Relato 16) - Ayahuasca: Caminho Sagrado - Trabalho com a egrégora africana (28/07/2018)

IMPORTANTE: Este local é um espaço de vivência com ayahuasca e não tem nada a ver com a doutrina do Santo Daime.
Por isto neste relato vou respeitar este contexto, mas vou continuar a usar o termo igreja, para definir o espaço interno onde o trabalho ocorre.

Fui de carro, sozinho. A esposa prefere trabalho bailado e o meu enteado foi no Céu de Maria para fazer outro trabalho
Mesmo de carro demorei uma hora e meia para chegar ( de metrô/trem/ônibus são 3 horas). Antes passei na padaria para comprar algo para o lanche comunitário.
Cheguei às 22:00 em ponto. O registro na mesa ainda não estava aberto e havia pouca gente. Fui fazer xixi e depois arrumar o meu lugar dentro da igreja ( na doutrina do Santo Daime não pode fazer isto. Lá o fiscal é quem determina o lugar de cada um na corrente, depois do primeiro daime). Peguei uma cadeira encostada na parede, assim poderia encostar a cabeça quando quisesse.
Desta vez esqueci de levar luvas, de colocar a meia calça de lã por baixo da calça jeans…Não levei club social e suco de caixinha… ( Vou fazer um check-list antes de sair).
A esposa havia dado a idéia de levar o saco de dormir, ao invés de pegar cobertores de lá. Arrumei o saco de dormir na cadeira e fiquei lá sentado, depois dei uma volta lá fora, esperando o registro começar.
Estava dentro da igreja quando houve o aviso de que a mesa estava aberta para registro. A contribuição foi de 50 reais.
Por volta de 23:00 o padrinho Mário iniciou a palestra introdutória.
Terminada a palestra, canções baseadas na cultura africana (repletas de alegria e misticismo) começaram a ser tocadas. Som meio alto, mas logo se acostuma.
A esta altura a igreja já estava cheia (umas 80 pessoas), com apenas alguns assentos vazios na ala masculina.
Formamos então a fila para tomar a ayahuasca: copinho de alumínio cheio, ayahuasca de grau 5 e um pedaço de maçã. O copinho fica com a pessoa até o final da cerimônia.
Tomei a ayahuasca e voltei para o meu lugar.

Comecei a sentir frio nas pernas (sem a meia calça de lã por baixo…). Fui me arrumar no saco de dormir mas vi que isto não seria viável, pois quando a força chegasse eu não teria coordenação para fechar zíper, me arrumar. E a preocupação mental atrapalha demais o trabalho. E como o meu trabalho geralmente é de incorporação, preciso ficar livre, pois os pés bailam, as mãos e o corpo se mexem, mas sempre fico sentado. Deixei então o saco de dormir aberto em cima da cadeira.
Como já estava começando a sentir a força, pedi para o fiscal (que lá chamam de guardião) um cobertor. Tentei usar o que ele me deu, mas ele era grosso, parecia mais um tapete, rs. Depois de um tempo levei este lá e peguei outros dois menores e uma almofada. Me virei com o que tinha, pois os melhores cobertores já tinham ido (vou comprar um só para este fim). Coloquei a almofada sobre a cadeira ( ótimo isto, pois são 6 horas sentado) e arrumei os cobertores.
Uns 40 minutos depois senti a força chegando: fui perdendo a consciência e a sensibilidade do corpo.
Fechei os olhos ( sempre fico de olhos fechados)
Durante a hora seguinte eu ainda não havia entrado totalmente na força. Engraçado isto, rs. Quando a força chega de forma avassaladora que até me enjoa eu reclamo e peço calma. Quando ela vem amena também reclamo, rs.
Não sei precisar quanto tempo depois tocou o sino para o segunda  dose de ayahuasca. O padrinho disse também que estava acesa a fogueira lá fora e quem quisesse poderia continuar o trabalho lá (mas a grande maioria fica dentro do barracão).
Levantei devagar, meio tonto e fui para fila. Pedi o copinho cheio.
Fui no banheiro fazer xixi e comi todos os pedaços de maçã que eu havia levado, pois estava com fome. (preciso fazer o check list).
Quando passei pela fogueira pensei em ficar lá, mas logo fui conduzido pela força para ficar dentro da igreja.
Entrei na igreja e me arrumei com os cobertores.
Após esta segunda dose a força veio com tudo. Senti muito calor, tirei a blusa azul de zíper e fiquei com a branca.
Já influenciado pela  consciência de um ser divino, “afastei” gentilmente os cobertores e “coloquei” a blusa e os cobertores na cadeira da frente, que já estava vazia.
NOTA: Daqui para frente vou relatar do ponto de vista do ser divino que tomou a minha consciência e o meu corpo naquele momento.
Senti um pouco de enjoo pelo fato de estar transitando entre outras dimensões/vibrações, e aos poucos fui cedendo parte da minha consciência para um ser divino alegre que fazia meus pés e minhas mãos bailarem alegremente ao ritmo da música ( quando isto ocorre eu perco totalmente a sensibilidade e o controle sobre o corpo)

