força não chegava. A esta altura era para eu estar totalmente entregue a ela.
Eu não estava entendendo.
Andei um pouco fora da igreja. Voltei quando o padrinho fez uma pausa na gira para falar sobre mediunidade. Sempre sábio este padrinho.
Como não tinha como chegar na cadeira, pois estavam todos sentados, sentei no chão, perto da porta.
O padrinho falando e aí eu comecei a sentir a força chegando. De olhos abertos vi o chão começar a se mexer. Senti que iria sair do corpo ou que iria receber um ser divino. Sempre que força chega com tudo e não tem música é complicado para mim. Quando tem música, sou conduzido e sei para onde e com quem estou indo, mas sem música, rs, ainda fico apreensivo. Embora saiba que este ser divino, que é o daime, sabe para onde me levar. Mas isto é coisa que eu tenho que aprender e trabalhar…. Relaxei, fechei os olhos e deixei vir o ser divino, que como não tinha música para conduzir ficou ouvindo e afirmando para mim o que o padrinho dizia.
Depois que o padrinho terminou de falar, todos se levantaram para a gira recomeçar. Tive que ir lá fora pegar outra cadeira ( fiz isto 3 vezes)
Sentei em um canto e a gira recomeçou. Cantando para Oxumaré, que seria o homenageado da gira.
Senti a sua energia. Era uma energia jovem, tempestuosa, talvez meio rebelde. Seu símbolo é o arco-irìs. Minhas mãos se ergueram bem alto quando os hinos citavam o arco-íris. Ou as mãos desenhavam um arco em frente ao meu rosto.
Mesmo assim eu não sentia que ele (Oxumaré) estava totalmente consciente através de mim.
Em determinado momento senti que ele iria vir com tudo, tomar totalmente a minha consciência, tipo como ocorre com São Miguel.
Mas ele não vinha. Perguntei porque ele não vinha, já que eu (qual eu? O Eu Superior, o Eu do ego, o Eu criança, o Eu mascarado, o Eu observador?) havia dado permissão.
Senti no meu coração que alguma parte de mim não aprovava a umbanda. Discordei veementemente, pois sempre senti no coração gratidão pelos seres divinos de Aruanda.
Umas 3 vezes eu falei para ele vir, pois “eu” havia dado permissão.
Atualmente tenho vivido com a consciência no coração, procuro seguir a vontade do espírito a cada respiração, a cada batida do coração. Consciente, com a mente do ego absolutamente quieta.
Senti que o que estava acontecendo é que esta parte de mim ( a mente do ego ) não queria dar permissão para que Oxumaré viesse em sua totalidade. Ele disse que não poderia vir nestas condições.
Insisti para que ele viesse, pois “eu” estava dando permissão. Ele então ficou quieto, somente me transmitindo a sua energia, pois meus pés não paravam de bailar.
Achei que a força já estava se dissipando ( a mente do ego retomando o controle) e fui tomar mais um daime ( o terceiro ). Pedi somente um pouco e o fiscal colocou bem pouco. Pedi um pouco mais. Meio copo.
Mas mesmo assim não consegui entrar totalmente na força de Oxumaré.
Terminou a chamada para Oxumaré e começaram outras linhas. Fiz o meu trabalho, mas não totalmente entregue à força.
Em algum momento ouvi a mente do ego dizendo (não em pensamento, mas falando mesmo. Aquela voz na minha cabeça): “Vocês são todos loucos. Um perigo vir até aqui. Arriscar estragar o carro. E como você vai voltar desse jeito?”.
Quando o padrinho anunciou o fechamento da gira eu estava bem na força ainda. O gesto de abaixar-se no chão e bater cabeça dissipou um pouco a força.
Fiquei preocupado se conseguiria bailar.
Os fiscais começaram a nos posicionar para o bailado.
Depois de muita troca de lugares e da intervenção do padrinho, o bailado com os últimos hinos começou.
Consegui bailar direitinho, ainda na força. Foi lindo demais.
O trabalho terminou às 20:00.
Eu tive que esperar quase uma hora antes de sair, pois ainda estava bastante tonto.
Fiquei conversando com uma amiga e dividi o lanche com ela.
Quando cheguei no carro a mente do ego veio com tudo. “Que loucura. Olha esta escuridão”.
Não lhe dei atenção. Olhei no celular as mensagens da esposa. Ela iria ficar no baile até às 22:00 e disse que iria me esperar.
Coloquei no maps e fui. Só quando chegou em uma ponte foi que vi que o caminho que o maps escolheu foi pela Estrada de Santa Inês ( eu queria ter vindo pela Fernão Dias). Vim pela Sta Inês mesmo.
Cheguei lá na porta da escola às 22:20.