Relato 12) - Santo Daime: Terra do Sol - Trabalho de São Miguel + Chaveirão - (10/03/2018)
NOTA: Esta igreja fica em Mairiporã-SP (@terradosolreal), tem seus fundamentos na doutrina do Santo Daime, mas não é filiada ao Cefluris (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra). É uma igreja independente
Fomos eu, a esposa e o meu enteado.
O início do trabalho estava marcado para 19:00. Eu gostaria de ter saído às 17:00, 17:30 no máximo, mas acabamos saindo às 18:00.
Fomos pela Estrada de Santa Inês ( sem tarifa de pedágio) e mais rápido. Mesmo assim chegamos lá por volta de 19:20.
Estávamos perto do livro quando o terceiro sino tocou após alguns minutos o trabalho começou (20:00) com 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria, como determinado pelo mestre Irineu
Quando entramos na igreja estava no final das orações. Os fiscais nos posicionaram em nossos lugares e depois chamaram por fileira, para tomar o daime.
Como este é o meu primeiro trabalho da doutrina nesta igreja, o fiscal que serve o daime olhou nos meus olhos, quase na minha alma e serviu meio copo ( copo de vidro, do tamanho do copo do Céu de Maria). Acho que este “olho no olho” determina a quantidade de daime servida.
Daime bom, provavelmente de grau 5 para mais.
Como gostei do lance de comer um pedacinho de maçã após tomar o daime ( no Caminho Sagrado um pedacinho da fruta é servido ) levamos maçãs. Quando cheguei na minha cadeira mordi uma maçã.
A primeira parte do trabalho seria sentado, mas a última, o hinário Chaveirão com certeza seria bailado. Como já disse anteriormente em outros relatos, trabalho bailado para mim não dá. Eu simplesmente não consigo mais cantar, meu corpo para de bailar, e eu entro em outra dimensão. Mas vamos ver. Escolhi esta igreja pelo fato de que mesmo seguindo a doutrina do Santo Daime as regras são mais brandas.
Com os músicos posicionados começou o trabalho, com o hinário Oração. Desta vez não levei os hinários, pois a maioria dos hinos eu já sabia de cor.
Após algum tempo comecei a sentir a força, acho que no momento em que fez-se silêncio por um tempo, sem hinos. Ouvi vozes em sussurros, mas acho que não devia ter gente conversando na sessão, rs. Tenho quase certeza de que ouvi “ele está chegando”.
Comecei a colocar as blusas, pois trabalho de São Miguel é fortíssimo e sinto um frio congelante quando começa a chamada dos mensageiros.
Ultimamente não tenho mais enjoado quando começo a sentir que estou cedendo a consciência ou o controle do corpo e acho isto muito bom. Mas ainda sinto o corpo formigando (principalmente na cabeça), cedendo a consciência e a sensibilidade. Isto me enjoa bastante.
O trabalho recomeçou, agora com os hinos de chamada dos mensageiros de São Miguel. Me torci todo na cadeira, sentindo um frio congelante, que não existe neste plano.
Após a execução do primeiro hino “Com o poder do céu”, o padrinho informou que iria começar o trabalho de cura e quem fosse da cura que se entregasse.
Nesta hora senti muito frio, mais do que já estava sentindo.
Quando eu estava em pé cantando este primeiro hino o irmão à minha frente se estrebuchou na cadeira e começou a vomitar ali mesmo. Virei sua cabeça de lado e segurei seu corpo, para que ele não se engasgasse. Então fiz um sinal ao fiscal que veio levá-lo para fora, enquanto outro vinha limpar o lugar. Engraçado é que ali o vômito não tem cheiro de vômito, rs.
Na primeira nota do hino seguinte:
Eia, vem aqui no meio
Vem aqui com o relho
Eia eu vou chegar
Viva São Miguel que veio
Veio abrir a banca
Lá dos Orixás
Eia, São Miguel que veio
Com balança e espada
Veio pra avisar
Que Jesus Cristo é o dono
Aqui desse terreiro
E é para se entregar
...
Fui tomado de uma vez de uma força avassaladora que quase me levanta da cadeira (tremo todo só em lembrar, rs)
Estava completamente tomado por esta força. Sem nenhuma sensibilidade e nem controle do corpo, totalmente entregue.
Os outros irmãos que fazem trabalho de cura também foram pegos por esta força, cada qual fazendo o seu trabalho.
Sentado, minhas mãos faziam movimentos como segurando uma espada. Tão real (e é real, rs ) que eu podia sentir seu peso!!!.
Os hinos continuavam, inicialmente cantados com mestria pelas puxadoras, depois todos cantavam junto.
Direcionando, transmutando energias, minhas mãos tinham vida própria com aquela espada. Muitas vezes fazendo cara de bravo ( guerreiro ).
Em determinado momento alguém vomitava lá fora e o ser da falange de São Miguel que estava comigo fazia com as mãos tipo ” o que mais?” E aí a pessoa começava a vomitar de novo. Foram uns 3 “o que mais?’. Quando não havia mais nada, ele fez cara de satisfeito. Quase sorriu, rs.
Em determinado hino o fiscal tocou no meu ombro e perguntou se eu poderia ficar em pé. Eu abri os olhos e consegui dizer que não, que meu trabalho de São Miguel é feito todo sentado. Ele compreendeu e se afastou, mas o ser que estava comigo levantou o dedo e como a dizer “Levante”. Então fiquei em pé por dois hinos, depois sentei, junto com os demais.
Este ser pegava alguma energia no ar e com as mãos, entre vários gestos a transmutava
Foi assim durante todo o trabalho com as falanges de São Miguel. Nos hinos que falam “Todos seres que me acompanham, vós queiram me respeitar. Eu sou o chefe desta casa, estou aqui para comandar…”. E “as sete cruzes de São Miguel estão aqui pra te libertar…” ,minha mão direita desenhou sete cruzes no centro do meu peito.