Envolto em luzes e cores a expressão do meu rosto mudava, minhas mandíbulas se fechavam com força, minhas mãos faziam gestos de poder, e cada vez que eu pegava uma energia (energia aqui no sentido de um sentimento/emoção/perdão a ser transmutado) com a mão esquerda um irmão começava a fazer a sua limpeza. Este ser segurava a energia com a mão esquerda e com a direita fazia movimentos mágicos, assoprava a mão esquerda fechada e depois de trabalhada esta energia, abria a mão esquerda e assoprava nela de leve para todos os lados.
Cada música trazia uma consciência ( um ser divino ) diferente, como se fosse um convite, chamando-o para trabalhar através de mim e cada gesto mágico que estes seres divinos faziam impactava diretamente no trabalho de alguns irmãos, levando-os a fazerem a sua limpeza.
Em um momento a minha consciência estava tão entrelaçada com a do  ser divino,  que percebi a mim mesmo como este ser, com largas roupas coloridas, chapéus, vi cores, luzes e figuras geométricas que jamais imaginei existirem.
Eu estava com sede e tentei tomar água, mas estas consciências divinas não deixaram ( lembrando que no trabalho de concentração do Céu de Maria eu tomei a garrafa de 500 ml inteira, a todo momento, atrapalhando o trabalho). Eles pediram desculpas e disseram que eu não poderia tomar água pois se começasse não iria mais parar e o trabalho não iria evoluir.
Mesmo assim foi me dada a escolha de fazer valer a soberania da minha consciência e tomar água. Conscientemente escolhi não tomar e não tive mais tanta sede.
Vieram também seres femininos, lindas, alegres, fazendo o seu trabalho.
Em dado momento senti a chegada de um ser com uma energia muito forte, que me fez enjoar pra valer. Pediram para que eu me preparasse, pois um trabalho especial teria que ser feito.
Pediram permissão para vir. Consenti. Enjoei muito mas consegui ficar. De olhos fechados o vi descer, dançando no ar, com roupas coloridas e chapéu. Quando ele chegou em mim, enjoei mais ainda.
Perguntei se era tipo um exú e ele disse rindo “Parecido com este”. Quando ele começou a fazer gestos mágicos com as minhas mãos e bailando com os pés a limpeza foi forte em alguns irmãos.
Depois que ele se foi começou outra música e eu estava morrendo de sede. Aí ouvi no ar uma voz feminina ” Seu corpo não precisa de água agora. Sua mente está aterrorizada e quer tirar você do trabalho. Resista por favor e me deixe fazer o meu trabalho. Precisamos ajudar algumas pessoas aqui”
Conscientemente dei permissão e ela fez o seu trabalho, com movimentos mágicos com as mãos e com os pés.

