Relato 15) - Santo Daime: Céu de Maria - Trabalho de Concentração (15/06/2018)
O início do trabalho estava marcado para 20 horas.
Fui com bastante blusas, sendo que a azul de capuz ficaria em cima da blusa branca, meia calça de lã por baixo da calça jeans e luvas.
Chegamos na igreja por volta das 20:30 e fomos para o livro. O trabalho começou por volta de 21 horas.
Gosto de ver quantas pessoas estão indo pela primeira vez: Desta vez umas cinco pessoas.
Fomos para a igreja e nos sentamos. Após 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria (em pé) o trabalho começou.
Inicialmente não tinha muita gente (fardados ou não) e nem todas as puxadoras estavam presentes. O trabalho começou com apenas dois músicos.
Achei que o trabalho não atingiria o ápice
Formou-se a fila para tomar o primeiro daime. Daime de grau 5 provavelmente. Tomei o sacramento e comi dois pedaços de maçã que tinha no bolso em um saquinho plástico ( a maçã é perfeita para tirar o gosto do daime da boca e acalmá-lo no estômago).
Sentei na cadeira e começaram os hinos de concentração.
Eu havia deixado o hinário com a esposa e acompanhei os hinos no celular até onde consegui: fui cantando cada vez mais baixo até que a voz não saia mais. Aí guardei o celular e me preparei para a força.
Em determinado momento o padrinho disse que trabalho de concentração também é de cura.
Fui sentindo a perda de sensibilidade e da consciência e a chegada de uma outra consciência: quem chegou foi Seu Tranca Ruas transfigurando meu rosto disse “Você sabe quem está aqui, não é?”. E foi embora.
Continuou o trabalho, alguns irmãos fazendo limpeza lá fora e em determinado momento foi feita a pausa (na concentração é feita uma pausa de 40 minutos aproximadamente, para introspecção).
Nesta hora, sem hinos, enjoei para valer, e achei que era hora de eu fazer limpeza, mas ouvi “não há limpeza para você fazer”. Talvez tenha enjoado porque sem hinos eu não sabia quem iria chegar ( tenho que trabalhar isto. Confio neste poder ).
Recomeçaram os hinos e antes de iniciar a defumação o ser divino que estava em mim tentava tirar a blusa azul, para ficar com a branca por cima. Foi difícil tirar, mas juntos conseguimos.
Abriu o despacho do segundo daime. Eu ainda estava atuado por outra força. Me levantei para ir para a fila do daime mas o fiscal disse que iria chamar por fila. Pedi para ele me avisar e voltei a sentar.
Quando chegou a vez da minha fila eu fui tomar o daime, ainda atuado por outra força. Voltei para o meu lugar e comi um pedaço de maçã.
Começou a defumação e fui tomado pelas forças da Jurema, Iemanjá, fazendo o trabalho. Depois mais alguns hinos para a rainha Iemanjá.
Foi então que eu abri os olhos e vi que a igreja estava lotada, todas as puxadoras estavam lá, havia mais músicos e agora também um toque do tambor nos hinos. O tambor tem muito poder na força dos hinos. O trabalho chegava ao ápice.
Ao longe eu ouvia um irmão gritando com todas as suas forças, e foi feita outra defumação.
A mente ainda atrapalha muito, a todo momento eu bebia um pouco de água (tomei a garrafa toda,de 500 ml). Em um destes momentos o ser que estava em mim fechou a garrafa que eu havia aberto e disse “Chega! Olha o trabalho. Vamos trabalhar”. No final minha mente repetia constantemente: “Calma, falta pouco para terminar, rs.”
Em alguns momentos minhas pernas cruzavam por trás e ele gentilmente as descruzava com as mãos.
Depois foi anunciado o último despacho do daime ( eu não fui ) e que seriam executados os últimos hinos do mestre Irineu ( O cruzeirinho: hinos de muito poder) e que quem conseguisse ficasse em pé. Fiquei em pé durante a execução destes hinos (uns 40 minutos)
Senti o amor me envolver completamente durante a execução destes hinos. Neste momento tive uma conversa gostosa com um ser divino que dizia “Viu, você sobreviveu, rs”. Ri muito com ele. Ser de muita alegria e amor. Eu perguntei “para onde foi parar tanta água?”. Ele riu.
O trabalho terminou por volta das 02:30, aí destampou a urina, rs. Fui no banheiro e fiz um xixizão. Ficamos um pouco ainda na igreja e chegamos em casa às 04:00.
Passei o dia todo muito sensível. Depois que a esposa acordou, em algum momento nos abraçamos na cozinha e tive um encontro de alma com ela, como aqueles que aconteceram no trabalho da prainha.
Estávamos falando sobre algumas dificuldades do dia a dia, como ser a luz na escuridão. Aí eu ia falar que quando Jesus estava na cruz ele disse “Perdoa-os Pai, pois não sabem o que fazem”. Mas não consegui dizer. Só depois de chorar muito é que consegui.