Após este hinário de São Miguel foi aberto o despacho do daime para uma segunda dose ( a primeira é obrigatória, as demais não). Como a mente já estava querendo reaver o controle, fui tomar a segunda dose. Quando abri os olhos tudo estava se mexendo. Fui bem devagar para a fila.
O fiscal que despacha o daime perguntou se eu senti o daime (o mesmo que me serviu a primeira dose). Disse que sim e ele serviu a mesma dose. Chegando no meu lugar procurei na minha mochila a maçã que havia mordido. Como não achei mordi qualquer uma ( tinha 3 maçãs na minha mochila)
Após uma pequena pausa começou a chamada para várias outras falanges de cura, através dos hinos.
Este segundo daime potencializou o que sobrou do primeiro e antes mesmo de os hinos começarem minhas mãos se juntaram junto ao colo, como segurando uma lança. O rosto travado, como de um guerreiro. Às vezes segurava a lança com a mão direita e a esquerda vinha acima da direita, como a conter algo.
Este também foi um momento de muito poder ( e um frio super congelante ). Um poder avassalador tomou conta de mim.
Quando a mente despertava e tentava reaver o controle eu enjoava. Ai este ser feminino com as minhas mãos fazia gesto de pegar estes pensamentos da minha cabeça, juntando os dedos ( os meus ) levou-os a altura até onde minhas mãos conseguiam ir ( eu sentado ) e os deixava cair lá de cima. Ou então fazia com as mãos perto da cabeça “deixa ela (a mente) pra lá”.
Durante todo o hinário de chamada às mais diversas falanges de cura, minhas mãos seguravam uma espada ( incrível, podia sentir seu peso!!! ) e com movimentos com as mãos ( as minhas ) transmutava as energias que ali estava para ser curadas.
Pouco antes de encerrar esta parte para começar o hinário Chaveirão ( do Glauco Villas Boas ) o padrinho abriu para tomar a terceira dose do daime.
Nem precisei pensar. O ser que estava comigo fez gestos de “fica aqui, não vai” e até segurou as minhas pernas, rs. Depois sorri. Aquele sorriso cheio do amor que criou e mantém o Universo.
Foi muito bom isto, é complicado decidir isto com a mente, rs.
Senti então um calor daqueles e comecei a tirar as blusas, ficando só com a camiseta de manga longa, com uma curta por baixo. Coloquei a blusa de capuz no encosto da cadeira e a outra deixei de lado, no braço da cadeira.
Estava morrendo de fome e procurei na mochila a maçã para comer. Não achei nenhuma das duas que já estavam mordidas, então mordi a terceira, kkkk. Depois achei as três. Todas mordidas
De vez em quando eu pensava na blusa (branca) se tinha caído no chão. Aí o ser que estava comigo abria meus olhos virava meu pescoço e dizia “Olha, está aqui. Está tudo bem”. Outras horas sentia uma sede desesperada. É a mente querendo o controle de volta. Ela dança intimamente com o medo e morre de medo de perder o controle.
Encerrou-se então esta parte. Abri os olhos e tudo ainda estava estranho.
O padrinho disse que a última parte do trabalho seria bailado e pediu para colocarmos as cadeiras para fora e sermos rápidos no posicionamento para o bailado.
Mesmo ainda na força eu tinha plena confiança de fazer o trabalho bailado.
Aproveitei para ir cuidadosamente ao banheiro fazer xixi e voltei. O fiscal me posicionou e começamos o trabalho bailado. O Chaveirão tem apenas uns 10 ou 15 hinos.
O trabalho bailado é lindo. Simples, dois passos para cada lado, cantando o hinário.
No primeiro trabalho bailado que fiz foram 6 horas de bailado. Incrível que depois você não sente nenhum cansaço físico. Devemos andar uma maratona, nestes dois para lá, dois para cá, rs.
Bailando e na força. Nos intervalos de um hino para o outro eu começava a entrar em outra dimensão. Mas quando começava o hino eu bailava direitinho.
Terminou o hinário Chaveirão e iniciou-se os hinos de encerramento.
Encerrou-se então o trabalho com 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria, por volta das 04:00
Abraçamos os irmãos mais próximos ou conhecidos e saímos da igreja, eu ainda tonto. Esperamos uns 30 minutos até eu decidir que já podíamos ir.
Fomos até o carro, eu ainda flutuando. Mas assim que liguei o carro acabou-se qualquer desconforto ou tontura. Parece que eu havia dormido 12 horas e ia pegar o carro para passear. Incrível como Eles cuidam da gente, rs.
A volta foi bem divertida, rs. O doido aqui não abasteceu o carro. Ia abastecer na vinda, mas não havia nenhum posto na Estrada de Santa Inês. Eu só tinha 1/4 de etanol no tanque, por isto não quis voltar pela Santa Inês, apesar de ser mais rápido e não pagar pedágio. Eu precisava chegar em um posto, por isto voltamos pela Fernão dias.
Colocamos no maps, mas acabamos tentando ir pelo caminho que viemos. Estava uma neblina incrível, daquelas que você tem que vir com o corpo para fora do carro para ver à sua frente. Acho que por isto os demais irmãos ficaram mais tempo na igreja, rs.
Continuamos devagar e erramos o caminho. Saímos no portão de um outro condomínio e tivemos que voltar. A partir daqui fomos seguindo o maps em meio a neblina e saímos direitinho na Fernão Dias.
O dia seguinte foi normal. Nada de excepcional ocorreu. “Só” aquela alegria, leveza e amor.