Aí, MEU DEUS,  aconteceu uma coisa sublime, mágica, amorosa. Posso escrever aqui milhares de palavras que tentem explicar este momento, mas é impossível. Não temos vocabulário para o AMOR, a ACEITAÇÃO, a COMPREENSÃO que me envolveu.
Depois que este último ser se foi, a minha consciência foi transportada para algum outro lugar. Vi meu corpo em formato humano, mas sem definições, em meio a uma profusão de luzes e cores. E o AMOR tomou minha consciência em todas as partes do meu ser, de uma forma totalmente diferente da tomada completa da consciência que senti antes. Perdi totalmente a noção de tempo e espaço. Meu corpo ( que corpo? ) não existia mais. Era só luz.
Ouvi um burburinho seguido de  “Tem um humano aqui !”. E depois ” Um humano, aqui? Isto não é possível ! Ele está consciente?”. E depois “Sim!”. Aí ouvi mais burburinho e estas luzes se aproximaram.
Uma chegou na minha frente e disse “Filho, você tem idéia do que você conseguiu fazer? Não pare, por favor. Nós estamos aqui em amor e luz acompanhando cada passo seu”.
Aí voltei e senti meu corpo novamente. Mas logo fui tomado por outra consciência que começou a trabalhar pelos irmãos.
Em dado momento pensei se o meu Eu Superior poderia falar comigo. Disseram que não, que ele não poderia se manifestar aqui, mas que ficava maravilhado ( não sei se foi esta a palavra ) cada vez que eu chegava em um trabalho como este.
Depois foi bem engraçado, rs. Um ser divino estava trabalhando e percebi que ele estava compartilhando a sua consciência com esta parte da minha mente que tem sede ( a aterrorizada, rs), por isso voltei a sentir os braços, mãos e pés.  Esta consciência virou e disse espantada “O que você está fazendo aqui?”. Não houve resposta e esta consciência disse “Está bem, fique, mas não atrapalhe”. E ela continuou trabalhando através de mim, dissipando energias com movimentos mágicos. Depois disse “Desculpe, mas agora você não pode ficar”. E enjoei para valer, sendo tomado totalmente por esta consciência e perdi novamente a sensibilidade sobre o corpo.
Em algum momento uma consciência aproximou as minhas mãos do meu rosto, fechou os dedos indicador e polegar da mão esquerda e disse “Você sabe quem é este?” Na hora percebi que ela estava segurando uma pequena forma humana, que logo soube ser eu.
E com a mão direita “E esta, você sabe quem é?” Soube na consciência que era a esposa  
Então ela juntou os dedos das duas mãos, entrelaçando-os e disse “Adoramos observar vocês dois”. “Estão sempre celebrando a vida. Parabéns. Estamos sempre com vocês”.

Depois o padrinho Mário anunciou a abertura para o uso de outra medicina: o rapé. Já usei rapé com o meu enteado, mas não gosto. Não consigo respirar direito e isto me apavora, por isto não uso mais. O rapé é um pó feito da casca de árvores sagradas, soprado nas narinas com o tipi, que é tipo um canudo. Antes do sopro você tem que tapar o buraco do nariz do céu da boca com a língua para o rapé não descer direto pela garganta.
Formou-se a fila para o rapé e muita gente foi. Logo começou mais limpeza dos irmãos.
Depois houve a chamada para a terceira e última dose da ayahuasca. Fui instruído por estas consciências de que eu não precisava ir, pois já havia trabalhado bastante.
Ouvi então, de uma voz que aparece no ar: “Veja, todos estes irmãos que estão aqui e em outras reuniões semelhantes estão completamente interessados na ascensão consciente, em conhecer a Verdade. Tudo o que você tem lido nas canalizações de outros irmãos é verdade: O planeta é um ser consciente e aceitou participar do jogo da separação junto com toda a humanidade. O planeta e toda a humanidade vai ascender. As almas que escolherem não ascender vão deixar o planeta e não há julgamento nisto. Terão outras oportunidades. “
Pedi então pelos irmãos que sofrem na África, e consciência aos governantes daquele país.
Aos poucos fui sentindo o retorno da minha consciência. Algumas pessoas bailavam. Aí ouvi na consciência  “Ô filho… Acabou de sair de um trabalho grandioso e já está julgando o jeito que os irmãos bailam?” Fiquei com vergonha dos meus pensamentos e adotei a prática que tenho utilizado conscientemente desde o primeiro até o último momento em que estou acordado: Chamo de Observação Consciente, que consiste basicamente em observar (como se fosse um observador externo)  o que estou pensando, fazendo, as coisas e pessoas ao meu redor, as possíveis interações com o mundo extra-físico.

