Relato 13) - Santo Daime: Terra do Sol - Gira de Ogum - (22/04/2018)
 

NOTA: Esta igreja fica em Mairiporã-SP (@terradosolreal), tem seus fundamentos na doutrina do Santo Daime, mas não é filiada ao Cefluris (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra). É uma igreja independente


Fomos somente eu e a esposa, pois o meu enteado havia ficado duas semanas no feitio do Céu de Maria e nas palavras dele, internado no daime, rs.
Não consegui comer quase nada no café da manhã.
Para variar não conseguimos sair no horário que eu queria (11:00), já que o trabalho iria começar às 12:00.
Saímos de casa por volta de 11:30 e ainda passamos no mercado. Fomos pela Av. Santa Inês.
Quando chegamos, por volta das 13:00 estavam sendo rezados os 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria. Fomos para o livro, contribuímos (65 reais), fomos ao banheiro, colocamos as nossas mochilas lá fora, entramos na igreja e fomos direto para a fila tomar daime.
Daime daquele clarinho, mais fraco, pois na gira o daime fica aberto o tempo todo. Tomei o daime (copinho cheio) e comi alguns pedaços de maçã.
Os músicos se posicionaram e começaram os hinos. Uns 10 hinos, bailado.
Depois os instrumentos deram lugar aos tambores e todos afastaram-se do centro do salão.
Todos bateram cabeça ( abaixar-se de joelhos, colocando a cabeça próxima ao chão)
Começou então a gira, com as chamadas para as falanges que iriam trabalhar nela.
Em algum momento, quando comecei a sentir a consciência expandindo, peguei uma cadeira para sentar pois meu trabalho com daime é sempre de olhos fechados.
Quando começou a tocar para Ogum este veio poderoso, fazendo o seu trabalho.
Com os dedos desenhava no ar desenhos geométricos complicados.
Em determinado momento minha mente começou a atrapalhar muito, a ponto de as forças se afastarem.
Em um momento era o sol (eu estava sentado dentro da igreja, mas as paredes são abertas).
Em outro momento era sono, sede, fome (eu não havia comido nada de manhã).
Meu ego observando o que as minhas mãos faziam, atrapalhando, analisando.
Meu ego querendo acabar logo com aquilo, tipo “já está bom, já fizemos o bastante, vamos para casa”. A mente não via a hora de aquilo acabar.

 

Em algum intervalo o padrinho falou com propriedade sobre o despertar e disse que iríamos encerrar a gira na força de Seu Tranca Ruas e que nos preparássemos para receber esta força.
Logo que começou a chamada para Seu Tranca Ruas senti a sua energia.
Ele disse algo como “Você está com medo né? Não somos o que você vê nas imagens em casas santas. Somos a mesma fonte de amor que você experienciou antes (quando estávamos cantando para Yemanjá)”.
Ainda assim algo me fazia resistir a esta força.
Então me permiti sentir a sua força e senti que emanava para mim o mesmo sentimento de amor e luz.
Ele chegou com força, rangendo os dentes, olhando o trabalho. Senti em mim um poder gigantesco. Ele é um ser divino muito poderoso.
Depois começaram a cantar para as pombogiras.
Também resisti a esta energia. Senti que a Maria Padilha estava ali. Pensei nela incorporada na ex-esposa (como ocorria quando íamos na umbanda), mas não a a visualizei incorporada nela.
Assim que senti a sua energia começei a chorar e soluçar, pedindo para que a Padilha cuidasse e protegesse a ex-esposa.
Fiquei durante todo o tempo dos pontos de pombogira em posição ereta, com as mãos juntas em oração.
Batemos cabeça novamente no fim da gira e voltaram os músicos para o encerramento do trabalho, com mais uns 10 hinos, bailado.
Bailei direitinho, sem problemas.
Ao final do trabalho eu estava super feliz.