Comecei a sentir frio novamente, coloquei a blusa azul de zíper e peguei os cobertores e aí sabia que não iria mais  trabalhar. Fiquei ouvindo as músicas e sentindo o restinho da força me envolvendo.
Depois de um tempo o padrinho pediu para os guardiões chamarem os irmãos que estavam lá fora ao redor da fogueira, e que tinham condições de vir para a igreja, pois o trabalho iria terminar.
O padrinho fez uma palestra de mais de meia hora e depois deu permissão para quem quiser, falar algo.
Depois disse que estava encerrado e trabalho e que estava servido o lanche comunitário com os alimentos que havíamos trazido.
Me levantei, dobrei os cobertores e coloquei na prateleira, levei o copinho de metal até a mesa, dobrei o saco de dormir e fui levar estas coisas para o carro. Quando saí lá fora já estava dia e tudo estava se mexendo, inclusive o chão. Sentei um pouco lá fora e esperei essa sensação passar. Levei as coisas para o carro e fui comer algo, pois estava morrendo de fome.
Era então 6 horas. Eu ainda não tinha condições de pegar o carro, pois ainda estava tonto. Fiquei lá até as 7 horas, perto do restinho da fogueira, depois fui embora. Cheguei em casa às 08:30.
A esposa já estava acordada. Dei-lhe um abraço e um beijo amoroso de agradecimento, conversamos um pouco, tomei um café, depois tomei banho e dormi.
A esposa foi almoçar com o irmão e a mãe e depois iria no café da tarde na casa de uma tia.

Aí aconteceu uma doideira, kkkk.
Consegui dormir e em determinado momento acordei. Não me mexi e nem abri os olhos, sabia que estava acordado mas continuava sonhando. Não sei se estava no corpo. Ouvi na consciência “ Você está lúcido na dimensão onde acontecem os sonhos”.
Então conscientemente eu falei no sonho: “Ah é? Então quero pegar a minha cabeça e jogar rolando no chão como se fosse uma bola de boliche”.
Me vi fazendo isso no sonho e quando acordei de verdade mesmo, estava com a mão direita levantada, o cotovelo dobrado e a mão segurando o alto da minha cabeça como se pega uma bola de boliche, kkkk.
Só gratidão ao Pai Eterno, ao meu Eu Superior que me conduziu para conhecer esta medicina e através dela a Verdade, aos seres divinos que trabalharam comigo, a todos os meus irmãos, ao padrinho Mário, que nos brinda com suas palavras de amor e sabedoria.
Viva a medicina da floresta! Vivaaa.

Abaixo uma das músicas executadas durante o trabalho:
https://youtu.be/XNxENrh90QA
 
Salomão quando era jovem viu o povo
como herança que seu pai Davi deixou
e sabendo que não tinha experiência
implorou e humildemente disse a Deus
Deus me dê sabedoria, pra governar
Deus me dê sabedoria, pra comandar
Deus me dê sabedoria, para julgar
Deus me dê sabedoria, para guiar
Deus me dê, Deus me dê sabedoria
Nesse mundo tão disperso, tão difícil
É preciso encontrar o equilíbrio
Pra que a vida continue a comungar
Força e beleza, humildemente eu peço a Deus
Deus me dê sabedoria, para criar
Deus me dê sabedoria, para cuidar
Deus me dê sabedoria, pra melhorar
Deus me dê sabedoria, para salvar
Deus me dê, Deus me dê sabedoria
Muita raiva, muita pena, muito medo
pouca estima, poucos sonhos e desejos
equilíbrio é poder iluminar
os sentimentos no farol da luz maior
Deus me dê sabedoria para enxergar
Deus me dê sabedoria, para aceitar
Deus me dê sabedoria, para brilhar
Deus me dê sabedoria, irradiar
Deus me dê, Deus me dê sabedoria
Tudo corre, corre o tempo contra o tempo
Pouco a pouco vai minguando o sentimento
de repente o milagre de um instante
me visita, e nessa hora eu peço a deus
Deus me dê sabedoria, para parar
Deus me dê sabedoria, pra despertar
Deus me dê sabedoria, pra contemplar
Deus me dê sabedoria, saborear
Sabor, saber, Deus me dê sabedoria (Bis) 
Deus Me Dê Sabedoria

 

Grupo Opa – Oração Pela Arte
Essa linda canção do Padre Irala SJ e padre Roberto M Ribeiro SJ, ambos do OPA – Oração Pela Arte, está no CD ProVocação.
Outras canções muito bonitas se encontram nele e aproveite para visitar  opa.art.br