23/04/2018 – Dia seguinte ao trabalho
Mas … no outro dia ( segunda feira ) passei o dia todo meio triste por não ter feito um bom trabalho.
Mas por volta das 15:00 … Peraí: eu fiz um bom trabalho. Tive entendimentos importantes sobre exú e pombogira. Não há nada do que se arrepender ou ficar triste. Fiz o trabalho que tinha que fazer naquele dia. Isto é somente mais uma peça que a mente tenta pregar na gente, para voltar para a “comodidade e segurança”.
Avisei a esposa que eu não iria na aula de dança, pois sabia que na hora em que eu chegasse em casa e sentasse na cadeira para meditar, iria receber instruções.
Assim que sentei na cadeira chegou o Seu Tranca Ruas. Veio carregado de poder típico de exú, depois abrandou e falou normalmente pela minha boca:
“Não precisa ter medo de mim. Sente. É o mesmo amor que você experimenta com outras linhas.”
“Estou aqui para lhe dar força e lhe proteger.“
“Não é fácil o meu trabalho. A batalha é grande. A humanidade está nas trevas.“
“Não esmoreça. A sua presença é importante para dar sustentação naquele trabalho ( daime ) que você vai.“
Em vários momentos me chamou de filho.
Depois que ele se foi pedi força para seguir adiante, pedi para que estas forças chegassem mais para perto de mim.
Depois veio uma presença que sabia que era de Ogum. Não falou nada. Fez com os dedos vários desenhos no meu corpo.
Depois veio uma consciência muito amorosa, me tranquilizando, me chamando de filho e me incentivando a continuar no caminho.
Depois senti a chegada de uma presença muito amorosa. Era a Padilha. Tentei visualizá-la na imagem da ex-esposa, pois eu estava acostumado a vê-la nela, mas ela me disse: “Eu não vivo nela. Na verdade não vivo em lugar nenhum. Eu vivo no vento”
Falando na minha mente, me tranquilizava, dizendo que a ex-esposa está passando o que tem que passar, e que só haverá alguma mudança quando o Pai Maior achar apropriado e que ela (a Padilha) não pode jamais ir contra a Lei.
Disse também que eu estava acostumado a vê-la gargalhando, fumando, mas que era o jeito de ela se apresentar e se fazer entender.
E que o trabalho dela era sobre o amor, relacionamentos, vontade de viver.
Depois obtive autorização para deitar, pois estava com dores de cabeça.
Descansei só uns 15 minutos e a esposa chegou.
Levantei e fui ajudá-la a fazer o jantar.
Falei para ela que eu tinha canalizado vários seres e que agora eu estava bem.
Na cozinha, comecei a sentir uma atuação forte e logo senti que era a Padilha.
A esposa percebeu, falei para a esposa que eu tinha que ir no quarto e já vinha. Entrei e fechei a porta sanfonada do quarto.
Logo eu estava totalmente incorporado com esta força da Padilha.
Ela foi até a mesinha do computador e ali pegou uma rosa vermelha de tecido, que a esposa havia deixado ali ( eu nem havia percebido esta rosa ).
A cheirou, acariciou suas pétalas.
Depois fez um trabalho em volta da cama, fazendo círculos com a rosa em uma mão e com a outra também fazendo círculos.
Ouvi a porta do quarto e a esposa entrou para pegar algo, mas nem ela nem eu interrompemos o trabalho da Padilha.
Ela colocou a rosa no meu travesseiro, depois a recolheu e foi dando a volta na cama. A rosa em uma mão, enquanto a outra mão passava pela cama.
Quando chegou no travesseiro da esposa ela deixou ali a rosa e se foi. Mas ainda fiquei um bom tempo sentindo a sua presença.
Terminamos o jantar, jantamos e fomos dormir.
Falei para a esposa que a Padilha havia deixado a rosa lá para ela ( a esposa ) recolher.
Falei para a esposa recolher a rosa e agradecer pelo carinho. Em silêncio ela pegou a rosa e agradeceu.